Bloco ‘Os Cão’ transforma lama em fantasia e animação na Redinha
Natal, RN 9 de mai 2024

Bloco ‘Os Cão’ transforma lama em fantasia e animação na Redinha

14 de fevereiro de 2024
5min
Bloco ‘Os Cão’ transforma lama em fantasia e animação na Redinha
A lama do mangue é a fantasia do bloco ‘Os Cão’, que, há 50 anos, sai pelas ruasda Redinha. Foto: Evandro Gomes

Ajude o Portal Saiba Mais a continuar produzindo jornalismo independente! Apoie com qualquer valor e faça parte dessa iniciativa.

Quero Apoiar

Bem cedo, logo nas primeiras horas da manhã, os manguezais, que se encontram abaixo dos pilares da ponte Newton Navarro, na praia da Redinha, passam por um rebuliço atípico, mas já comum em épocas de carnaval na capital potiguar. A quietude do mangue é quebrada com a chegada, aos poucos, de famílias, veranistas, residentes locais e até turistas - todos foliões de um mesmo bloco em busca de fantasia para tomar o corpo e desfilar no carnaval, a lama.

‘Os Cão’ sai pelas ruas da praia da Redinha, em Natal, na terça-feira de carnaval. Fotos: Evandro Gomes.

Esse é um ritual essencial para a saída do bloco ‘Os Cão’, que toma as ruas do bairro com irreverência e muita criatividade. Uma tradição que já dura mais de meio século e que se tornou um dos blocos mais democráticos e tradicionais do carnaval da cidade.

Neste ano, o bloco Os Cão seguiu a mesma penitência animada de anos anteriores e colocou uma horda de aproximadamente 8 mil integrantes, segundo estimativa dos organizadores, para pular e dançar ao som do frevo e de antigas marchinhas carnavalescas. Antes da saída, um tempo maior gasto na concentração do bloco, no entorno da rua Maruim, um momento crucial no dentro do mangue para a preparação final do banho de lama e também para dar os últimos retoque na fantasia natural, que, alguns dizem, fazer bem para a pele.

É nessa hora que alguns pedem ajuda uns dos outros na incorporação da fantasia, deixando todo o corpo completamente coberto pela mistura escura. Outros capricham improvisando os acessórios com pedaços de galhos da vegetação do lugar. O que vale é a criatividade. Claro, os adereços mais comuns são os chifres, que em meio ao escuro da lama ressecada ao corpo, remetem à figura do demônio, personagem a que o nome do bloco faz, em algum momento, alusão. Após umas três horas, já no fim da manhã, o bloco mostrou a que veio e desfilou pelas ruas da praia da zona Norte, melando os que desejavam se integrar ao cortejo, conduzido por uma orquestra de frevo. 

"Os Cão” é democrático porque não exige abadá, camiseta, pulseira ou qualquer artefato comercial para participar. Aliás, quanto menos roupas, melhor. O diferencial desse bloco é que os foliões se cobrem de lama e invadem as ruas da Redinha com muita irreverência e criatividade.

É com essa fantasia de lama, marca registrada do bloco, que a cada ano  os participantes saem pelas ruas mostrando toda a animação.

O Bloco "Os Cão" é considerado Patrimônio Imaterial e Cultural de Natal, pela Lei nº 7.192, aprovada pela Câmara Municipal do Natal em 2021. A tradição teve início em março de 1964, quando cinco foliões, incluindo o fundador de codinome Zé Lambreta, saíram às ruas da Redinha enlameados e batendo em latas para fazer o seu som.

O nome do bloco surgiu de forma espontânea, quando os espectadores viram os amigos chegando pintados de lama e perguntaram do que se tratava aquela procissão. Em ironia, outros moradores responderam: “É os cão”, em referência ao próprio diabo. O nome “Os Cão” também se explica por uma expressão popular que se refere ao uso coloquial da palavra "cão" como sinônimo de pessoa ou indivíduo, ou até a expressão “cão chupando manga”, que pode ser atribuída a alguém com aparência exótica. Portanto, o nome "Os Cão" representa a alegria, a diversão e a descontração característica desse bloco carnavalesco.

Desde então, o bloco cresceu e se tornou uma das principais manifestações culturais da região, atraindo foliões de todas as partes de Natal para sua folia irreverente e gratuita. O trajeto do bloco inclui a avenida marginal da ponte, em direção ao posto de combustível, e a avenida João Medeiros Filho, com destino ao Largo João Alfredo (lateral da Igreja de Pedra). 

As mais quentes do dia

Apoiar Saiba Mais

Pra quem deseja ajudar a fortalecer o debate público

QR Code

Ajude-nos a continuar produzindo jornalismo independente! Apoie com qualquer valor e faça parte dessa iniciativa.

Quero Apoiar

Este site utiliza cookies e solicita seus dados pessoais para melhorar sua experiência de navegação.