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O pagamento de mais um benefício acumulado por juízes e desembargadores do Rio Grande do Norte, como o da licença-prêmio retroativo a 1996, já demonstrou uma total desconexão do Judiciário potiguar com a realidade de caos financeiro do Estado.
A repercussão negativa foi tamanha que a presidência da Corte decidiu suspender o pagamento até a discussão da matéria pelo Supremo Tribunal Federal. Muito embora, sabe-se agora, o pagamento dependia de uma autorização do Conselho Nacional de Justiça, que sequer foi consultado. Imoral e ilegal, portanto.
O que já era um absurdo ganhou contornos ainda mais surreais após levantamento inédito divulgado, na agência Saiba Mais, pelo economista Aldemir Freire sobre o aumento da extrema pobreza no RN (leia aqui), em especial na capital potiguar.
Segundo o estudo, o número de miseráveis morando em Natal subiu quase 130% em 2017, um contingente de 78 mil pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza na capital potiguar. O percentual de crescimento da extrema pobreza no Estado é maior do que a média nacional.
Alheio a tudo isso, em outubro do ano passado, o mesmo TJRN que chegou a autorizar agora o pagamento de licença-prêmio a magistrados, pagou a 195 juízes e desembargadores R$ 40 milhões de auxílio-moradia, acumulado entre 2009 e 2014.
Isso tudo num Estado cujo Governo não consegue pagar em dia os salários dos servidores há 26 meses consecutivos e sequer quitou o 13º salário de 2017.
Representantes dos Poderes já se reuniram várias vezes para discutir a "crise econômica". No discurso unificado, todos teriam sua parcela de responsabilidade. "A conta não fecha", é o mantra.
A conta não fecha porque o discurso da responsabilidade dividida é falso e mentiroso.
Cada Poder é um Estado particular no Rio Grande do Norte.
Autonomia é um ótimo eufemismo para chantagem por aqui.
Nunca é demais lembrar que o governador do Estado é investigado por corrupção na Justiça, teve as contas de 2016 reprovadas pelo Tribunal de Contas e aguarda o julgamento da Assembleia Legislativa que pode terminar num impeachment.
Mas alguém tem que pagar a conta.
E esse alguém tem nome, sobrenome, CPF e empréstimo consignado
Em janeiro, o Governo enviou para o Legislativo 20 projetos que, em sua maioria, debitavam da conta-corrente dos servidores do Estado os prejuízos da crise. À exceção de um ou dois deputados, a maioria rejeitou as propostas porque os interesses eleitorais gritaram mais alto.
Nesse circo de horrores, que expôs as vísceras do RN nacionalmente, cabem várias análises e uma constatação óbvia:
No Rio Grande do Norte, o apetite por dinheiro e poder é bem maior que a fome por Justiça.