Reinventando Denise: romance do ilustrador Aureliano expõe descaso com patrimônio histórico de Natal
Natal, RN 9 de mai 2024

Reinventando Denise: romance do ilustrador Aureliano expõe descaso com patrimônio histórico de Natal

6 de outubro de 2023
6min
Reinventando Denise: romance do ilustrador Aureliano expõe descaso com patrimônio histórico de Natal

Ajude o Portal Saiba Mais a continuar produzindo jornalismo independente! Apoie com qualquer valor e faça parte dessa iniciativa.

Quero Apoiar

Um anjo despedaçado em praça pública ajudou o ilustrador e escritor potiguar Aureliano Medeiros a construir a história do seu novo romance: Reinventando Denise. A obra publicada pela Companhia Editora Nacional será lançada às 16h30 do próximo sábado (7), no Mahalila Café e Livros, local que aparece no livro junto com outros cenários do Rio Grande do Norte.

O enredo, segundo o autor, se desenvolve quando Denise volta a Natal após cinco anos vivendo em São Paulo. A jovem busca retomar laços de amizade e memórias, mas algumas delas esbarram em um grande problema local: o descaso com a história e a conservação de patrimônios históricos e culturais.

Destruído ao relento, o Anjo Azul – escultura de 12 metros de altura e 28 toneladas, assinada pelo artista José de Arimatéia Jordão – volta a ter destaque. A obra ficava na entrada da galeria de mesmo nome, situada à Avenida Hermes da Fonseca, bairro Tirol. Quando o espaço foi vendido, nos anos 2000, os compradores optaram pela retirada dela e o poder público não atuou efetivamente para preservá-la.

“Falaram em levar para Monte das Gameleiras, pra Maxaranguape, vários lugares, e no fim das contas ela foi parar lá na Praça de Alagamar, em Ponta Negra. Havia a intenção de remontar essa estátua, mas isso não chegou a acontecer. Os pedaços foram se deteriorando até que não havia mais como recuperar e foi preciso fazer a demolição final desses pedaços em 2020. Eu lembrava muito de ver esses pedaços na praça. Lembro de ter passado lá e achado aquela coisa completamente aterrorizante”, diz Aureliano, que chegou a fazer fotos na cena.

Foto: acervo pessoal

“Aquilo pra mim era muito Natal”, comenta sobre os pedaços da estátua. “Natal estava na minha frente impressa numa situação. Eu via que é isso que acontece com a nossa memória. A gente não tem o direito de conservar a nossa memória, de criar laços afetivos com as coisas porque tudo que tá aqui agora daqui a pouco pode não existir mais.”

Na opinião de Aureliano, a estátua, o Hotel Reis Magos e tantas casas antigas destruídas para a construção de farmácias representam a dissolução da identidade da capital potiguar e é essencial dar destaque a isso:

“Enquanto natalense, era importante eu falar sobre isso e deixar essa discussão ainda viva. É fazer justiça poética por esses patrimônios que não tiveram oportunidade de prosperar na cidade.”

A partir dessa reflexão, o ilustrador passou a acreditar que havia uma história fictícia esperando para ser criada nas entranhas da demolição.

Denise quer reconstruir e relações e o monumento. Ela vem para um casamento que não ocorre, porque a amiga foi deixada no altar e acaba na viagem que seria para a lua-de-mel do casal, tendo DR entre amigos. “A gente tem um degringolar muito grande das coisas em Pipa [praia em Tibau do Sul-RN], porque são amigos que tinham muitas coisas mal resolvidas e as conversas vão acontecendo ao longo do livro pra gente entender o que efetivamente aconteceu no passado”, dá spoiler.

Mais inspirações e referências

Conhecido nacionalmente pelo perfil “Oi, Aure” no Instagram, Aureliano revela que pensou até mesmo em fomentar de alguma forma o turismo, já que pessoas que leram o seu primeiro livro, Madame Xanadu, vieram a Natal com o volume e fizeram foto em cenários da história.

A identidade regional não se limita ao texto. Na capa, a estética de xilogravura revela a origem: “Eu queria muito que a pessoa visse a capa e já soubesse que é um livro de um nordestino.”, confessa Aure, que completa as referências das ilustrações com o cartoon brasileiro oitentista e desenhos animados da década de 1930.

Valorizando os desenhos do autor e a música brasileira, o livro oferece como brinde um pôster inspirado n’A Tábua de Esmeralda, de Jorge Ben Jor. “Vários artistas brasileiros são mencionados. A música é parte muito importante. Tem algo de quase mítico na presença de pessoas como Marina Lima, Paula Toller e Bel Marques na vida da gente. Eu quis trazer um pouco dessa homenagem também”.

Para a narrativa, acredita que as inspirações venham de Gabriel García Márquez, Caio Fernando Abreu, Elena Ferrante e Lewis Carrol. “Na minha cabeça, Inventando Denise é uma versão contemporânea tropical e um pouco mais realista de Alice no País das Maravilhas. Gosto de pensar que ele é a minha versão de Alice. Até porque Pipa é como se fosse o país das maravilhas do natalense, o lugar que a gente vai pra ser quem a gente quer ser e pirar também.”

O autor

Aureliano Medeiros trabalha com ilustração e escrita há 10 anos e ficou conhecido nas redes sociais por cartuns autobiográficos sobre questões de saúde mental, corpo e cotidiano. O primeiro livro, Madame Xanadu, foi publicado em 2015 pela potiguar Editora Tribo e reeditado em 2021, para a Companhia Editora Nacional – criada por Monteiro Lobato, como salienta o autor. Xanadu é uma drag queen no Centro Histórico de Natal.

Além dos romances, Aureliano publicou ainda a coletânea de cartuns Mercúrio Cromo (2017), as narrativas visuais O menino que desaprendeu a chorar (2019), A viagem do barco azul (2021) e o infantil Onde foi a Dona Pata? (2023). Reinventando Denise é seu sétimo livro.

Serviço | Lançamento de Reinventando Denise
Dia: sábado (7/10)
Horário: às 16h30
Local: Mahalila Café & Livros (R. Dra. Nívea Madruga - Lagoa Nova)
À venda no lançamento e já disponível na Amazon.

Apoiar Saiba Mais

Pra quem deseja ajudar a fortalecer o debate público

QR Code

Ajude-nos a continuar produzindo jornalismo independente! Apoie com qualquer valor e faça parte dessa iniciativa.

Quero Apoiar

Este site utiliza cookies e solicita seus dados pessoais para melhorar sua experiência de navegação.