Projeto Africores leva hiphop para Comunidade da África na ZN de Natal
O projeto sociocultural “Africores”, do movimento cultural Nossos Valores, leva arte, hiphop e lazer para crianças, jovens e adultos da Comunidade da África, na Redinha, Zona Norte de Natal. A ação e espaço nasceram em 2016, quando artistas de grafitti chegaram na comunidade levando cor, hiphop, atividades sociais e culturais para os moradores da região.
Miguel Carcará, rapper, artista do grafitti, pedagogo, educador popular e coordenador do projeto, explica que o Africores surgiu com o intuito de realizar formações e mutirões de grafitti na comunidade.
“O Africores realiza formação na área do graffiti, break e tranças afro para 45 crianças, adolescentes e mães da comunidade. O nosso maior desafio é a captação de recursos para desenvolver as atividades.”, pontua o coordenador. “Problemas estes enfrentando por várias iniciativas semelhantes a nossa. Nossas atividades acontecem na nossa sede, que fica localizada na Travessa Gameleira, 20, na comunidade da África, na Redinha”, completa.
O Africores é um projeto que leva a cultura do hiphop para a Comunidade, como forma de educar e resistir essa população, que é esquecida pelo poder público, assim como o resto da Zona Norte de Natal. O projeto tem até trabalhos voluntários que são reconhecidos pelo Ministério da Cultura.
As atividades do Africores tem dois meses formação e acontecem de segunda a quinta, das 14 às 17h, na Comunidade da África. Aos sábados, as oficinas de dança acontecem das 14h às 16h.
Hiphop cultura de periferia
O hiphop é originalmente uma cultura de periferia e pode ser dividido em 4 pilares principais, como o Rap, os MCs, o Breaking e o Grafitti. Inclusive, o Breaking Dance, praticado pelos B-boys e B-girls, vai estar nos Jogos Olímpicos de Paris deste ano como uma dança esportiva.
“O hip hop é fruto das comunidades, assim como o Movimento Cultural Nossos Valores. No Africores, nosso papel é amenizar as mazelas sociais direcionadas para o nosso povo, promovendo o resgate humano e a dignidade da nossa cultura e arte”, aponta o coordenador do projeto.
Por ser um movimento de periferia, o hiphop sofre estigmas e preconceitos
Mesmo com todos os avanços sociais, os movimentos pretos e periféricos ainda são perseguidos pelo restante da sociedade. Com o hiphop não é diferente. Na Zona Norte de Natal, especialmente o movimento sofre escancaradamente com a violência policial e com o abandono do poder público da capital.
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Já o grafitti, base de formação do projeto, é uma expressão cultural que acontece em espaços públicos. E é por isso, que ainda hoje, a arte é confundida com depredação, vandalismo e danos aos patrimônios públicos. Isso também acontece devido ao preconceito direcionado ao movimento, uma vez que esses artistas denunciam desigualdades sociais, políticas e questões sociais que atravessam a vida de moradores da periferia
“A valorização do nosso trabalho é feita por nós mesmos. Buscamos dentro de nós a inspiração para continuar todos os dias buscando a melhoria para nossa comunidade.”, aponta o educador.
É importante lembrar que, no final de 2023, policiais militares invadiram a sede do projeto e, segundo denúncias, eles teriam arrombado um janelão que fica nos fundos do prédio depois de uma abordagem a jovens em frente à sede dos projetos. “Recebi ligações e mensagens de várias pessoas avisando da invasão. Não tem justificativa, ficamos sem entender. As pessoas conhecem nosso trabalho, é um espaço voluntário, além dos projetos, desenvolvemos várias ações no local, como distribuição de cestas básicas, vale gás... é um espaço que é cuidado por todo mundo”, lamentou Miguel Carcará, na época, em entrevista à Saiba Mais.
Projeto preciso ser mais visto e valorizado
O projeto Africores acontece por meio da Lei de Incentivo Câmara Cascudo e também recebe patrocínio da Cosern. No entanto, no restante do ano, os voluntários do Nossos Valores se mantém por voluntariado e de forma colaborativa. “Em relação a recursos financeiros, o trabalho ainda precisa ser melhor visto é mais valorizados. Pois o Africores, hoje, acontece através da Lei de Incentivo Câmara Cascudo e patrocínio da Cosern, com o período de 3 meses, mas no restante do ano acontece de forma colaborativa e voluntária , como é o caso de muitas iniciativas aqui no nosso estado”, finaliza o rapper.
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