Paulinho Freire quer, precisa e merece a posição de candidato da extrema-direita, que ocupa com sofreguidão ao assumir a pré-candidatura à Intendência de Natalópolis. Tem o direito. Ele quer porque não há outra faixa disponível no espectro ideológico polarizado entre Carlos Eduardo Alves e Natália Bonavides; precisa porque, sem arrastar o bolsonarismo selvagem, ficaria sem impulso de partida; e merece porque nada seria mais coerente com sua tipologia política, construída em partidos e com ideias de direita.
Ao fazer do açodamento um método, no episódio da assunção, Freire cumpriu com o preceito de não deixar espaço vazio em política. Sob bênçãos de Rogério Marinho, antecipou-se ao vou-não-vou de Álvaro Dias e ao engate do União Brasil na garupa de Alves e empinou seu cavalinho de pau acima dos concorrentes. No processo, obrigou o ex-senador José Agripino a engolir de volta antipatias e reservas, confessadas de público, quanto à coabitação com Marinho. E agora pode jurar por aí que é, foi e será sempre avatar do já ido. É convicção – e o preço a pagar para pelo selo de aprovação dos patriotas.
A escolha de Paulinho embute avaliação que é, ao mesmo tempo, uma aposta de margem incerta: a polarização reinante desde a urnas de 2018 ainda será o principal elemento de formação do voto em 2024. Há controvérsia: em eleição municipal, a proximidade dos temas tenderia a engolir generalidades ideológicas. Entre uma e outra assertiva, Freire cumpre a liturgia da função, ocupando a mídia, atacando ali, recuando aqui, mas sempre a braços com a direita, cortejada e afagada em agendas que o veraneio torna mais frívolas.
Ele parece à vontade na pele de bicho-ruim do bolsonarismo. Não deixa transparecer trauma ou hesitação em ser o que outros foram por uma primavera e não ousam repetir. Cumpre as demandas obrigatórias na estratégia de quem ainda precisa de se apresentar, a despeito dos mandatos cumpridos. Demarca terreno com a esquerda, tenta arrastar Alves para o mesmo leito de Bonavides. Proclama e retroalimenta os lugares-comuns dos coisos, soprando as cinzas para reavivar as brasas do bolsonarismo. Há em tudo certa desfaçatez, porque, ao nível federal, mantém alinhamento com o petismo, chancelando 60% das proposições do governo Lula. Mas, quem nunca não?