Onde se encontram os amigos da verdade?
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Onde se encontram os amigos da verdade?

13 de agosto de 2023
3min
Onde se encontram os amigos da verdade?

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Há  uma afirmação de Michel Foucault que deveria ser afixada nas portas dos gabinetes de intelectuais e de políticos: "sempre dizer a verdade ao poder". Eis o papel de um intelectual público. Em tempos de cinismo, dissimulação e pragmatismo, poucos se arvoram em praticar a máxima do filósofo, pois  cada vez mais vemos  ausência de senso crítico na sociedade atual. Alguns intelectuais se adequam às circunstâncias dos governantes como zeligs adestrados.

O que interessa é repetir não para ganhar experiência e se aperfeiçoar para mudar realidades, mas agir sem crítica. Viramos sujeitos da gestão paliativa da existência pessoal e coletiva. Ausência de conflitos e de dores, eis o lema. No lugar do psicólogo temos o coach motivacional, no da estrela temos digital influencers.

Ao invés do humor e risos criativos, temos a mera gargalhada com piadas estigmatizantes dos Whindersson,  Zé Lezin, Murção etc. A Internet,  TV e Teatro viraram o palco de uma sociedade do stand up.

O grave disso é quando se estende a outros sujeitos. Sobretudo intelectuais e políticos. Alguns se transformaram em produtores de conteúdos para as mídias sociais digitais. E, claro,  aparecem sempre como atores representando espetáculos deles mesmos. Adicionam a tecnologia para seduzir seguidores e seus likes. Por isso,  a ausência de problematização, que deve ser algo para registros perenes  e não para o mero fluxo dos dias ou das horas.

O intelectual deve ser amigo da problematização e da crítica para combater a entrada civilizatória  na eternidade do retorno ao mesmo e o conservadorismo.

Como nos lembra Peter Sloterdijk, "Problematizar significa descubrir un tema. Los temas son objetos de la elaboración discursiva, como ya sabía la retórica antigua. Se dice que una vez el orador Georgias entró al teatro repleto de Atenas y gritó al público: “¡Proballete!” o “¡Denme un tema cualquiera!”. Con eso, quería probar su virtuosismo, que le permitía hablar, de manera sugestiva, sobre cualquier tema posible".

Quando olhamos o cenário atual, percebemos o inverso do que advogam Sloterdijk e Foucault.

Alguns intelectuais se adequam às circunstâncias dos governantes como zeligs adestrados. O poder não quer ser questionado e nem muito menos problematizar. Seu interesse é no urgente e no prático. Produzir ou ter  ideias que problematizem não tem o menor valor.

Quando observamos a composição dos governos (à esquerda e à direita) nos deparamos com tal realidade.  O intelectual crítico foi substituído pelo tecnocrata da mesmice diária.  Assim, intelectuais zelig e políticos digital influencers, em nome da urgência, renunciaram à urgência do essencial e deixaram de ser amigos da problematização e da verdade.

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