Eleição sem Lula é golpe, mas um olhar realista sobre ele precisa ser feito
Natal, RN 26 de abr 2024

Eleição sem Lula é golpe, mas um olhar realista sobre ele precisa ser feito

20 de janeiro de 2018
Eleição sem Lula é golpe, mas um olhar realista sobre ele precisa ser feito

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Qualquer um que  lê a realidade de maneira sensata, não consegue olhar para esse julgamento de Lula e enxergar construções jurídicas sólidas, provas inquestionáveis e equilíbrio na maneira como a procuradoria acusa, a mídia divulga e a justiça julga o caso. Desde a condução coercitiva para um aeroporto, passando pelo powerpoint e depois de um julgamento que virou um duelo entre o juiz e o acusado, ficou claro que o incomum tinha virado norma e que o objetivo não é a justiça, sim uma manobra para fragilizar sua candidatura. Porém, diferente do planejado por seus opositores, o julgamento também virou uma forma de Lula testar sua força política e mostrar que seu carisma, apesar das denúncias, segue forte entre setores populares. Algo que realmente precisa ser entendido como um fenômeno político, diante de tantas horas de cobertura midiática negativa.  A postura de Lula diante do julgamento também está longe de ser algo voluntarista ou pouco planejada.  Todos calculam tudo. Não é pouca coisa que está em jogo.

É preciso sincero repúdio da esquerda para qualquer tese que aceita uma condenação do Lula pelo que chamam de “domínio do fato” ou “conjunto da obra”. É perigoso, para o estado democrático de direito, que a justiça use teses flexíveis e frágeis para retirar de um cidadão seu direito de colocar seu nome para uma disputa eleitoral. Não é ampliando as exceções, comuns e repetidas contra os pobres submetidos à justiça, que traremos algum tipo de equilíbrio torto para o nosso sistema penal.

Com o coração desarmado, um olhar sincero sobre Lula também precisa ser feito. A maneira como reagimos a esse processo, só mostra que boa parte da esquerda não se movimenta mais em torno de um programa, mas a partir do que orbita um nome. E essa sacralização de pessoas também é um risco para democracia. Impede que enxerguemos nuances em nossos líderes e consigamos submeter eles ao nosso programa e exigências. Eles se tornam maiores que isso. Logo suas escolhas são justificáveis como uma política de ocasião, e todas as críticas a essas escolhas são traduzidas como ataques. Tudo muito simplificado dentro da polarização adoecedora que tomou conta do Brasil.

É possível enxergar os abusos cometidos contra Lula, se posicionar contra ilegalidades, mas seguir não conseguindo aceitar que as políticas de conciliação com setores parasitários e as relações nada republicanas com donos de empreiteira são “um mal necessário” para a construção de um governo com avanços sociais. O endosso obrigatório, acrítico,  acaba virando uma prisão para a própria esquerda, que chega a 2018 indefinida e sem construir uma pauta para além da candidatura de Lula. Como se ele, sozinho, fosse a resposta para todos os nossos problemas.

Acredito na política que é feita com amor, não com ódio, mas precisamos entender os limites de Lula e suas contradições. Tenho a impressão que parte da conversa, em torno dele, não tem intenção de traçar um olhar realista ou exigir dele, a partir desse monumental esforço coletivo em sua defesa, alguma sinalização de que não seguirá fazendo conciliação, ou apresentará um programa para reverter, por exemplo, os ataques que a classe trabalhadora sofreu no último governo. Defender o sistema democrático também é lutar para que a classe política não se mantenha sob os mesmos vícios que levaram a democracia para o ponto perigoso que margeamos agora.

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