A votação da PEC da Transição na Câmara dos Deputados mostrou que a base bolsonarista está a um passo do esfacelamento. À exceção do núcleo duro mais radical, a maioria dos parlamentares que se elegeu na esteira e na histeria bolsonarista vai sentar e negociar com o presidente eleito.
Alguns nem esperaram o novo governo para sinalizar que estão à disposição para conversar.
Ainda em outubro, encerrado o 1º turno, alertei que não era possível classificar de “bolsonaristas” todos os deputados e senadores eleitos pelo PL, partido do ainda presidente Jair Bolsonaro. A maioria tem o perfil mais fisiológico do que ideológico, por assim dizer. No jargão popular, “quem der mais, leva”.
Da bancada do Rio Grande do Norte de 8 deputados, onde metade dos eleitos são do PL, pelo menos 50% deste grupo deve chutar para escanteio qualquer ligação com Bolsonaro e sua horda de zumbis.
Um deles é João Maia, presidente estadual da legenda, que já piscou para Lula.
Na votação em dois turnos da PEC, o irmão de Zenaide acendeu uma vela para o Diabo e outra para Deus. Quase perto da meia-noite de ontem, rejeitou a proposta que garantia o pagamento do bolsa-família para milhões de miseráveis que passam fome no Brasil. Foi para casa, dormiu, acordou e 12 horas depois mudou de ideia.
João Maia foi um dos 331 deputados que garantiram, em segunda votação, a aprovação da PEC. Além dele, também votaram sim outros 9 deputados do PL que haviam rejeitado a proposta no 1º turno.
O que fez o cunhado de Jaime Calado mudar de ideia ?
O medo do isolamento, talvez. O fisiologismo, sem dúvida.
O placar final da votação mostrou que Arthur Lira entregou o que prometeu a Lula: os votos do Centrão. Sem eles, nenhum presidente governa.
João Maia não é marinheiro de primeira viagem. Vai para o quarto mandato na Câmara Federal e sabe fazer política.
Está longe de ser um extremista e mais distante ainda de um político de centro-esquerda. E deixa isso bem claro. Um dos projetos que relatou na Câmara, de autoria do governo Bolsonaro, autorizava os bancos a tomar imóveis de pessoas inadimplentes, com prestações atrasadas.
Se o projeto já tivesse virado lei e caso a lei já estivesse em vigor desde setembro de 2018, o próprio João Maia correria o risco de perder um apartamento. Na época, o deputado tentou evitar o leilão de um imóvel passando um cheque sem fundos.
João Maia piscou para Lula.
E pelo histórico do deputado, não deve ser um cheque em branco.