Guamaré prepara oficina ortopédica totalmente pública
O município de Guamaré, a cerca de 173 km da capital Natal, espera iniciar em breve os trabalhos da primeira oficina ortopédica pública do Rio Grande do Norte, segundo a Prefeitura da cidade. O equipamento vai produzir e reabilitar o usuário que faz, ou precisa fazer, uso de órteses (que auxilia um membro), próteses (que substitui um membro) ou outros meios auxiliares de locomoção como cadeiras de rodas, muletas e bengalas.
A oficina será totalmente financiada com recursos públicos. Em junho do ano passado, o prédio foi entregue mas ainda não começou a funcionar. O motivo, diz a fisioterapeuta e diretora técnica do local, Meyriane Morais, é que alguns materiais permanentes e insumos estão em processo de licitação.
“Já temos todas as máquinas grandes de produção, mas nós ainda precisamos de alguns materiais permanentes e os insumos, e está em processo de licitação”, diz a diretora.
Ainda não há previsão para o início do funcionamento. Morais reconhece a “morosidade”, mas ressalta o pioneirismo da iniciativa guamareense.
“Nós somos a primeira oficina pública. Tem muitas no país, mas de forma filantrópica, que não precisa passar por esse período de licitação para compra, e a gente precisa”, explica, sobre os trâmites burocráticos.
A oficina recebeu mais de R$ 786 mil para a construção, e R$ 549 mil para os equipamentos. A maior parte (R$ 349 mil) foi oriunda do Ministério da Saúde.
O equipamento é adaptado para pessoas com deficiência, possui três espaços de acolhimento, avaliação, medidas e provas para o usuário. Também tem oito salas para produção de Órteses, Próteses e Meios Auxiliares de Locomoção (OPM).
Ainda assim, os moradores de Guamaré já têm acesso parcial aos serviços. Toda dispensação de OPM já é feita no local, sem precisar ir para a rede estadual de saúde. No caso de um paciente que precisa de algum material, o município compra e repassa ao usuário.
Como vai funcionar
Quando estiver tudo pronto, a oficina ortopédica vai atender a todos os usuários da terceira Unidade Regional de Saúde (Ursap), que possui 25 cidades além de Guamaré, e também de outras Ursap do estado.
“Os municípios pactuam quantas cadeiras, quantas órteses, quantas próteses eles vão poder comprar. E aí mesmo a oficina ortopédica de Guamaré sendo da terceira região, ela pode pactuar tanto com a terceira região quanto com os demais municípios”, explica a fisioterapeuta responsável pela oficina.
Cada paciente vai ser direcionado à oficina por meio da atenção básica do seu município.
“O paciente já vem com a solicitação do médico para órtese e prótese ou qualquer OPM, e lá na oficina vão ter os técnicos de órteses e próteses, o fisioterapeuta e vai ser retirada as medidas desse paciente para ser produzida sua OPM”, diz Meyriane Morais.
“Depois, na entrega, ele volta para fazer o processo de adaptação. Se o município for da própria Guamaré, faz o seu processo de reabilitação lá. Se não, faz o processo de reabilitação no seu município”, continua.
CER de Guamaré
Hoje, a cidade já possui o Centro Especializado em Reabilitação (CER), mas os dois equipamentos possuem pequenas diferenças.
No caso do CER de Guamaré, são realizadas atividades de reabilitação física, auditiva e intelectual. O foco na cidade é para atendimento de pessoas no espectro autista, mas também recebe pacientes com AVC, lesão medular, dentre outros motivos.
“Esse paciente chega, passa por uma avaliação com a equipe multidisciplinar, fica sendo atendido no Centro de Reabilitação e não tem um prazo de quando ele vai ter alta”, aponta a diretora.
Já na oficina ortopédica, ao chegar, o paciente tira suas medidas da OPM. Depois disso, o equipamento é produzido e entregue ao paciente, que retorna ao CER para a reabilitação.
“Considere a oficina como um braço do Centro de Reabilitação, mas ele [CER] que pulsa. Tudo acontece dentro dele”, define Morais.
No Rio Grande do Norte, de acordo com a fisioterapeuta, Pau dos Ferros já possui sua própria oficina ortopédica, mas de forma filantrópica. Outros municípios do Brasil, diz ela, também estão recebendo os equipamentos públicos, faltando apenas a habilitação.
“Está sendo um processo um pouco mais difícil, porque todas essas empresas já eram acostumadas a vender os produtos sem precisar participar desse processo de licitação, então é tudo novo. Mas, de uma certa forma, o fluxo em si a gente já tem muito bem desenhado”, afirma a profissional.