Canavieiros desmatam ilegalmente área ocupada por indígenas no RN
Natal, RN 9 de mai 2024

Canavieiros desmatam ilegalmente área ocupada por indígenas no RN

3 de abril de 2024
4min
Canavieiros desmatam ilegalmente área ocupada por indígenas no RN
Foto: reprodução @bpamb.pmrn

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A Área de Proteção Ambiental (APA) APA Piquiri-Una, entre as cidades de Goianinha e  Canguaretama, tem sido alvo de ações ilegais de desmatamento para plantação de cana de açúcar. A região é tradicionalmente ocupada por indígenas do povo Potiguara Katu.

De acordo com o cacique Luiz Katu, uma área equivalente a 10 campos de futebol onde existia uma plantação de mangabas foi derrubada. 

“Estou muito triste por ter identificado junto com meus parentes uma grande derrubada de uma área de tabuleiro de mangabeiras, onde nossos parentes tiram o sustento, coletam mangaba há cinco meses durante o ano e esses cinco meses são fundamentais para garantir a segurança alimentar do ano todo dos nossos parentes aqui na aldeia”, disse o cacique, em um vídeo publicado pela Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo (APOINME). 

Katu disse que essa derrubada foi iniciada há cerca de um mês e denúncias já foram feitas. O desmatamento no local, entretanto, não é novo. 

“Agora eles estão colocando fogo na região das mangabeiras para desaparecer com o entulho da mata derrubada, e a gente tá pedindo socorro”, disse.

À Saiba Mais, o cacique informou que desde que o desmatamento foi identificado, eles começaram a mobilizar os órgãos de proteção do meio ambiente, como o Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente do Rio Grande do Norte (IDEMA) e o Conselho Gestor da APA Piquiri-Una. Polícia Federal e Ministério Público Federal (MPF) também foram acionados. 

“O Ministério Público Federal já veio aqui três vezes fazer ação em cima desse local de desmatamento. Houve inclusive retirada de máquinas do local, mas os canavieiros são criminosos mesmo. Eles não desistem. Eles voltam a atuar uma semana depois que há a desocupação lá da área, eles retornam e começam a trabalhar. A gente identificou há duas semanas que eles tinham colocado calcário na área para fazer o gradeamento e o preparo da terra para plantar e iniciar o plantio da cana de açúcar”, afirmou Luiz Katu.

Em 26 de janeiro deste ano, uma equipe do Batalhão de Policiamento Ambiental da Polícia Militar, junto com o IDEMA e ITEP, já haviam identificado crime de desmatamento ilegal de mata atlântica na Área de Proteção Ambiental Piquiri-una.

Na ocasião não foram encontradas pessoas no local, mas a equipe apreendeu as máquinas, galões de gasolina, ferramentas e demais itens utilizados na ação criminosa.

Além de Goianinha e Canguaretama, a APA Piquiri-Una abrange parte dos municípios de Espírito Santo, Pedro Velho e Várzea, estando presentes os Biomas de Mata Atlântica e Caatinga, assim como importantes rios que compõem as sub-bacias dos rios Curimataú, Catú e Jacú.

Além dos crimes atuais, no passado o povo Katu tinha um espaço para sepultamento de crianças chamado de cemitério dos anjos. O espaço, contudo, também foi tomado por canavieiros para suas plantações.

“Hoje o cemitério dos anjos da Aldeia Katu é um canavial, é cana por cima da memória do nosso povo", afirmou o cacique.

Procurado, o IDEMA informou que está adotando medidas administrativas, que são de competência do órgão.

“O Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente – IDEMA informa que, em relação à denúncia de desmatamento na Área de Proteção Ambiental Piquiri-Una, é de conhecimento do órgão e a região vem sendo vistoriada, frequentemente, pela equipe de Fiscalização. O IDEMA já realizou inúmeras autuações, apreensões, e está tomando as medidas administrativas cabíveis para responsabilizar os agentes envolvidos.”

A ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, está no Rio Grande do Norte participando de atividades e às 14h se encontra com lideranças indígenas em Natal. Luiz Katu disse que, no encontro, vai reivindicar a pauta específica da demarcação de terras no estado, mas também vai apresentar os casos de desmatamento na APA.

“Estou para fazer uma fala específica mostrando todo o dano, toda a degradação, toda a violação do nosso território tradicionalmente ocupado por falta da demarcação, por falta de terras indígenas demarcadas no estado do Rio Grande do Norte”.

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