80% dos corais do NE e RN já sofrem os efeitos do aquecimento do Atlântico
Natal, RN 1 de mai 2024

80% dos corais do NE e RN já sofrem os efeitos do aquecimento do Atlântico

18 de abril de 2024
5min
80% dos corais do NE e RN já sofrem os efeitos do aquecimento do Atlântico

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Na maré baixa, os recifes de corais formam piscinas naturais de água cristalina onde é possível mergulhar em meio a espécies coloridas da fauna e flora marinha. Milhares de turistas pagam para desfrutar desse passeio todos os anos. Estamos falando dos Parrachos de Maracajaú, um paraíso distante 7 km da costa potiguar e que está ameaçado por conta do aquecimento do oceano Atlântico.

Não apenas o Parracho de Maracajaú, mas a Área de Proteção Ambiental Recife de Corais inteira, composta do Parracho de Cioba e o Parracho de Rio do Fogo. Mais que isso, o Parracho de Pirangi também está sob observação cuidadosa.

O problema se deve ao branqueamento dos corais, causado pela elevação da temperatura da água, problema que tem levado diversos recifes de corais à morte pelo Brasil, principalmente no Nordeste.

A situação coloca em risco parcela significativa da vida marinha, atingindo também milhões de pessoas que dependem direta ou indiretamente dos recifes, já que são base para a pesca artesanal e o turismo litorâneo.

Liana Mendes

“Os corais do Nordeste, especificamente acima do estado da Bahia, têm sido mais acometidos pelo processo de branqueamento, uma vez que as altas temperaturas têm ocorrido nesta latitude. Nossa avaliação é que existam cerca de 80% de corais branqueados, incluindo também corais doentes”. O alerta quem faz é a bióloga e professora Liana Mendes, da UFRN.

Fundadora da ONG Oceânica, Liana tem observado o problema ao lado de outros pesquisadores que monitoram a costa marinha brasileira. “Estamos divulgando os resultados e alertando para os custos ecológicos e sociais frente a perda da biodiversidade recifal. Mas a humanidade parece seguir inerte e anestesiada frente às agressões à natureza”, aponta a professora. “Estamos colhendo os frutos do descaso ambiental”

Liana explica que os recifes tropicais “são áreas de grande riqueza e diversidade no planeta, com importância ecológica e social”. E quando morrem, deixam de oferecer abrigo para uma diversidade de organismos marinhos.

“Uma vez que a diversidade de espécies tende a diminuir, a pesca será comprometida. Outra atividade impactada é o turismo. As áreas recifais atraem milhares de visitantes devido sua exuberante beleza cênica. Com parte desta diversidade perdida, o cenário tende a ficar menos interessante e colorido, gerando perdas socioeconômicas neste setor da sociedade”, detalha.

Branqueamento de corais no RN é um alerta para a sociedade.

Temperaturas até 4º C acima do suportável

A riqueza marinha dos recifes se explica pela relação ecológica de simbiose, onde microalgas ficam alojadas nos tecidos moles dos corais, respondendo por até 80% de sua alimentação. Com o aumento da temperatura do oceano, as microalgas partem para outras regiões marinhas, deixando os corais fragilizados, apenas com o esqueleto estrutural de carbonato de cálcio, branco, exposto.

Até 29°C, os corais mantêm as microalgas. Acima disso, começa o processo de expulsão e então o branqueamento acontece, levando o coral à morte, caso a água não retorne a uma temperatura adequada. “Estamos registrando temperaturas entre 31 e 33 °C, uma anomalia térmica elevada”, diz Liana, chamando a atenção para o processo de branqueamento que está ocorrendo na Área de Proteção Ambiental Recifes de Corais, no litoral norte do estado, e no recife de Pirangi, no litoral sul.

A bióloga atendeu ao Saiba Mais em meio a uma pesquisa em Fernando de Noronha. “Aqui a temperatura da água está acima de 30 graus e o processo de branqueamento de corais também está ocorrendo”.

Perguntada se há algo que possa ser feito para reverter a situação, Liana diz que é fundamental não aumentar ainda mais o estresse marinho. “Os corais são nossas sentinelas ambientais, o processo de branqueamento é facilmente detectável. Assim  podemos ver o quanto os recifes estão fragilizados e vulneráveis. Mas sabemos que além do aumento da temperatura, a poluição, sedimentação, pisoteio (petróleo e óleo no mar, aporte de poluentes carregados pelos rios etc), podem também impactar os corais e ambientes recifais. Sendo assim, o cuidado humano no sentido de evitar adicionar tais estresses ambientais ajuda aumentar a resiliência dos corais e do sistema recifal como um todo”, explica.

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