Dengue: RN ultrapassa mil casos prováveis em 2024 e inicia vacinação
A dengue, doença transmitida pelo mosquito Aedes aegypti, está no centro das atenções sanitárias do Brasil após ultrapassar meio milhão de casos em 2024 e o país deu início à vacinação contra a doença. No Rio Grande do Norte, o cenário preocupa, embora não seja de emergência. De acordo com a Secretaria de Estado da Saúde Pública (Sesap), nas sete primeiras semanas do ano foram notificados 1135 prováveis de dengue - até a sexta-feira (16). Nesse início de ano, não há registro de óbito pela doença no estado.
A coordenadora de vigilância em saúde do RN, Diana Rego ressalta que 130 casos foram efetivamente confirmados. E, na sexta, quatro pessoas estavam internadas em todo o estado por causa da dengue. “Ainda não percebemos pressão no sistema de assistência hospitalar, mas o cenário é de aumento importante”, pondera.
O DataSUS aponta que de 2014 a fevereiro de 2024, mais de 215 mil casos prováveis foram contabilizados no estado. Nesse período, percebe-se bastante variação do número de casos a cada ano, com baixa significativa nos anos de pandemia, 2020 (6.856) e 2021 (3.842). Já em 2022, o quadro foi de alta de casos (42.164). Assista ao vídeo abaixo para conferir os números completos!
A especialista explica que a doença é cíclica e existem anos epidêmicos de acordo com alguns contextos. Em 2022, houve retorno da população às atividades pós-pandemia e fortes chuvas, o que contribuiu para o aumento da contaminação no Brasil.
“Em 2024, temos dois fatores importantes: mudanças climáticas (ontem à noite a gente tinha chuvas no estado e hoje sol forte) - a condição ideal para a reprodução do mosquito; retorno da circulação dos quatro tipos de dengue simultaneamente. Pelo comportamento do vírus, nem sempre a gente tem a proliferação de todos os sorotipos.”
De acordo com informações do Ministério da Saúde, o ano de 2010 foi o mais crítico da história, com aproximadamente um milhão de casos notificados.
Vacinação e outras formas de prevenção
O Rio Grande do Norte recebeu na quinta-feira (15) o primeiro lote da vacina contra a dengue, com 45.190 doses. Esta primeira fase da campanha de imunização atenderá crianças de 10 a 11 anos de 19 municípios: Natal, São Gonçalo do Amarante, Macaíba, Extremoz e Parnamirim, na Região Metropolitana; Mossoró, Baraúna, Apodi, Upanema, Tibau, Governador Dix-sept Rosado, Felipe Guerra, Caraúbas, Serra do Mel, Areia Branca, Messias Targino, Grossos, Janduís e Campo Grande, no Oeste Potiguar. A capital potiguar inicia na segunda-feira (19) a aplicação.
A escolha das cidades foi feita pelo Ministério da Saúde, considerando a população, a classificação de alta transmissão de dengue do tipo 2 (que causa infecções mais graves) no município selecionado e em cidades no entorno deles, formando um tipo de cinturão protetor.
O Brasil é o primeiro país do mundo a incluir essa vacina no calendário nacional de imunização. A imunização é feita com duas doses aplicadas com intervalo de três meses.
“A vacina vem como mais um recurso de controle de prevenção do adoecimento da população. Entretanto, vem como medida a longo prazo. Esperamos que em aproximadamente dois anos a gente tenha uma boa cobertura com a vacinação e possa falar em proteção contra a dengue.”, avisa Diana Rego.
Diante desse extenso prazo, com escassez de vacinas e testes em andamento para públicos em outras faixas etárias, a gestora em saúde alerta sobre a importância do controle vetorial.
“A vacina protege, mas não vem para todas as pessoas. O mosquito também transmite outras doenças. Então, o mais importante é ter cuidado com as nossas casas, com o armazenamento de água e o uso de repelente principalmente para gestantes.”, destaca.
Todo local de água parada deve ser eliminado, porque é onde o mosquito transmissor coloca ovos. O Ministério orienta que a população deve evitar acúmulo de inservíveis, não estocar pneus em áreas descobertas, não acumular água em lajes ou calhas, colocar areia nos vasos de planta, cobrir bem tonéis e caixas d’água e receber a visita do agente de saúde.
Sintomas, diagnóstico e tratamento
Os sintomas de dengue, chikungunya ou Zika - todas transmitidas pelo mesmo mosquito - são semelhantes: febre de início abrupto acompanhada de dor de cabeça, dores no corpo e articulações, prostração, fraqueza, dor atrás dos olhos, erupção e coceira na pele, manchas vermelhas pelo corpo, náuseas, vômitos e dores abdominais.
A orientação dos profissionais é para que ao surgirem os primeiros sintomas, o paciente procure o serviço de saúde mais próximo. A doença pode ser assintomática ou pode evoluir até quadros mais graves, como hemorragia e choque. A doença tem duração de até 10 dias, mas o período de convalescença pode ser de grande debilidade física e se prolongar por semanas.
Diana detalha que o exame oferecido na rede pública é o RT PCR, padrão ouro pra diagnóstico. “O resultado é liberado em no máximo 72 horas.”
Não há medicamento específico eficaz contra o vírus da dengue. O tratamento é feito com analgésicos e antitérmicos e pode ser feito em casa, sob orientação médica. Há indicação de hidratação e não devem ser usados remédios com ou derivados do ácido acetilsalicílico (AAS) e anti-inflamatórios derivados (como a dipirona), por aumentar o risco de hemorragias. Já a dengue hemorrágica deve ser tratada em internação hospitalar.
Mais estudos
O Ministério da Saúde iniciou, na sexta-feira (16), um estudo para avaliar a efetividade da vacina na população adulta. A iniciativa é realizada em Guaratiba, zona oeste do Rio de Janeiro. A pesquisa vai imunizar 20 mil pessoas voluntárias, entre 18 e 40 anos de idade, residentes da região e com cadastro ativo em uma das 10 unidades locais de Atenção Primária. O objetivo é comparar a incidência de infecção sintomática de dengue em um grupo vacinado com a incidência entre não vacinados. Com isso, será possível medir a efetividade do imunizante na prevenção de casos sintomáticos de dengue por qualquer sorotipo. O estudo, realizado em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e com a Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro, vai oferecer novas evidências científicas para subsidiar a tomada de decisão na vacinação dos demais públicos aprovados pela Anvisa, da faixa etária de 4 a 60 anos.