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Abro meu e-mail, meu zap, as mensagens de redes sociais como Facebook e Instagram e, como diria Nelson Rodrigues em suas crônicas, é batata! Lá estão informações diversas sobre shows, filmes, eventos, exposições, enfim, tudo o que eu gosto, mas muitas vezes com imperativos, fofos, mas ainda assim imperiosos: Compartilhe, curta, divulgue, assine, vá, não perca!
Claro que é uma besteira, uma banalidade em meio a tanta coisa realmente complicada no mundo atual, mas como diz a frase, o diabo está nos detalhes. O fato é que vivemos atualmente recebendo, digamos, ordens virtuais. O amigo envia um convite para show musical, diz data e hora mas deixa claro: você não pode perder de jeito nenhum! Outra pessoa manda informação bacana sobre uma exposição, mas pede: poste em suas redes e em seus stories. Ou seja, tenho que abdicar do que penso em divulgar para divulgar o que a pessoa deseja. Enfim.
Claro que é um signo dos tempos. Atualmente a comunicação interpessoal está mais dinâmica, mais objetiva, mas ao mesmo tempo com uma assertividade que beira a imposição, maquiada com uma "fofura" que torna a mensagem quase passiva-agressiva, se olharmos por um prisma psicanalítico. Esse modelo é visto nas publicidades (explícitas ou disfarçadas) de filmes e livros: 10 comédias QUE VOCÊ NÃO PODE PERDER! Conheça aqui 20 CIDADES QUE VOCÊ EM QUE CONHECER ANTES DE MORRER. Imposições demais.
Mesmo o jornalismo enquanto assessoria vem se perdendo nessa linguagem. Recebo diariamente e-mails com ótimos conteúdos culturais, sociais, tecnológicos etc, com informações úteis e bacanas. Mas no meio, as frases: será divertido, fantástico, inesquecível. Haja adjetivos, veneno para o jornalismo (e mesmo para a literatura) como nos advertia sempre o mestre Hemingway. Quando leio a frase "Você não pode perder!" me pergunto: por que diabos eu não posso perder tal show ou evento x? Quando o "rilise" registra que o espetáculo será inesquecível e emocionante, me pergunto qual a fonte de tanto elogio. O que é emocionante para você pode não ser para mim.
Comunicação é a alma (e a arma) do negócio. Qualquer negócio, inclusive os que envolvem relações interpessoais. Essa cultura da comunicação impositiva me fascina e me perturba. Qualquer dia desses receberemos mensagens dessa forma: "Apresentação tal, dia tal e se você não divulgar e não for não terá mais amizade!" . Tempos além de líquidos, bem assertivos. Sigamos. E lembre que, já que leu até o final, VOCÊ TEM QUE DIVULGAR ESSE TEXTO NOS SEUS GRUPOS DE ZAP (risos).