“Vamos Lalunar?”: Bar LGBT+ em Natal vira tema de pesquisa
Natal, RN 4 de mai 2024

“Vamos Lalunar?”: Bar LGBT+ em Natal vira tema de pesquisa

21 de abril de 2024
5min
“Vamos Lalunar?”: Bar LGBT+ em Natal vira tema de pesquisa
Foto: Luana Tayze

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Um bar que já virou até verbo: “vamos lalunar” ou “quem vai lalunar hoje?” são frases frequentes na boca de quem vai até o La Luna Bar e Petiscaria, espaço LGBT fundado em 2017 que funciona na Praça da Guerreira, zona sul de Natal. De tanto sucesso, o bar também virou tema da dissertação de mestrado na UFRN.

“Noites no La Luna: movimentos e experimentações em uma praça por LGBTQI+ em Natal-RN” é o título do trabalho de Lucas do Nascimento Santos, apresentado no Programa de Pós-graduação em Antropologia Social da UFRN.

Lucas é formado em Gestão de Políticas Públicas e, no seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), em 2019, já havia estudado o La Luna. 

“Na minha graduação eu tive contato com um debate sobre direito à cidade e foi a partir disso que veio a vontade de pesquisar o La Luna. Tava querendo entender o funcionamento da cidade, a gestão dessa dinâmica urbana, e aí me veio a ideia de juntar isso com o recorte LGBT, de gênero e sexualidade, porque eu fazia parte do movimento estudantil, militava dentro do movimento LGBT também, tinha esse contato, um certo ativismo, e o momento do TCC é um momento bem complicado na graduação. Foi meu primeiro contato com o trabalho acadêmico naquelas dimensões, e eu quis fazer uma coisa que estava mais próxima da minha realidade. Então veio essa vontade de pesquisar um lugar que eu achava que para mim se configurava como singular por ser um espaço público que a galera LGBT tava frequentando”, aponta.

O La Luna é um espaço simples: funciona no meio da Praça da Guerreira (próxima à passarela de Neópolis). Ao céu aberto, é facilmente identificado pelas suas paredes roxas. Seja nas mesas ou nos bancos da praça, recebe um público fiel de quinta-feira a sábado. Há quem vá para beber ou comer; outros, vão em busca somente de encontrar os amigos. A abertura do bar, em 2017, ajudou a transformar o espaço daquela praça, dando um outro uso para o que ela havia sido inicialmente projetada, como aponta o pesquisador no seu texto:

“Podemos pensar vários exemplos de equipamentos e espaços que ganham outros significados e usos diferentes daqueles projetados pelo conhecimento técnico e burocrático do planejamento urbano. Ruas que se transformam em espaços de festa e permanência, de comércio, que são ocupadas por diferentes sujeitos/as em diferentes temporalidades, praças que se transformam em pista de obstáculos para diversos esportes, lugares pensados para sociabilidade que viram vazios urbanos. Neste horizonte, se faz possível captar as movimentações e os caminhos que levam o público do La Luna a ocupar aquela praça durante determinadas noites da semana.”

Durante o processo de produção da pesquisa, Santos intensificou suas idas ao bar, procurando ver e ouvir aquelas pessoas que frequentavam o bar. 

Foto: Lucas do Nascimento Santos

“Quando eu falo sobre outros usos de espaços públicos ou de outros equipamentos urbanos, penso a questão do La Luna porque como foi relatado pelos meus interlocutores e interlocutoras e algumas pessoas da vizinhança, aquela praça antes do La Luna estava meio abandonada. Tinha entulho, suja, tava escuro e era sinônimo de perigo para muitas pessoas que passavam por lá. E essa estava sendo a gestão do espaço, não tinha o interesse de modificar isso. E se modifica com a chegada do La Luna e a chegada do público do La Luna que movimenta aquilo tudo”, destaca, em entrevista à Agência Saiba Mais.

Desde então, o local passou a ser frequentado e reivindicado, não somente como bar e petiscaria, mas como um espaço político. Em 2021, o La Luna recebeu até a deputada federal Natália Bonavides (PT) e a ex-candidata à vice-presidência Manuela D'ávila (PCdoB) para um debate sobre política e violência de gênero. 

Em seus dias comuns, tem também eventos relacionados à cultura ballroom —  uma forma de expressão artística LGBTQIAP+ que nasceu nas comunidades negras e latinas de Nova York, na década de 1980, com atividades que envolvem competições de dança, performances, moda e música.

O bar recebe também uma feirinha e é palco para apresentação de diferentes músicos LGBT de Natal. 

“Eu acho aquele espaço singular e me vem essa reflexão primeiro pela falta de acesso e de disponibilidade de outros espaços parecidos para a galera LGBT. E aí quando eu falo para as pessoas LGBT, um espaço disponível para elas, não é um espaço de uso exclusivo para pessoas LGBT, mas um espaço que essa população se sinta confortável e segura de estar presente, que é o que é me relatado no caso do La Luna”, aponta Lucas do Nascimento Santos.

Tanto a dissertação de mestrado “Noites no La Luna: movimentos e experimentações em uma praça por LGBTQI+ em Natal-RN” quanto a monografia "'Vamos lalunar?"': experimentações do espaço público em Natal-RN" são de acesso público e estão disponíveis no repositório institucional da UFRN.

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