Caso Giovanni Gabriel: júri popular terá acampamento por justiça
Natal, RN 2 de jul 2024

Caso Giovanni Gabriel: júri popular terá acampamento por justiça

31 de maio de 2024
6min
Caso Giovanni Gabriel: júri popular terá acampamento por justiça

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Marcado para a próxima terça-feira, 4 de junho, o júri popular que vai julgar os quatro acusados pela morte do jovem Giovanni Gabriel de Souza Gomes deve contar com pressão popular e mobilização da sociedade civil. Familiares, amigos e organizações aguardam o julgamento e devem montar acampamento no local, na 1ª Vara Criminal da Comarca de Parnamirim. Panfletagens e ações culturais do hip hop e rap também estão programadas. 

Gabriel foi morto em 2020, aos 18 anos. Morador do Guarapes, na zona oeste de Natal, ele havia saído de casa para visitar a namorada, que morava no Loteamento Cidade Campestre, em Parnamirim. Os acusados pelos crimes de homicídio qualificado, sequestro e ocultação de cadáver são Paullinelle Sidney Campos Silva, Bertoni Vieira Alves, Valdemi Almeida de Andrade e Anderson Adjan Barbosa de Sousa, todos da PM, que respondem atualmente em liberdade.

Uma plenária de mobilização aconteceu na última quarta-feira (29) na UFRN, reunindo diferentes movimentos sociais e estudantis. O Coletivo Nacional de Juventude Negra - Enegrecer, por exemplo, informou que entraria com ofícios solicitando que o Conselho Estadual de Juventude, o Conselho de Igualdade Racial e o Conselho de Direitos Humanos estejam presentes acompanhando o julgamento.

Produtor cultural e presidente municipal da Unidade Popular pelo Socialismo (UP), Mateus Freitas acredita que o júri popular é uma das formas mais eficazes de se conseguir justiça sobre esse caso.

“O sistema judicial brasileiro historicamente é formado para poder proteger a instituição militar e absolver os policiais que cometem crimes como o que Gabriel sofreu. Então a nossa pressão desde o início foi para que esse processo fosse julgado por júri popular. Que não fosse apenas para um juiz e esse juiz tomasse a decisão”, disse.

Para o pesquisador José Rolfran Tavares, que fez um estudo etnográfico nas periferias ao oeste de Parnamirim para o seu mestrado em Antropologia Social, defendido em 2021, a forma como as pessoas lidam com a mortandade da juventude na região em que Gabriel foi capturado pelos policiais mudou a partir deste caso. 

Gabriel foi morto em 2020, aos 18 anos

Nas idas à campo, Tavares constatou que as pichações no território referentes a homicídios de jovens deixaram de informar somente sobre o luto e sobre a tristeza dos familiares e amigos próximos; passaram também a questionar a autoria de outros crimes.

“E essa alteração tem a ver com essa mobilização do caso Giovanni Gabriel e do conjunto de outras mobilizações que aconteceram naquele momento no Brasil e no mundo”, diz José Rolfran, lembrando também do caso George Floyd nos Estados Unidos.

“Aqui no Rio Grande do Norte, o caso que exemplificou a truculência policial, o processo de desvalorização das vidas negras, foi o caso de Giovanni Gabriel”, aponta.

Segundo o pesquisador, independente do resultado do júri, o caso Giovanni Gabriel já mudou a forma como as pessoas localmente compreendem como a polícia deve atuar e como a vida dos jovens deve ser respeitada, “em especial dos jovens negros, que costumam ser o principal alvo desses crimes contra a vida.”

“Essa responsabilização dos policiais, se ocorrer, não vai representar o ponto final da luta para garantir a inviolabilidade do direito à vida da juventude negra. Porque para isso a gente precisa mudar a política de segurança pública que a gente tem no Rio Grande do Norte e no Brasil, que é uma política de segurança que prioriza a proteção da propriedade privada e não a inviolabilidade dos corpos e das vidas”, atesta.

Relembre o caso

Na manhã do dia 5 de junho de 2020, Giovanni Gabriel tinha chegado no Loteamento Cidade Campestre, em Parnamirim, para visitar a namorada. Como o relacionamento não era aprovado pelo pai da garota, Gabriel só a visitava quando os parentes não estavam em casa. Ele costumava esconder a bicicleta numa área próxima à casa para evitar maiores problemas.

Nessa mesma manhã, policiais foram acionados após o roubo de um carro em Parnamirim. O veículo pertencia à cunhada de Paullinelle Sidney Campos Silva, sargento da polícia militar que acionou outros três agentes, todos eles lotados no município de Goianinha, para buscas do veículo e responsável pelo roubo.  O grupo deslocou-se, inclusive, para uma área fora de sua guarnição à procura do veículo.

Foi assim que Bertoni Vieira Alves, Valdemi Almeida de Andrade e Anderson Adjan Barbosa de Souza chegaram a Gabriel. O veículo foi encontrado próximo ao local onde o jovem tinha deixado a bicicleta e o rapaz acabou sendo confundido com o responsável pelo roubo do veículo.

Durante as buscas, policiais abordaram Gabriel, que explicou que estava indo visitar a namorada. Os PMs checaram a veracidade da história dele, liberando-o logo em seguida.

No entanto, ao sair de onde estava, Gabriel foi visto por moradores da região que avisaram a uma outra viatura da PM. Ele foi novamente abordado e chegou a avisar aos policiais que já tinha sido abordado por outra viatura. Mesmo assim, foi colocado dentro da mala do veículo. Essa foi a última vez que Gabriel foi visto com vida.

De acordo com as investigações da Polícia Civil, Gabriel foi executado a tiros pelos policiais que deixaram o corpo do jovem em São José de Mipibu, distante 30 km de Natal e 20 km de Parnamirim. 

O corpo de Giovani Gabriel só foi encontrado em 14 de junho, depois das buscas realizadas por amigos e familiares do jovem. Gabriel sonhava em ser professor de educação física e servir ao Exército.

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