Pra mostrar a essa gente
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7 de março de 2019
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Sou um apaixonado, de forma incorrigível, pelo Carnaval. E tudo começou na infância com a influência carioca, um menino querendo assistir os desfiles primorosos das escolas madrugada adentro, aprendendo os sambas de enredo históricos e aprendendo a torcer pela Portela, a mais bela Águia de Clara Nunes, Tia Surica, Monarco e Zeca Pagodinho.

Mas esse ano a Azul e Branco de Madureira vai ter que me perdoar, porque vou ter que falar da Mangueira, que no Carnaval mais político dos últimos anos deu uma aula de história aos hipócritas desse país. A Estação Primeira já tinha entrado para a história do Carnaval e da luta política de resistência desse país quando escolheu o samba que conduziu a escola à vitória decretada nessa Quarta de Cinzas de 2019.

Tivesse vencido ou não, a Mangueira marcaria sua posição no Olimpo dos grandes Carnavais. Os versos “Brasil, meu nego / Deixa eu te contar / A história que a história não conta / O avesso do mesmo lugar / Na luta é que a gente se encontra (...)”, que marcam o começo do samba, são mais poderosos do que qualquer discurso de qualquer político já feito nos últimos anos.

Resgatando os índios, os negros e os pobres propositadamente esquecidos, o desfile concebido pelo carnavalesco Leandro Vieira dá um belo tapa na cara da sociedade que até hoje trata a princesa Isabel como a “Redentora”, enquanto os nomes do Dragão do Mar, Luísa Mahin - representada pela divina Leci Brandão no desfile, Luiz Gama, Dandara e Zumbi são constantemente alvos de ações que querem negar que a importância de todos esses para a libertação dos escravos é muito maior do que qualquer integrante da Corte que por 300 anos pisou no “sangue retinto” que o samba fala. “A liberdade é um dragão no mar de Aracati”, diz o samba, e “não veio do céu, nem das mãos de Isabel”.

E do mesmo jeito que tentam apagar, fazer com que até o povo preto desconheça a história de Dandara, que desfilou incorporada na figura de Alcione sentada em um trono que é seu por direito, agora procuram jogar na lama o nome de Marielle Franco. Os energúmenos sabem do tamanho da força dos pretos organizados, a força do Carnaval e das escolas de samba. Não à toa perseguem e tentam acabar com tudo isso há séculos. O problema é que nunca vão conseguir. A história do meu povo é de resistência, de força e de alegria também. Por mais placas que os imbecis quebrem, a imagem eternizada de Marielle é o seu sorriso que abraçava um mundo, destacado nas bandeiras que fecharam o desfile da Mangueira.

Cada vez mais nosso povo está descobrindo que está na hora, “chegou a vez de ouvir as Marias, Mahins, Marielles, malês”. Ouvir e nunca mais esquecer. Salve a Mangueira, salve o Carnaval, salvem os índios, os pretos e pobres do Brasil!

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