"Se temos boas políticas públicas de fomento ao audiovisual e à cultura, por que não ao jornalismo?", defende presidenta da Ajor
Para a presidenta da Associação de Jornalismo Digital (Ajor), Carol Monteiro, a sociedade precisa apoiar o jornalismo local feito com qualidade no Brasil. A jornalista pernambucana preside desde julho a Ajor, entidade que reúne 114 organizações de mídia nativa digital do país. Ela destaca o trabalho da Associação no fomento e construção de políticas públicas voltadas para o jornalismo. E defende que os governos façam o mesmo:
- Temos uma necessidade de políticas públicas de apoio ao jornalismo. A Ajor tem trabalhado bastante no sentido, que não seja apenas de distribuição de verbas governamentais. Se nós temos excelentes políticas públicas de fomento à cultura, ao audiovisual... por que não ao jornalismo ? Precisamos também ter uma participação maior das organizações filantrópicas no financiamento do jornalismo. Já temos várias organizações brasileiras e internacionais fazendo esse papel, mas precisamos incentivar ainda mais", afirmou.
Fundadora da Marco Zero Conteúdo, sediada em Recife(PE), Carol Monteiro participou nesta quarta-feira (16) do Balbúrdia, o programa no youtube da agência SAIBA MAIS. Além do novo cenário de jornalismo digital brasileiro, ela falou também sobre o mais recente levantamento do Atlas da Notícia, que atualizou os desertos de notícias do país.
Dos 167 municípios do Rio Grande do Norte, 128 não têm cobertura local de notícias, o equivalente a 76,6% das cidades do estado. Os números colocam o Estado potiguar no topo do ranking brasileiro entre os vazios de notícias.
Essa ausência completa de veículos de imprensa fazendo a cobertura local sobre os acontecimentos da cidade é o que se convencionou chamar de deserto de notícias.
“As pessoas têm poucas referências sobre quem procurar para saber o que está acontecendo na sua cidade, no seu bairro. Esse é um problema que acontece no mundo inteiro, mas no Brasil afeta todas as regiões e o Nordeste, em particular”, alerta Carol.
Na avaliação da jornalista, os desertos de notícias no Brasil podem pode ser explicados pela já conhecida concentração das grandes corporações midiáticas nas mãos de poucas pessoas:
“O Brasil sempre teve esse problema de concentração midiática, as famosas sete famílias que controlam a mídia nacional, e a revolução digital traz uma crise para o negócio jornalismo porque com a internet, isso que a gente tá fazendo aqui - uma transmissão ao vivo com várias pessoas podendo falar com todo mundo é maravilhoso e ela fica disponível no youtube, quem não está assistindo agora pode assistir depois – tudo isso que era uma exclusividade para as poucas empresas que tinham essa tecnologia para fazer esse tipo de transmissão, hoje está acessível a empresas menores, como a Saiba Mais, o Marco Zero e muitas outras que temos pelo Brasil. Então a revolução digital favoreceu por esse aspecto, mas por outro acabou impactando bastante no principal modelo de negócio do jornalismo, que é a venda de anúncios e as assinaturas, que nunca foram suficientes para pagar a conta. Com a internet, esses anúncios não vão para os jornais, mas para as plataformas”, esclarece a presidente da Ajor.
Para assistir a entrevista completa: