Pedala Parkinson: A bicicleta como suporte terapêutico para a Doença de Parkinson
Natal, RN 26 de abr 2024

Pedala Parkinson: A bicicleta como suporte terapêutico para a Doença de Parkinson

30 de abril de 2023
5min
Pedala Parkinson: A bicicleta como suporte terapêutico para a Doença de Parkinson

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 Por John Fontenele Araujo*

O mês de abril é dedicado à “conscientização sobre a Doença de Parkinson”. Por isso, aproveitamos este espaço para divulgar a proposta do “Pedala Parkinson”, uma iniciativa para estimular os portadores da doença de Parkinson a usarem a bicicleta como meio de mobilidade. Explicaremos que o hábito de pedalar ajuda na redução dos sintomas da DP e nas condições de saúde em geral destes pacientes.

A doença de Parkinson (DP) é a segunda doença neurodegenerativa mais comum na atualidade, ficando atrás apenas da doença de Alzheimer. É uma doença que aumenta sua prevalência conforme a idade e é um distúrbio que se caracteriza principalmente por sintomas motores progressivos ao longo da doença. Todavia, ocorrem também perturbações cognitivas e emocionais.

Nos últimos anos, tem-se se observado um crescimento mais rápido no número de novos casos. Estudos recentes mostraram que em 2019 tínhamos quase dois milhões de pessoas com DP e que o número de novos casos cresceu em 160% desde 1990. Não sabemos exatamente o que está causando este aumento no número de novos casos, todavia existem alguns candidatos a vilão: a poluição e o sedentarismos são os principais candidatos.

O tratamento e a prevenção da DP é um grande desafio global de saúde, pois a incapacidade decorrente deste distúrbio neurológico é hoje considerada uma das principais causas de incapacidade em todo o mundo. Atualmente temos tratamento apenas para controlar os sintomas e não para eliminar ou barrar a doença.

Em alguns casos grave, o paciente com DP fica incapaz de se locomover, uma condição conhecida como rigidez ou paralisia da marcha. Porém, na primeira década do século XXI o neurologista holandês Anker Snijders mostrou que pacientes com Parkinson eram capazes de pedalar uma bicicleta. Embora os pacientes estivessem incapazes de andarem eles conseguiam pedalar corretamente. Enquanto os pacientes tinham uma instabilidade postural (dificuldade de se manter em pé), eles mantinham o equilíbrio perfeito ao pedalar uma bicicleta.

Para os familiares e para os próprios pacientes com DP tudo parece um milagre. Eles descobrirem que embora tivessem muita dificuldade em andar, eles conseguem andar de bicicleta e que durante o ato de pedalar os sintomas motores são reduzidos ou na maioria das vezes desaparecem.

Vários estudos foram realizados e hoje nós recomendamos para todos os pacientes com DP o uso de bicicleta. Para aqueles que não sabem andar de bicicleta ou que vivem em um ambiente em que seja difícil se locomover em uma bicicleta, sugerimos o uso de uma bicicleta estacionário. Porém, como gostamos de dizer para os pacientes: “pedalar é preciso”.

Além da melhora nos sintomas da DP, o pedalar também promove um benefício cardiorrespiratório, melhorando o estado geral do paciente. Adicionalmente, podendo pedalar, o paciente com DP pode usar a bicicleta para se locomover e ter interação social, podendo se deslocar para ir ao trabalho, visitar familiares, ir à igreja etc. A bicicleta liberta o paciente com Parkinson.

Gosto de citar o caso de uma senhora idoso com doença de Parkinson e que passou apresentar uma dificuldade em escrever. Como ela tinha sido professora, a sua incapacidade de escrever um simples bilhete a deixava muito triste. Após dois meses pedalando três vezes por semana em uma bicicleta estacionaria, os tremores reduzirem e sua habilidade na escrita retornou. Lembro que a bicicleta não substitui os medicamentos, mas é um complemento ao tratamento farmacológico que é fundamental. Se você leitor é portador de DP ou familiar, converse com seu médico ou pode entrar em contato com a gente para orientações.

Uma pergunta que sempre me fazem é se o hábito de pedalar pode ser uma estratégia para evitar o a doença de Parkinson. Sempre respondo que ainda não temos uma certeza sobre este efeito preventivo do pedalar em relação a DP. Todavia, quando olhamos a incidência da doença de Parkinson nos 10 países que apresentam o maior número de bicicleta por pessoas, encontramos uma relação linear mostrando que os países em que mais se pedala há uma menor incidência da DP. Estamos certo, “pedalar é preciso”

Nós que defendemos o uso da bicicleta como um meio de mobilidade ativa e com o objetivo de melhorar a saúde humana e do planeta criamos em diversos locais o Pedala Parkinson, que tem se materializado em grupos de pedais ou mesmo em um dia ao ano para estimular os pacientes com DP no uso da bicicleta. Por outro lado, temos tentado convencer os diversos tipos de gestores públicos do quanto é importante garantir uma estrutura cicloviária segura para que todos possam usar a bicicleta, incluindo os pacientes com doença de Parkinson, pois eles se beneficiam do uso da bicicleta como meio de mobilidade.

Uma cidade em que há condições seguras para o uso da bicicleta será uma cidade com um ambiente mais saudável e com um futuro como menos doentes com Parkinson, por isso, neste mês de abril, “mês dedicado à conscientização sobre a Doença de Parkinson”, estamos divulgando a ideia do Pedala Parkinson. Então, se você é ciclista, busque os grupos de apoio dos pacientes com Parkinson e organize um Pedala Parkinson. Se você é um gestor público, garanta a segurança dos ciclistas com uma estrutura cicloviária ampla e de qualidade.

 John Fontenele Araujo é médico e professor titular da UFRN 
Contato: [email protected]

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