Manuella, que hoje tem 20 anos, começou seu processo de transição sexual em 2020. As dificuldades que enfrentou durante o período de mudanças, como falta de acesso insumos hormonais e assistência psicológica, foram o gatilho pra que ela buscasse ajuda, também, para outras pessoas.
Com o projeto, criado em parceria com uma amiga que também fez transição, Manuella planejava com hormônio, comida, roupas e assistência psicóloga, outras pessoas que também estavam passando pelo mesmo processo. A dupla chegou a distribuir algum material, mas com o início da pandemia de covid-19, as poucas doações foram se tornando mais escassas.
“A gente chegou até a distribuir um material com a ajuda de amigos e familiares que fizeram doações, mas a coisa foi apertando por causa da pandemia”, lamenta Manuella.
Mas, se o projeto teve dificuldades para continuar de pé aqui em Natal, a iniciativa foi reconhecida pelo prêmio “Mude o Mundo Como Uma Menina”, que premia meninas entre 13 e 21 anos de todo o Brasil que desenvolvem soluções inovadoras e incentiva a participação feminina na ciência.
O prêmio é dividido em cinco categorias: criativa, líder, determinada, pioneira e visionária, além da mobilizadora, disputada apenas por jovens que já foram premiadas anteriormente, e da categoria “Juntas Somos Força”, que premia seis projetos ainda em fases iniciais.
Apesar de não ter levado o prêmio final, divulgado no último sábado (3), Manuella foi uma das cinco finalistas na categoria visionária, que premia meninas com projetos originais.
“No dia fiquei ansiosa, mas por mais que não levasse o prêmio, estava feliz e inspirada por conhecer o trabalho das outras meninas, algumas desenvolvem até projeto junto com a Nasa [National Aeronautics and Space Administration], também conheci outra que foi a primeira se formar no ensino superior na família dela. Na minha família mesmo não tem ninguém formado e isso serve pra mim e pessoas como eu que nós podemos chegar mais longe”, conta a jovem.
Manuella tem cinco irmãos, mas mora sozinha com a mãe que é empregada doméstica e, recentemente, conseguiu financiar uma casa pela Caixa Econômica Federal. A grande preocupação dela e dos irmãos que já saíram de casa, mas sempre que podem dão uma ajudinha, é não atrasar as prestações. Para o futuro, que já bate à porta, Manuella planeja seguir em frente com os estudos, continuar inspirando e encontrar inspiração em outras pessoas pra tentar fazer do mundo um lugar melhor.
“Esse ano eu concluí o ensino médio, fiz a prova do Enem e estou esperando o resultado. Quero fazer história, que é um curso que admiro muito ou entrar para a Escola de Música da UFRN, porque toco trombone. Quem sabe, também não entre numa grande instituição de ensino no exterior…”, projeta a jovem para quem a vida, tá só começando.