É o filosófo Peter Sloterdijk quem recupera a ideia de fobocracia – do grego probos(medo) e de krátos (forte/poderoso) para pensar o medo como exercício do poder na atualidade. Para o fobocrata o que vale é a ameaça ao outro ou a tudo aquilo que significa diverso e estrangeiro. O fundamental é soar como alarme permanente no imaginário social. Aquele que age e pensa diferente é classificado como perigoso e deve ser banido: refugiados, moradores de rua, populações indígenas, GLBTQIA+ etc.
Neste “governo dos vivos” o poder se divide entre os que ameaçam e aqueles que são vítimas das suas coação e violência. Tal forma de poder reatualiza a tese hobessiana de que o contrato civilizatório pressupõe o poder coercitivo do Estado como garantia da convivialidade social. Afinal de contas, se “o homem é o lobo do homem”(Thomas Hobbes), é com desconfiança e medo que devemos enxergar o outro. A violência física se legítima como política pelos soberanos da vez: Vladimir Putin (Rússia), Kim Jong-un Coreia do Norte), Jair Bolsonaro (Brasil), Recep T. Erdogan (Turquia), Victor Orban (Hungria) e, também, os Talibãs (Afeganistão).
Não é exagero reconhecer que os EUA também anunciam ao mundo – em nome da defesa nacional – a doutrina da bellum justum (guerra justa) como política da ameaça a outras nações. Este imaginário político também tem servido de modelo para uma ética baseada em um modo de vida permeado pelo medo, desconfiança e paranoia em outras esferas do poder. Basta que pensemos na denominada cultura do cancelamento nas redes sociais digitais. Mas também nas práticas contumazes daqueles que propalam a máxima autoritária, “você sabe com quem está falando?”. E pasmem, não são só governantes déspotas que agem assim.
Alguns Phd’s, jornalistas-blogueiros e colunistas, também, comportam-se como chefes de volantes metidos a ilustrados. Como fobocratas coronéis que tornam a democracia uma anacronia, pois odeiam ideias e valores distintos dos seus. No Brasil, em particular, cancelar e propagar ódio ao outro tem sido normalizado, sobretudo, por comportamentos autoritários e incivilizados do governo atual. Negro é concebido como “arrouba”. Quem é de esquerda é tratado como quem anuncia um comunismo devorador de “criancinhas” e destruidor da denominada família tradicional.
O que interessa é propagar o rumor do medo, especialmente, entre grupos religiosos e conservadores da sociedade. Por isso, difundem fake news como cruzada atualizada de uma idade média tecnológica e digital. Combater o medo e a mentira é uma premissa para quem advoga uma ética baseada na hospitalidade, no reconhecimento ao diverso e na resistência ao homo delinquens fobocrata.