Eleição de Biden nos EUA aumenta pressão sobre política ambiental do Brasil, avaliam especialistas da UFRN
Natal, RN 2 de mai 2024

Eleição de Biden nos EUA aumenta pressão sobre política ambiental do Brasil, avaliam especialistas da UFRN

8 de novembro de 2020
Eleição de Biden nos EUA aumenta pressão sobre política ambiental do Brasil, avaliam especialistas da UFRN

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O mundo inteiro está atento às eleições dos Estados Unidos. No Brasil, o presidente Jair Bolsonaro assumiu uma postura arriscada ao fazer campanha para a reeleição de Donald Trump, não apenas porque a vitória foi do opositor democrata Joe Biden, mas também por romper um histórico de diplomacia que o país ostentava.

De acordo com avaliação do professor do Departamento de História da UFRN e especialista em História dos EUA e História das Relações Internacionais, Dr. Henrique Alonso Pereira, personalizar as relações internacionais não traz qualquer benefício a uma nação.

“As relações internacionais não são entre pessoas, são entre Estados. Bolsonaro tem uma posição favorável não a um país, mas a um candidato. Numa eleição apertada como essa, o resultado será a metade do país contra ele. Independente do que acontecesse, o Brasil já estaria em uma situação muito ruim. Nenhum grande país faz isso”, explica Henrique, lembrando que não é a primeira vez que o presidente comete esse tipo de erro.

Em 2019, Bolsonaro declarou apoio a Mauricio Macri na eleição da Argentina, ignorando também que a vitória da oposição poderia gerar atritos nas relações entre os dois países irmãos.

Macri chegou a pedir que Bolsonaro não o apoiasse e enviou carta por meio de chanceler repudiando declarações da família do presidente brasileiro a Alberto Fernandez, vencedor da eleição argentina.

Biden presidente e a crise do meio ambiente

Na opinião de especialistas, com a vitória de Biden, a pressão internacional deve aumentar diante da gestão ruim de Bolsonaro, principalmente na pasta do Meio Ambiente. Se o governo brasileiro mantiver a postura atual, deve sofrer perda de mercados e terá mais dificuldades de prospectar investimentos.

“Acordos comerciais podem ser dificultados. A pressão que já está havendo por causa da má gestão do governo pode crescer. Muitas grandes empresas e fundos já estão deixando de investir”, diz Alonso, ao salientar que a bolsa de valores não tem preferência partidária.

“O que interessa a eles é ganhar dinheiro e eles estão retirando dinheiro do Brasil, entre várias outras razões, por causa da má gestão ambiental”, destaca o professor apontando que o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, não é aceito pela comunidade internacional, assim como o ministro das Relações Exteriores, embaixador Ernesto Henrique Fraga Araújo.

Para o professor do departamento de Economia da UFRN, Dr. Thales Penha, com Biden no poder, o Brasil pode perder mercado no Agronegócio de algumas cadeias produtivas que tem os EUA como destino importante.

Ele pondera ao explicar que importamos mais trigo da Argentina e as exportações são mais volumosas para a União Europeia, deixando os EUA como o terceiro maior destino, atrás da Holanda, Reino Unido e Espanha.

“O Itamaraty teria que fazer uma mudança radical na sua atual política externa, bem como no Ministério do Meio Ambiente”, alerta. “Se a política do governo atual não se adaptar ao modelo dos democratas sofreremos maiores sanções devido à irresponsabilidade ambiental e também em relação a posições na ONU”, destaca Thales, referindo-se a episódios como a “afinidade” que o brasileiro declarou ter com o príncipe herdeiro Mohammed bin Salman, suspeito de ordenar o assassinato de um jornalista.

Thales aposta ainda que a eleição americana deve influenciar outras eleições:

“O reduto de apoio das posições do governo Bolsonaro vai diminuir, e então, perder novos acordos, como já estamos vendo o acordo com a União Europeia - Mercosul naufragar”.

Em outubro, em meio à repercussão das queimadas de florestas na Amazônia e no Pantanal, o Parlamento Europeu sinalizou que a ratificação do acordo comercial entre União Europeia e Mercosul está sob risco devido à política ambiental dos países do bloco sul-americano, numa mensagem direcionada principalmente ao Brasil.

Em 2019, os países da União Europeia importaram juntos 119,3 bilhões de euros em alimentos e produtos agrícolas. Desse total, os Estados Unidos foram o maior fornecedor (11,8 bilhões de euros), seguidos pelo Brasil (11,6 bilhões de euros), que exporta itens como soja em grão e farelo, carne bovina, milho e café.

Rio Grande do Norte

As opiniões se dividem quanto a eventuais interferências do pleito americano no Nordeste e no Rio Grande do Norte. Para o economista Economia Thales Penha, a cadeia de frutas pode ter dificuldades na expansão do mercado. “O Biden pode endurecer as normas sanitárias e ambientais, e o desastre ambiental que o Brasil vive pode gerar um fechamento de fronteira para o setor do agro”, explica.

O historiador Henrique Alonso Pereira demonstra certo otimismo, já que o Nordeste representa em certa medida resistência ao Governo Bolsonaro:

“Se as pesquisas destas eleições municipais se confirmarem, a maioria das Prefeituras, especialmente das capitais, será contrária a Bolsonaro. A eleição do Biden e uma onda de lideranças eleitas contrárias a Bolsonaro, de alguma forma indicam uma mudança em várias questões importantes que envolvem a democracia”, ressalta o historiador.

Efeito Trump no Brasil

Bolsonaro e Donald Trump compartilham de valores antidemocráticos e o chefe do Executivo brasileiro tem visível idolatria pelo político americano. Com Trump presidente dos Estados Unidos, o Brasil assume postura de subserviência, cedendo em parcerias comerciais, aponta Henrique Alonso, chamando atenção também para a tensão que esses dois países criam com a China.

“O maior parceiro comercial do Brasil é a China, não são os Estados Unidos. O que interessa é que nosso país tenha os seus interesses preservados. A gente tá numa pandemia e quer uma vacina efetiva. Vai comprar briga com grandes potências do mundo, as com poder econômico e militar por causa da eleição de Trump?”, questiona o historiador.

Na visão do economista Thales, os chineses são “pragmáticos” e não tomariam a iniciativa de comprar uma briga com o Brasil, mas diante das declarações do presidente brasileiro já estão buscando alternativas à dependência comercial do Brasil, com investimentos fortes na África e na Ásia. “Se o Brasil continuar com essa relação de embate, os chineses podem acelerar esse processo”, conclui.

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