É possível ainda rir ?
Natal, RN 30 de abr 2024

É possível ainda rir ?

9 de junho de 2020
É possível ainda rir ?

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Eis então o mês de junho, (sobre)vivemos agora em meados deste famigerado ano de 2020 e a pergunta que ocorre é: ainda é possível rir?

Sim, parece impossível, mas ainda somos capazes. E rimos. Rimos de raiva, inclusive, rimos para resistir. Rimos com Dahmer e Duvivier, com Sarttori e Suricato, com Adnet e Astrogildo, com Bulgakov e Brum, rimos e teimamos e, mesmo com toda revolta – ou justamente por causa dela – ousamos esboçar um riso.

Houve uma vez – e ainda há – uma concepção de mundo, escrita, por exemplo, na obra “Filebos”, de Platão – que condenava, dentre outros prazeres, o riso. Nesse diálogo, Sócrates quis porque quis nos convencer de que rir é errado e depois o cristianismo, claro, embarcou nesse erro, explorando a alegria como culpa. Naquela visão, rir implicaria, supostamente, dois problemas – se o objeto (coisa, ser) no mundo é risível, é que ele é falho e feio; e, assim, consequentemente, o sujeito ridente também seria feio e falho, por não ser nobre o suficiente para ignorar/perdoar tal defeito. Mais ou menos por aí...

Calma aí, meninos... Rir é também desabafo, resposta e devolução. Rir pode ser também revolução! Se o mundo é cruel, posso reagir diante da crueldade (que também pode se expressar via riso, infelizmente) com um exercício de atitude e estratégia, posso fazer uma piada ou um meme, posso ser, minimamente, inteligente. Uma piada ou meme que, sendo humor, ponha dada ordem em suspenso, questione, rebata... Pode-se dizer que Castelo Branco só usava gravata quando estimulado por uma dedada, pode-se dizer que a única parte de Bolsonaro que presta é a hemorroida... Se o mundo e o país parecem uma merda, resta para nós, reles mortais, rir.

Como diriam anarquistas de outrora, sejamos realistas: peçamos o impossível.

Para quem tiver interesse, esse papo continua em uma live, junto com o Prof. Dr. Sírio Possenti (IEL/UNICAMP), no dia 10 de junho, às 14h, no projeto “Discurso em Tempos de Pandemia”, ciclo de conferências promovido pelo Laboratório de Estudos Epistemológicos e de Discursividades Modais da UFSCar. Uma tarde para entender que rir é coisa séria.

Mais informações:

[email protected]

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