Em vídeo, Secretário culpa população por situação das lagoas de captação em Natal
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Em entrevista no último dia (10) de junho, o secretário de Infraestrutura da Prefeitura do Natal, Carlson Gomes, culpou a população de Natal pelo transbordamento de lagoas de captação, especialmente na Zona Norte, durante o período de chuvas. Segundo o titular da pasta, “Quem deposita lixo é o mesmo que reclama”.
A entrevista foi concedida a rádio 98 FM e nela Carlos falou que o problema nas lagoas de captação na cidade é causado pela obstrução dos canais com lixo lançados pelos próprios moradores. O titular explica que as lagoas de captação são planejadas para receber apenas águas da chuva, mas que os moradores usam o reservatório como destino para água e esgoto de suas casas, por meio de ligações clandestinas.
“A mesma população que vai na lagoa e deposita o lixo é a mesma que reclama. A população também tem que ter consciência. Na hora que ela faz ligação clandestina, ela está contaminando também e vai ser responsabilizada. Se criou a mentalidade que ali (lagoa de captação) é um depósito de lixo. Se coloca entulho, vegetação lá e isso vai para dentro da lagoa. Entope uma bomba daquela e causa o transtorno para a população”, afirmou o secretário.
Secretário culpa população por transbordamento de lagoas em Natal: ‘Quem deposita lixo é o mesmo que reclama’
— 98 FM Natal (@98FMNatal) June 11, 2024
Carlson Gomes explicou que as lagoas são planejadas para receber águas da chuva, mas que moradores acabam usando o reservatório como destino para esgoto das casas. pic.twitter.com/8tx6iwTwA2
Embora tenha responsabilizado a população, que são as maiores vítimas das enchentes, o secretário também falou que a falta de saneamento básico na região é um agravante para o problema. Segundo o titular da pasta, as ligações clandestinas feitas para moradores depositarem esgotos, impede que as lagoas estejam secas para receber as águas da chuva.
“A população vai fazendo essas ligações clandestinas na rede de drenagem e, a partir daí, essas águas vão sendo direcionadas para as lagoas de captação. Na época de chuva, a lagoa deveria estar pronta e o lençol freático seco esperando a água chegar. Mas, na Zona Norte, em virtude de não ter esgotamento sanitário, ela passa o ano cheia. Quando vem a água da chuva, aumenta o volume de água que muitas vezes as bombas não dão conta. O sabão com óleo cria uma crosta de impermeabilização. Temos duas máquinas para escavar os fundos das lagoas, mesmo em época que não é de chuva”.
Confira o trecho completo:
Antes das chuvas, Prefeitura já sabia dos problemas das lagoas
Embora responsabilize a população pelas situações das lagoas, a Agência Saiba Mais mostrou, em maio deste ano, que o número de lagoas de captação com riscos de transbordamentos subiu de 8 para 18, de acordo com os dados fornecidos pela Defesa Civil Municipal. Com um histórico de chuvas mais intensas no mês de junho, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Natal devia entrar no período mais chuvoso do ano com 18 de suas 50 lagoas de captação em situação de risco, ou seja, com alerta para transbordamento.
A situação piorou antes da chegada de junho, quando, no último dia (17), 3 dessas lagoas não aguentaram as pressões da água e transbordaram, alagando bairros e deixando dezenas de desabrigados. As lagoas do Sarney, Santarém e Makro não resistiram ao volume das chuvas. Na ocasião, moradores do Loteamento José Sarney e do Santarém ficaram ilhados, desabrigados, com algumas famílias perdendo todos os bens que tinham.
Ainda nessa época, Natal tinha 36% das lagoas nesse estado, sendo elas: Lagoa de Ponta Negra (Alagamar) – na Zona Sul (ZS); a Lagoa do Pirangi 2 – ZS; a Lagoa do Preá – ZS; a Lagoa dos Xavantes I – ZS; Lagoa dos Xavantes II – ZS; Lagoa Gramorezinho (ou Sapo) – na Zona Norte (ZN); Lagoa Acaraú (Panatis I) – ZN; Lagoa da Cidade da Esperança – na Zona Oeste (ZO); Lagoa de Pirangi (ou Jiqui) – ZS; a Lagoa da Integração – ZS; Lagoa Vila Verde I (Dr. Carneiro Rieiro) – ZN; a Lagoa dos Potiguares (ou Jacaré) – ZS; a Lagoa do Makro – ZS; e a Lagoa do São Conrado – ZO.
Em março, as lagoas eram a do Jardim Progresso, José Sarney, Santarém, Dom Pedro I, Redinha I, Parque das Dunas I, Parque das Dunas II e São Conrado. A única lagoa fora da zona é a de São Conrado, que fica no bairro de Nossa Senhora de Nazaré, na Zona Oeste de Natal.
Embora a Prefeitura de Natal já soubesse deste problema, e mesmo com pontos de alagamentos registrados em vários pontos da cidade, o prefeito da capital, Álvaro Dias, informou nas redes sociais que a situação está ‘sob controle’.
Chuvas voltaram e problemas se repetiram
Pouco tempo depois, as chuvas em Natal, mais uma vez, causaram transtornos, mais alagamentos, novas crateras e mais moradores ilhados em vários pontos da cidade, especialmente na Zona Norte, onde as lagoas do Sarney e Santarém transbordaram de novo. No bairro de Santarém, na Zona Norte de Natal, por exemplo, uma pessoa com deficiência precisou ser resgatada pelos vizinhos depois de ficar ilhado dentro da própria casa.
Na Rua Tarauacá, no bairro do Santarém, a força da água invadiu a casa de moradores que tiveram suas residências alagadas e ficaram ilhados. Na ocasião, o morador Seu Luís, que se locomove de cadeira de rodas, precisou da ajuda de vizinhos e amigos para conseguir sair de casa. “Os bombeiros não vem. Quando termina tudo, eles aparecem”, desabafa o morador em um vídeo publicado nas redes sociais. Leia a matéria completa aqui
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