Cangaço e candomblé inspiram nomes de peixes descobertos no RN e na PB
Tentando chamar atenção da sociedade para a preservação de peixes da Caatinga ameaçados de extinção, pesquisadores homenageiam figuras históricas e de resistência na hora de dar nome a espécies recém-descobertas no Rio Grande do Norte e no Ceará. Desta vez, a cangaceira Maria Bonita e um inquice do Candomblé chamado Gongobira foram escolhidos.
Os animais foram descritos no artigo “Molecular delimitation of the seasonal killifishes of the Hypsolebias antenori species group (Cyprinodontiformes, Rivulidae), with description of two new species from the Caatinga coastal basins, northeastern Brazil” publicado pela revista científica Zootaxa.
O mesmo grupo de especialistas – ligados às universidades federais do Rio Grande do Norte (UFRN) e da Paraíba (UFPB), ICMBio e Instituto Peixes da Caatinga – homenageou o presidente Lula, sendo notícia em todo o país.
Os pesquisadores produziram vídeo sobre a pesquisa:
Hypsolebias bonita é o nome do peixe descoberto na várzea da bacia do rio Apodi-Mossoró e microbacia do córrego Virgílio, no Rio Grande do Norte. Hypsolebias gongobira foi encontrada em uma poça temporária na bacia do rio Pacoti, no estado do Ceará. A pesquisa constatou que eles medem cerca de 7 cm de comprimento e apresentam dimorfismo sexual, sendo possível identificar indivíduos machos e fêmeas.
As duas espécies pertencem ao grupo conhecido popularmente como “peixes das nuvens" ou “peixes anuais”, que aparecem geralmente uma vez ao ano, na temporada de chuvas.
“Em ambos os nomes quisemos ressaltar a conexão com a cultura, a beleza dos peixes e também com a conservação, uma vez que os nomes podem alcançar uma dimensão afetiva com a sociedade, ajudando a popularizar o conhecimento sobre essas espécies ameaçadas de extinção”, explicou o biólogo pesquisador da UFRN Yuri Abrantes, autor do artigo junto com Telton Pedro Anselmo Ramos, Diego de Medeiros Bento e Sérgio Maia Queiroz Lima.
O estudo também discute o estado de conservação das novas espécies e como a transposição do rio São Francisco e a expansão agrícola e urbana no semiárido podem afetá-las de forma negativa.
“Esses são os principais impactos antrópicos [causados pela ação humana] que promovem a perda de hábitat dos peixes das nuvens. Enquanto a transposição do Rio São Francisco pode resultar em mudanças nos ciclos hidrológicos [da água] das várzeas, dos rios, afetando o ciclo de vida dos peixes das nuvens, os impactos da expansão urbana e agrícola podem extinguir populações ou até mesmo espécies desses organismos.”, detalhou Yuri Abrantes.