A Calçada: em livro de contos, escritor reúne ficção e memórias da infância em Natal
Natal, RN 1 de mai 2024

A Calçada: em livro de contos, escritor reúne ficção e memórias da infância em Natal

10 de fevereiro de 2023
4min
A Calçada: em livro de contos, escritor reúne ficção e memórias da infância em Natal

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“O Prefeito não havia conseguido esse título por vias democráticas. Não tinha carisma. Nada parecido com estar rodeado de populares ou abraçado a crianças. Roladeiras e carrinho de rolimã? Nem pensar! Na calçada que chamava de sua, só havia seus desmandos e bolas furadas(...)”

Essa e outras histórias que misturam memórias e ficção estão no livro de contos “A Calçada”, que o escritor William Eloi lança neste sábado (11) pela Juriti Edições, nova editora do Rio Grande do Norte. O evento será a partir das 10h, no Seburubu.

Na obra, William, que nasceu em Guarujá-SP e mudou-se para Natal com a família, “retorna” ao bairro da Cidade da Esperança, onde viveu boa parte da infância e da adolescência.

Lá, desenterra uma botija/cápsula do tempo e reencontra a rua, a feira, antigos amigos, personagens marcantes e muita imaginação. As histórias revelam brincadeiras, descobertas musicais, literárias, cinematográficas, científicas e do despertar da puberdade.

“Alguém de nossa turma sempre falava que no bairro havia vários "personagens”, que seria legal se um dia suas vidas fossem levadas a um livro. Escrevi os dois primeiros contos de forma despretensiosa. Mostrei a um amigo, que me disse ‘Por que não dá sequência a isso?’”, explica o autor suas motivações.

Como protagonista (Neno), figurante ou narrador onisciente, William Eloi apresenta figuras icônicas do tempo que lhe rendeu até hoje amigos, alguns ex-amigos e boas histórias.

“Nós quando adolescentes dividíamos os mesmos sonhos, que terminavam, invariavelmente, em arte. Eu, que tinha uns 12 quando pendurei as chuteiras, porque era muito ruim (rs), fui influenciado por essa turma na Cidade da Esperança. Lembro que alugamos um filme do Godard. Todo mundo estava louco pra bocejar, mas ninguém dava o braço a torcer. Quando alguém sugeriu que trocássemos o filme, que ninguém estava suportando, mas não admitiam”, recorda.

Um dos garotos da calçada, o jornalista Itaércio Porpino, que assina a Apresentação do livro, destaca a crítica social presente no enredo dos contos, tornando-os atemporais: “A maioria tem algum componente de crítica social. Ele não faz de forma panfletária, mas é muito profundo, se o leitor prestar atenção no comportamento dos personagens. Por exemplo, o pai, seu Elídio, é uma figura autoritária, reacionária, ausente, há o elemento da traição, do machismo”.

A escrita é simples, mas utiliza recursos como cortes abruptos de cenas às vezes retomadas: “A história sempre é um paradoxo, com loops de repetição”, destaca Eloi.

D. B. Frattini, escritor e especialista em Fundamentos Estruturais da Composição Artística, assina a orelha, na qual chama a atenção para a falsa impressão de estar diante de uma reunião de contos memorialistas.

Frattini define o livro como uma verdadeira obra-prima repleta de alma que retrata o ‘grande’ e o ‘pequeno’ com simplicidade, elegância e alto teor artístico: “William Eloi entrega o espelho interior para seus leitores e mostra que é imprescindível buscar na memória os reflexos para a construção de um mundo novo e melhor.”

Na quarta capa de “A Calçada”, o escritor e artista plástico Christi Rochetô destaca a ternura das páginas: “Ao longo dos contos, o autor nos oferece resvalos dessa memória de sua juventude: seus amigos, o bairro de suas memórias afetivas, o mundo que girava em volta das calçadas de sua rua, de seu mundo. O que se tem em mãos é, na verdade, um inventário de lembranças, tão verdadeiras quanto inventadas e tão familiares que já nem pertencem mais ao autor, mas à vida de quem adentrar estas páginas.”

William Eloi publicou também “Notas suicidas” (romance, 2013), “A vertigem seguida da náusea” (contos, 2019) e “Crônicas do meio-fio” (2021).

Serviço | Lançamento do livro “A Calçada”, de William Eloi
Data: sábado, 11 de fevereiro
Local: Seburubu (Av. Deodoro da Fonseca, 307, Cidade Alta, Natal/RN)
Hora: A partir das 10h
Preço: R$ 40

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