Artistas de Graffiti levam resistência e cor para Zona Norte
O grafitti é uma expressão cultural que promove e valoriza o trabalho e a vivência de pessoas que são esquecidas da sociedade. Sendo considerado um dos 4 pilares do Hip Hop, o grafitti ainda sofre as mazelas e os preconceitos de uma arte original de periferia.
“Todos que estão envolvidos nessa arte sabem que o grafitti é muito mais do que tinta na parede”, ressalta Erre, artista multicultural e um dos fundadores do coletivo MAR (Movimento Arte de Rua), que promove luta, resistência e colore as ruas da Zona Norte de Natal com grafittis.
O grafitti é uma expressão cultural que acontece em espaços públicos. Por isso, ainda hoje, a arte é confundida com depredação, vandalismo e danos aos patrimônios públicos. Isso também acontece devido ao preconceito, uma vez que os artistas denunciam desigualdades sociais, políticas e questões sociais que atravessam a vida de moradores da periferia. O Hip Hop, especialmente na Zona Norte de Natal, sofre escancaradamente com a violência policial e com o abandono do poder público da capital.
É comum relembrar episódios de repressão e censura da arte. Em agosto de 2023, um jovem MC levou um tapa no rosto enquanto participava de uma batalha de rimas no Conjunto Gramoré, na Zona Norte de Natal. E esse não é um caso isolado, a juventude preta, pobre e periférica lida cotidianamente com esse tipo de situação. Na época, o Cientista Social e organizador da batalha clandestina e produtor cultural, Aleson da Cruz, enfatizou a Saiba Mais que “todas as manifestações culturais pretas sofreram repressão e com o hiphop não seria diferente…O hiphop é um cultura preta que nasceu nas ruas. Então, a gente sempre vai sofrer repressão”.
O grafitti como arte que resiste
Erre começou a trabalhar com grafitti em 2014, através de mutirões que aconteciam nas periferias de Natal. De início, ele apenas acompanhava a arte fazendo registros Depois disso, começou a aprimorar suas habilidades e passou a viajar o Brasil conhecendo outras artes urbanas. Como já desenhava, quando voltou a Natal, Erre foi acompanhando o cenário potiguar que ia crescendo pouco a pouco.
“Quando fui amadurecendo os traços já peguei logo um trabalho grande no mural do Sesc Cidade Alta, em 2018. Foi quando fiz uma arte toda somente com spray pela primeira vez, pois o material sempre foi difícil, mas isso não impede a criatividade do artista brasileiro. Até instiga mais ainda, como vemos grandes exemplos da arte que no Brasil se adapta às suas condições e cria sua própria estética”, conta Erre explicando como os artistas precisam se adaptar às condições que são impostas.
O artista, que atualmente vive em Extremoz, vê dois caminhos para o Grafitti. O primeiro é aquele criado pela grande mídia, que pega pequenos grupos de artistas e impõe aquele tipo que arte que vai ser mais “aceita”. E o segundo, é a cultura do Grafitti em sua essência, às margens do sistema, e que se mantém forte e só cresce como uma imensa rede de apoio nacional e internacional.
“São diversos estilos que se unem para fazer arte nos muros erguidos e locais onde o próprio sistema abandona, seja por simples falta interesse ou pela especulação imobiliária e outros fatores sociais”, explica.
Depois da revitalização do Beco da Lama, onde vários artistas do grafitti puderam realizar seus trabalhos no local, o cenário potiguar começaria a mudar.
“Lá todos pintaram no ‘0800’ [de graça] como forma de marcar presença e mostrar nossa existência”, lembra Erre. “A Funcarte começou a viabilizar alguns trabalhos através do credenciamento e em paralelo às organizações de coletivos começaram a se fortalecer”, completa.
Foi nesse cenário que nasceu o Coletivo Mar (@mar.graffitirn), feito por artistas da Zona Norte, que tinha a necessidade de garantir espaço e levar grandes murais de grafittis para a região e unir artistas de todos os locais. Erre Rodrigo, Lucas MDS, Enaz, Emanoel Aquila, Rasta Gustavo, Joel Quem? e Palhares compõem o coletivo e juntos já fizeram mutirões de grafitti nos Conjuntos Pantanal, Jardim Progresso e Nova Natal. Além de pintar escolas, como a Escola Municipal Professor Antônio Fagundes, em Lagoa Azul. Vale destacar os festivais, que mesmo com pouco recursos, ampliam e valorizam potências, como o festival AcordaRua, realizado na comunidade Dom Pedro, no Pajuçara.
“Lá pintamos várias casas e trouxemos outras atividades, reunindo os demais elementos do Hip Hop, coisa que os grupos estão fazendo bastante. Realizar sempre que possível esses eventos com apoio ente si, ou seja, graffiti levando DJs, Bgirls e BBoys, MCs e Rappers para seus eventos, assim como outros eventos, as batalhas de MC ou de Breaking convidam os artistas do graffiti para participar e por aí vai. Não é à toa que a cultura do Hip-Hop comemora seus 50 anos no mundo e 40 aqui no Brasil”.
O hiphop pode ser dividido em 4 pilares principais, como o Rap, os MCs, o Breaking e o Grafitti. O Breaking Dance, praticado pelos B-boys e B-girls, vai estar nos Jogos Olímpicos de Paris deste ano como uma dança esportiva.
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Essa reportagem faz parte do projeto "Saiba Mais de perto", idealizado pela Agência SAIBA MAIS, e financiado com recursos do programa Acelerando Negócios Digitais, do ICFJ/Meta e apoio da Ajor.
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