Dallagnol vazou informações seletivas para 'controlar mídia' e influenciar delações
Novos diálogos divulgados pelo site The Intercept Brasil nesta quinta-feira (29) mostram que procuradores da Lava Jato utilizaram a imprensa como ferramenta para manipular suspeitos da operação e intimidá-los a fazer delações. A revelação dessas mensagens comprova que o procurador Deltan Dallagnol mentiu ao negar, publicamente, que os agentes vazassem informações sobre os procedimentos da força-tarefa, quando na verdade estavam divulgando "em off" esses conteúdos para imprensa.
De acordo com a reportagem do The Intercept Brasil, Dallagnol participava de todos os grupos que planejavam, discutiam e realizavam esses vazamentos seletivos, além de ter sido responsável diretamente por um desses casos. Ele e o procurador Orlando Martello anunciaram em junho de 2015, em um dos chats privados, o vazamento da informação de que os Estados Unidos iriam ajudar a investigar Bernardo Freiburghaus, um dos operadores da Odebrecht, para repórteres do Estadão. O objetivo era pressionar o investigado a realizar delações.
Deltan Dallagnol – 11:43:49 – O operador da Odebrecht era o Bernardo, que está na Suíça. Os EUA atuarão a nosso pedido, porque as transações passaram pelos EUA. Já até fizemos um pedido de cooperação pros EUA relacionado aos depósitos recebidos por PRC. Isso é novidade. Vc tem interesse de publicar isso hoje ou amanhã,SUPRIMIDO, mantendo meu nome em off? Pode falar fonte no MPF. Na coletiva, o Igor disse que há difusão vermelha para prendê-lo, e há mesmo. Pode ser preso em qualquer lugar do mundo. Agora com os EUA em ação, o que é novidade, vamos ver se conseguimos fazer como caso FIFA com o Bernardo, o que nos inspirou.
SUPRIMIDO – 11:45:44 – Putz sensacional! !!!! Publico hj!!!!!!!
Dallagnol escreveu ao repórter do Estadão contando o caso e perguntou se ele tinha interesse em publicar a história. “Hoje ou amanhã, mantendo meu nome em off. Pode falar fonte no MPF”, disse. O repórter afirma que iria publicar e que a reportagem seria manchete no dia seguinte. Em seguida, Deltan comenta o seu feito no grupo privado com os demais procuradores, dizendo que tentou ler a reportagem, mas não conseguiu. “Amanhã vejo. Vamos controlar a mídia de perto”, afirmou.
Deltan Dallagnol – 20:33:52 – Amanhã cooperação com EUA pro Bernardo é manchete do Estadão
Dallagnol – 20:34:00 – Confirmado
Carlos Fernando dos Santos Lima – 20:55:16 – Tentei ler, mas não deu. Amanhã vejo. Vamos controlar a mídia de perto. Tenho um espaço na FSP, quem sabe possamos usar se precisar.
Depois que a reportagem foi publicada pelo jornal, na manchete principal da capa, Dallagnol comentou no chat que a estratégia, a partir dessa divulgação, seria dizer a Bernardo Freiburghaus que ele “perderia tudo” e “colocar ele de joelhos e oferecer redenção”, em tentativa de fazer o operador delatar outras pessoas. Porém, no final das contas, Freiburghaus não delatou.
Apesar de divulgar essas informações, Dallagnol negou, publicamente, diversas vezes que os agentes da Lava Jato tenham feito qualquer vazamento. Em uma entrevista para a BBC Brasil, após um discurso que ele proferiu em Harvard, em abril de 2017, Dallagnol disse que “agentes públicos não vazam informações” e que a brecha estaria no “acesso inevitável a dados secretos por réus e seus defensores”.
Quando perguntado diretamente se a força-tarefa havia cometido vazamentos, o procurador respondeu: “Nos casos em que apenas os agentes públicos tinham acesso aos dados, as informações não vazaram”.