Sobre Fernanda Montenegro não querer votar e sobre o ativismo que só milita dentro da bolha
Natal, RN 19 de mar 2024

Sobre Fernanda Montenegro não querer votar e sobre o ativismo que só milita dentro da bolha

22 de março de 2022
3min
Sobre Fernanda Montenegro não querer votar e sobre o ativismo que só milita dentro da bolha

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Fiquei aterrorizado em perceber a reação de muita gente sobre declaração da grande atriz Fernanda Montenegro de que, aos 92 anos, se sentia cansada e que não iria votar, embora tivesse horror a Bolsonaro. Imediatamente, Fernanda começou a ser agredida pelas redes sociais, com direito a palavras de baixo calão e descredibilização de sua trajetória artística. Pior: A maioria desses ataques foi feito por pessoas do espectro progressista, ou seja, gente de Esquerda que se irritou porque a atriz não declarou apoio e voto a Lula.

Tenho medo desse tipo de militância. Que prima pela agressividade, pelos ataques frontais, pela escolha de palavras ofensivas, pelo policiamento e, vale a pena nos determos nisso, pela cobrança a quem está justamente no mesmo campo progressivo.

Porque venho percebido isso há algum tempo; uma parte do ativismo de Esquerda policia justamente as ações e palavras de quem também ou é, ou pelo menos tem tendências progressistas. A pessoa é de Esquerda mas tem simpatia por Ciro Gomes? Leva porrada. Esquerdista que não curte Chico Buarque nem Mercedes Sosa mas adora Anitta e Lobão? Alienado e com péssimo gosto! Progressista que vota em Lula mas tem algumas críticas em relação a ele? Heresia! vai arder no mármore do inferno também conhecido como comentários do Facebook e grupos de Zap!

Enfim, um ativismo que milita dentro de uma bolha, em uma zona de conforto. Não que eu também defenda que a militância entre em confronto, real ou virtual, com bolsonaristas ou gente de extrema-direita, que tende a ser bem mais agressiva. Além de perda de tempo costuma ser ruim para a saúde e os dentes, dependendo da situação. Mas, a militância progressista poderia se dedicar a dialogar com aqueles chamados ´isentos` ou ´apolíticos`. Um pessoal que no dia da eleição vai para a praia sem votar (porque prefere pagar a multa irrisória e que costuma dizer frases banais e vagas como "político é tudo igual, tudo ladrão".

A gente sabe que Bolsonaro foi eleito com 57 milhões de votos, muitos desses já bem arrependidos. E que Fernando Haddad teve 47 milhões de votos. Mas você lembra que foram 10 milhões de votos nulos e brancos (gente que foi até a urna e não quis escolher nem um nem outro) e que o total de abstenções (gente que não chegou nem perto da seção eleitoral) foi de 31.371.704 (ou 21,30% do total de eleitores do país)

Sim, é isso que você pensou: Esse pessoal poderia ter decidido a eleição. E pode decidir a desse ano. Então vamos esquecer os vizinhos bolsominions, o primo evangélico fanático, o amigo que defende os bolsofilhos com paixão; vamos deixar também Fernanda Montenegro em paz e nos concentramos em dialogar com esse pessoal que não votou e não pensa em votar agora. E também nos jovens de 16 a 18 anos que não são obrigados a ter título de eleitor, mas, podem - e devem- faze-lo. Enfim, vamos sair de nossas bolhas de conforto onde é fácil até ofender nossos iguais (ou parecidos e partir para desafios maiores.

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