Músico potiguar leva comida vegana e afeto para pessoas em situação de rua em Natal
Natal, RN 26 de abr 2024

Músico potiguar leva comida vegana e afeto para pessoas em situação de rua em Natal

24 de outubro de 2021
Músico potiguar leva comida vegana e afeto para pessoas em situação de rua em Natal

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Ligado ao veganismo por meio do movimento “straight edge”, uma subcultura da música punk que defende um estilo de vida sem drogas, com alimentação saudável, e sem exploração animal, o músico potiguar Charliê Chancho, é idealizador do ousado projeto “Sopa Vegan”, realiza a distribuição de sopa vegana a pessoas em situação de rua há pouco mais de 3 anos.

Ex-dependente químico, Chaliê passou por muita coisa até descobrir seu talento na cozinha e sua aptidão para organizar o projeto. Antes de dar início as ações da Sopa Vegan, ele já havia ralado bastante como servente de pedreiro, auxiliar de eletricista, ou fazendo trabalhos informais para sobreviver.

Em janeiro de 2017 começou se aventurar na culinária vegana. E frustrado em perceber que as pessoas, mesmo tendo abundância de recursos, não se movimentavam para ajudar alguém ou uma causa, foi então que, no início de 2018, Charliê começou a usar seu tempo para ajudar pessoas em situação de rua com a culinária vegana.

Início e estruturação

Fazia a distribuição na minha bicicleta. Depois tive a ajuda de Nara Sales, uma grande amiga que fortaleceu bastante no início. Tenho muito amor por essa iniciativa. Ela permitiu que muitas pessoas acreditassem que era possível ajudar de forma coletiva quem mais precisa de cuidados. Somos pioneiros no Brasil. Um projeto que doa comida sem crueldade animal a pessoas em situação de vulnerabilidade social. Sendo iniciado por um homem preto, periférico, ex-dependente químico e sem recurso algum. Isso nos enche de orgulho”, disse Charliê, sobre o início dos trabalho no projeto e destaca a importância da ancestralidade como fator de motivação:

“Minha ancestralidade é minha maior motivação. A maioria das pessoas em situação de rua ou vulnerabilidade social são pessoas pretas. Sinto-me feliz que seja possível esse cuidado. É sobre perceber o sofrimento e angústia do próximo e tentar ajudar com o que se tem a disposição”.

Quando indagado se alguma ideologia (política ou religiosa) contribuiu para a criação desse projeto, Chancho falou:

“Não temos vínculo partidário ou religioso algum. Acreditamos que o veganismo, enquanto acesso a uma alimentação saudável, pode ser possível para qualquer pessoa. E não uma bolha de classe, inacessível”.

O ativista também faz questão de ressaltar que não se trata apenas de doar comida a quem tem fome. É algo maior, uma troca:

“Todos os dias é sempre aprendizado. Não é apenas doar alimentos. É uma troca de cuidado e sabedoria. Recebo conselhos, devolvo quando solicitado. Trocamos afeto. Isso não tem preço. É cura. Para mim e para eles. É estar em movimento e lado a lado com minha ancestralidade... Aprendi que quando apenas um se movimenta para ajudar o outro, o universo se movimenta junto”, diz Charliê sobre a experiência adquirida no projeto.

O músico potiguar Charliê Chancho é o idealizador do ousado projeto / foto: cedida

Organização é voluntária e sem apoio do poder público

O “Sopa Vegan” funciona como um coletivo de culinária em prol dos que mais precisam de amor, atenção e cuidados básicos. Cada um traz os insumos e sua ajuda no preparo ou distribuição dos alimentos.

Sem apoio do poder público, a maior dificuldade do projeto é a ausência de recursos. Falta alimentos não perecíveis e insumos. E para não deixar o projeto parar os integrantes tiram do próprio bolso. Semanalmente é preciso de pelo menos 200 marmitas para dá conta das ações da Sopa Vegan.

“A ajuda financeira que recebemos consegue custear apenas parte do aluguel da sede. Os outros gastos fixos dividimos entre nós e fazemos ações para coletar alimentos não perecíveis, gás, ítens de higiene pessoal, roupas etc”, explica o cozinheiro.

Voluntariado

Para quem se interessar, e quiser ajudar o projeto, o trabalho voluntário está aberto a novos integrantes, seja na cozinha, na organização, na logística, ou, ainda, contribuindo com recursos e alimentos.

“As doações que recebemos vem de uma plataforma de contribuição coletiva, o https://apoia.se/sopavegan . Onde cada pessoa pode doar a quantia que for possível. Toda ajuda é sempre bem-vinda e nos traz mais conforto e esperança de continuidade”, complementa Charliê.

Projeto Sopa Vegan é realizado com apoio de voluntários, sem conotação político-partidária ou religiosa / foto: Cedida

"Qualquer pessoa pode fazer o mesmo", estimula ativista e idealizador do Sopa Vegan

Uma das coisas que vem chamando a atenção de Charliê é o aumento de pessoas em situação de rua, depois do governo Bolsonaro: “É perceptível. Tivemos de aumentar o número de doações. E mesmo assim não estamos dando conta. É triste ver esse aumento nos últimos anos. Queríamos ver a diminuição e erradicação da fome. Somos um país tão rico em recursos. E vemos pessoas tão cegas pela sede de poder que não conseguem enxergar o próximo e suas necessidades básicas. Alimentação e moradia é o mínimo. Não deveria ser falta ou ausência”, lamenta o cozinheiro, com relação a falta de sensibilidade e de ações políticas.

Para iniciar uma mudança concreta, na vida das pessoas que estão em situação de rua, ele aposta no poder da construção coletiva, de iniciativas como a do “Sopa Vegan”. Que iniciou apenas uma panela de pressão e a vontade de ajudar:

“Qualquer pessoa pode fazer o mesmo. Se colocar em movimento para dividir o que tem com quem mais precisa. Se a gente somar o desejo de cada um em ajudar e colocar em ação, podemos ver mudanças significativas acontecerem. Se ficarmos de braços cruzados esperando apenas por políticas públicas de reparo social e distribuição de renda, as pessoas morrem de fome. Acredito que 'nós por nós' pode fazer uma grande diferença também. É só se colocar em movimento pelo outro”.

Expressão e arte

Além da culinária vegana, que é a fonte de renda e de sobrevivência de Charliê, ele também tem como hobby cantar e tocar guitarra numa banda de rock chamada “Chancho”. O que diz fazer como o mesmo amor e entusiasmo do projeto vegano.

Uma banda de ‘rock doido’, vinda do mesmo movimento que o levou ao veganismo. “É aquele som que mal se entende o que o vocalista canta, mas que por trás tem letras que abordam assuntos sérios. Mas música pra mim não precisa ser perfeitinha. Basta ela expressar o que você sente, e passar a mensagem das suas ideias”, explica o músico culinarista.

A sede da Sopa Vegan fica localizado na Cidade Alta (rua Vaz Gondim, 811 - Cidade Alta, Natal - RN, 59025-310). Onde recebem doações de gás, alimentos não perecíveis, insumos (vegetais, especiarias), marmitas, roupas, fraldas, itens de higiene pessoal, cobertores. É só entrar em contato e somar com essa construção, doando e sendo voluntário no preparo e distribuição. Na plataforma citada anteriormente é possível contribuir com ajuda financeira.

Conheça o projeto Sopa Vegan no Instagram: https://instagram.com/sopavegan?utm_medium=copy_link

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