Governo quer punição criminal de jornalistas que publicaram charge de Bolsonaro
Natal, RN 30 de abr 2024

Governo quer punição criminal de jornalistas que publicaram charge de Bolsonaro

16 de junho de 2020
Governo quer punição criminal de jornalistas que publicaram charge de Bolsonaro

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Por Congresso em Foco

O ministro da Justiça e Segurança Pública, André Mendonça, comunicou que pediu à Polícia Federal e à Procuradoria-Geral da República a abertura de um inquérito para investigar a publicação de uma charge pelo jornalista Ricardo Noblat. Na ilustração, feita por Renato Aroeira, é utilizada uma suástica, símbolo nazista, para criticar o presidente da República Jair Bolsonaro.

Em uma publicação feita nesta segunda-feira (15), nas redes sociais, o ministro argumenta que o pedido da investigação se enquadra na Lei de Segurança Nacional  (veja a íntegra), que "trata dos crimes contra a segurança nacional, a ordem política e social" e cita o artigo 26, que prevê a pena de reclusão de um a quatro anos para quem "caluniar ou difamar" o presidente da República, do Senado, da Câmara ou do Supremo Tribunal Federal (STF).

Na publicação, Mendonça também afirma que a charge faz uma "alusão da suástica nazista" a Bolsonaro. Pela manhã, a Secretaria Especial de Comunicação Social da Presidência da República (Secom) utilizou o perfil oficial nas redes sociais para comunicar que Noblat e Aroeira responderão pelo crime de "falsa imputação" por terem associado, sem provas, Bolsonaro ao nazismo.

"O senhor Ricardo Noblat e o chargista estão imputando ao Presidente da República o gravíssimo crime de nazismo; a não ser que provem sua acusação, o que é impossível, incorrem em falsa imputação de crime e responderão por esse crime", publicou a secretaria no Twitter.

Ao Congresso em Foco, Noblat disse que cabe à Justiça analisar se houve crime:

"Acho que a Justiça saberá examinar e distinguir o que é o direito à expressão de pensamento e o que é o cometimento de um crime em nome da liberdade de expressão."

Ele também analisou a reação às críticas demonstradas na charge como algo comum de um governo autoritário:

"Não é de se estranhar que o governo reaja assim a tudo que o incomoda porque é claramente um governo autoritário e que aposta o tempo todo na ruptura democrática", concluiu.

Em nota, a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) diz que ameaças "não calarão" quem defende a liberdade de imprensa e democracia:

"A aversão à crítica é própria das ditaduras e dos candidatos a ditador. No entanto, as ameaças não calarão os defensores da liberdade de imprensa e da democracia".

A ABI também citou falas de Bolsonaro, entre elas, em defesa da tortura e guerra civil.

Leia a íntegra da nota da ABI

Nota da ABI sobre a ameaças contra Aroeira e Noblat

[Sobre a tortura]: “Eu defendo a tortura; vocês sabem disso. O erro foi torturar e não matar. Se tivessem matado mais gente teria sido melhor.”
[Sobre o país]: “Só vai mudar com guerra civil, matando uns 30 mil.”
[Sobre honestidade]: “Eu sonego imposto. Sonego o que for possível.”
[Sobre a Amazônia]: “A Amazônia não é do Brasil. Devemos entregá-la aos Estados Unidos porque não sabemos explorá-la.”
As frases acima são uma pequena amostra das barbaridades ditas por Jair Bolsonaro ao longo de sua carreira. Elas dão bem uma ideia do que é o presidente.
Por isso, é estarrecedor que o ministro da Justiça, André Luiz Mendonça, anuncie a abertura de um inquérito policial contra o chargista Aroeira e o colunista Ricardo Noblat, devido a uma ilustração criada pelo primeiro e reproduzida pelo segundo, associando Bolsonaro ao nazismo.
A aversão à crítica é própria das ditaduras e dos candidatos a ditador.
No entanto, as ameaças não calarão os defensores da liberdade de imprensa e da democracia.
Aroeira e Noblat têm, neste momento, a defesa incondicional da ABI.

Paulo Jeronimo
Presidente da ABI

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