Grandes empreendimentos em Pipa são risco para tartarugas ameaçadas de extinção, alerta especialista
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Grandes empreendimentos em Pipa são risco para tartarugas ameaçadas de extinção, alerta especialista

17 de agosto de 2023
5min
Grandes empreendimentos em Pipa são risco para tartarugas ameaçadas de extinção, alerta especialista

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Para além da visível degradação de dunas e restinga, pesquisadores têm demonstrado preocupação também com a vida marinha na região da Praia de Pipa, em Tibau do Sul, Rio Grande do Norte. A ocupação desordenada do litoral e a chegada de grandes empreendimentos, como o Pipa Island Resort, da empresa Gav Resorts, e Okan Pipa Multi Residence, da Allimulti Incorporadora, oferecem risco à biodiversidade.

Coordenador de conservação e pesquisa das tartarugas-marinhas em Pipa pelo projeto Tamar, Eduardo Lima explica que Tibau do Sul é a principal área de desova das tartarugas-de-pente (Eretmochelys imbricata) do Atlântico, em faixa que vai desde a praia de Cacimbinhas a Simbaúma. A espécie está criticamente ameaçada de extinção.

A desova costuma ocorrer à noite na areia da praia e a época de reprodução é entre os meses de novembro e julho.

Foto: Projeto Tamar

"Grandes empreendimentos causam pressão em cima da população de tartarugas marinhas desovantes. É preciso atenção não só ao lugar onde está sendo construído, mas em todo o entorno dele. O empreendimento é fixo, mas o que acontece dentro dele é móvel, mais carros, mais lixo, muito mais gente transitando, impacto na cidade, gasto de energia...", o especialista enumera algumas questões.

O resort mais próximo de área de desova é o Okan, que já começou a ser construído, perto da desértica Praia das Mina - um dos pontos de maior preocupação. O condomínio terá 106 unidades habitacionais de luxo com áreas de 45m² a 197m². Nos ambientes comuns haverá piscinas, spa, restaurante, espaço kids, academia. a previsão de entrega é 2026.

Okan Pipa Multi Residence | Imagem: projeto Allimulti Incorporadora
Área de construção do Okan Pipa Multi Residence | Imagem: cedida

Pouco considerado pelas empresas, um dos grandes problemas para o meio ambiente é a incidência de luz artificial nas praias. "Qualquer intervenção pode trazer sérios problemas. A fotopoluição afugenta fêmeas e atrai filhotes.", ensina Eduardo Lima, detalhando que o fenômeno leva as fêmeas a alterarem seus locais de desova e os filhotes a se perderem, não seguindo para o mar, sendo atropelados, comidos por predadores ou morrendo de desidratação.

"Nossa maior preocupação é a Praia das Minas, porque vai ter fontes luminosas, além de outras questões. Elas não são problema só pra tartaruga. Iluminação artificial é bem complexo. Os pássaros se guiam por ciclicos diurno e noturno. É um problema para a flora e para a fauna de um modo geral.", ressalta.

"São muito mais problemas que alegrias pra gente que tá ali tentando salvar esses animais. Tudo isso vai precisar ser mitigado em segundo momento. É assim que a gente vem trabalhando - quem trabalha com meio ambiente no Brasil - tentando organizar o dessarranjo de tudo.", lamenta o pesquisador, que já trabalhou em outros locais de grande concentração turística e vive há cinco anos em Pipa.

Eduardo Lima diz que tem chamado atenção das pessoas para esse e outros problemas das praias de Tibau do Sul. Durante a temporada reprodutiva das tartarugas marinhas, o Projeto Tamar realiza ações educativas como a caminhada dos filhotes. E, por todo o ano, o Santuário Ecológico recebe grupos. Só em julho de 2023, mais de 700 estudantes visitaram o espaço, recebendo informações sobre preservação, animais nativos, fauna e flora da reserva.

"Temos problemas gravíssimos que necessitam ser sanados como na maioria das cidades turísticas no Brasil. Coleta de lixo efetiva, plano de mobilidade urbana em Pipa, capacidade de carga precisam ser realizados com urgencia. Tudo isso é se torna um problema ambiental grave, que piora no verão (quando as tartarugas desovam) e finais de semana e feriados. Tem muita gente recolhendo voluntariamente uma quantidade absurda de lixo nas praias mas nao consegue reduzir a demanda. Falta uma visão menos expansiva e mais ecológica da sociedade e do empresariado de um modo geral. As pessoas têm que estar mais atentas a isso. Os turistas quando vêm, procuram natureza, e as pessoas a estão destruindo.", alerta.

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