RN: proibição do uso de celular em aulas divide alunos e professores
Natal, RN 16 de mai 2024

RN: proibição do uso de celular em aulas divide alunos e professores

21 de janeiro de 2024
6min
RN: proibição do uso de celular em aulas divide alunos e professores
Foto: Assessoria de Comunicação – Seec RN

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Usar ou não usar celulares em sala de aula, eis a questão! A lei que proíbe o uso de celular em salas de aula no Rio Grande do Norte tem dividido a opinião de alunos e professores. A medida está em vigor desde a quarta-feira (17) e é válida para as redes pública e privada. De autoria do deputado Hermano Morais (PV), o texto veda a utilização de smartphones durante o horário de aulas nos estabelecimentos de educação de ensino fundamental e médio, mas abre uma exceção, desde que o aparelho seja usado para fins pedagógicos, sob orientação e supervisão do profissional de ensino.

No entendimento de Hermano, o disciplinamento do uso dos smartphones apenas para uso pedagógico vai trazer um melhor aproveitamento dos alunos em sala de aula e também melhorar a socialização. 

“Tivemos o cuidado de discutir em Audiência Pública na Assembleia, ouvindo especialistas, educadores, representantes das secretarias de educação, diretores de escolas, conselho de psicologia, pais de alunos e alunas e chegamos a conclusão que essa lei se apresenta como uma solução diante do problema já existente. Vale salientar também que estamos no momento de planejamento das atividades para o ano letivo de 2024. Com essa lei agora as escolas públicas e privadas passam a ter um amparo legal para enfrentar essa questão", afirma.

A professora Ju Magna Araújo dá aula para os anos iniciais (1° ao 5° ano) na rede pública. Ela vê a lei com bons olhos e diz que é preciso investir com seriedade em políticas educativas para o uso das mídias e suas ferramentas de acesso, especificamente o celular. 

“Sem isso, apenas estaremos engrossando o caldo dos jovens que utilizam o aparelho celular dentro e fora de sala de aula, sem consciência da força, dos riscos e perigos que um aparelho telefônico pode representar”, aponta.

Por dar aula atualmente apenas para o ensino fundamental, a docente diz que o uso do smartphone é “tímido” entre seus alunos. Entretanto, já lecionou para os anos finais do ensino fundamental e para o médio, nos quais a situação era diferente.

Segundo Araújo, ela convivia com o uso do aparelho celular durante as aulas “de maneira extremamente banal e inconveniente”. A utilização ainda atrapalhava as dinâmicas das aulas e atividades, com direito ao fone de ouvido para completar a distração.

“Esta prática tem sido um dos fantasmas de muitos docentes, pois tem se constatado que alguns estudantes estão completamente viciados no uso do celular e, via de regra, esse vício é em jogos (raramente educativos), redes sociais e até pornografia”, aponta.

Já Talitha Silva dá aulas na rede municipal de Natal durante a manhã, para o ensino fundamental, e na Educação de Jovens e Adultos (EJA) na rede estadual, à noite. Por trabalhar com públicos distintos, ela pondera e busca uma mediação para a utilização do celular.

No ano passado, por exemplo, a docente diz que possuía poucos alunos com celular. Quando eles terminavam o dever e tinham as atividades corrigidas, a professora liberava para que pudessem ouvir música com fone ou para que jogassem.

“Eu acho que isso faz parte também das relações interpessoais que se constroem em sala de aula. Então na minha sala de aula eu não iria proibir 100%. Eu iria liberar o uso tanto nesses momentos que são permitidos por essa lei, quando se trata do uso pedagógico, quanto também quando a criança terminar a atividade e não quiser, por exemplo, ficar desenhando, ou não quiser ficar lendo, aí ela pode fazer o uso do celular”, opina.

Com a turma da EJA, explica Silva, a situação é mais delicada. 

“Eu tenho, por exemplo, uma aluna que a mãe tem Alzheimer e ela precisa estar sempre em contato para saber se aconteceu alguma coisa com a mãe. Outra que tem filho pequeno que, às vezes vai para escola e precisa deixar o filho com uma vizinha. Então, tem que ter acesso ao celular por todas essas questões”, pondera.

Os jogos online, inclusive, preocupam José Milanez, professor de Filosofia do Estado. O docente diz que é comum se deparar com alunos com a cabeça baixa, distraídos.

“Eles estão ali presencialmente mas não estão mentalmente prestando atenção”.

Portanto, baseado em sua experiência, o professor critica a “escravidão às telas” e apoia a nova lei estadual.

“Essas políticas públicas são extremamente necessárias. Não vai ser fácil para eles [estudantes], vai ser muito difícil, mas é um reaprendizado que eles vão ter que passar”, acredita.

Laysa Beatriz, de 20 anos, é estudante do 2º ano do ensino médio e mora na zona norte de Natal. Ela afirma que manter a concentração na aula podendo olhar o celular a qualquer momento é um desafio dos novos tempos. No entanto, acredita que a medida de proibir o uso é “extrema”, pois não aumentará automaticamente a absorção de conteúdo pelos alunos. 

“Na verdade, deveríamos estar discutindo os incentivos à capacitação dos professores e a infraestrutura tecnológica nas escolas para incluí-las cada vez mais no que o mundo produz de mais avançado em termos de aprendizagem, inclusive com uso de tecnologia para facilitar e promover esse processo”, aponta.

Antes mesmo da lei permitir a utilização somente para fins pedagógicos, Beatriz diz que vários de seus professores já usavam dessa forma e diz que o celular ajuda nestes momentos.

“Inclusive o próprio governo tem garantido conectar todas as escolas com a internet e por diversas vezes os professores utilizam em sala com dinâmicas ou pesquisas a fim de complementar os conteúdos”, lembra.

Vice-presidenta do Grêmio Estudantil Edson Luís, do Instituto Padre Miguelinho, Akira Yuri acha que a lei será viável para os estudantes que já têm dificuldade em prestar atenção nas aulas, mas teme um possível “confronto pedagógico, pessoal e social” caso o professor tome o celular de um estudante.

“Manter a concentração hoje em dia parece difícil diante de toda tecnologia que é entrelaçada na nossa sociedade. Utilizo o celular para fins pedagógicos, como também para não pedagógicos. Portanto, muitos professores permitem o livre acesso do celular na sala de aula”, comenta.

A aluna também sugere que haja uma conscientização da lei dentro das unidades de ensino para mostrar que o celular deve ser usado só para fins pedagógicos.

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