VazaJato: Dallagnol sabia do acordo de Bolsonaro para indicar Moro ao STF; lobby mirava PGR
Natal, RN 26 de abr 2024

VazaJato: Dallagnol sabia do acordo de Bolsonaro para indicar Moro ao STF; lobby mirava PGR

16 de agosto de 2019
VazaJato: Dallagnol sabia do acordo de Bolsonaro para indicar Moro ao STF; lobby mirava PGR

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Em conversa descontraída com o colega Vladimir Aras pelo Telegram, quatro dias após o primeiro turno das eleições presidenciais, em outubro de 2018, o procurador Deltan Dallagnol, chefe da Lava Jato, sinalizou que sabia do acordo entre o pré-candidato Jair Bolsonaro e o então juiz, Sergio Moro, para indicar o magistrado à uma vaga no Supremo Tribunal Federal (STF) após ocupar um “superministério” da Justiça em seu possível governo.

Indagado por Aras se poderia falar com Sergio Moro sobre sua candidatura à PGR, Dallagnol responde:

“Para ter contexto, qual o objetivo de falar com ele agora? Pedir o apoio dele quando for ministro do STF? rs”, respondeu Dallagnol, que atendeu o pedido do colega e iniciou, em plena campanha eleitoral, as articulações para a futura vaga na PGR.

As informações foram reveladas em reportagem do Uol, em parceria com The Intercept, nesta sexta-feira (16).

Moro no STF

Eleito, em 12 de maio deste ano, em entrevista ao vivo ao jornalista Milton Neves, da Rádio Bandeirantes, Bolsonaro confirmou o acordo para alçar Moro ao STF.

“É um compromisso que tenho com ele”, afirmou Bolsonaro, ressaltando que Moro será indicado para a vaga do ministro Celso de Mello, que se aposenta este ano. “Será aplaudido pela nação”, completou.

No dia seguinte, Moro negou o acordo com Bolsonaro. “Não vou receber um convite para ser ministro estabelecendo condição sobre circunstâncias do futuro que não se pode controlar”, disse na ocasião.

Lobby por novo PGR

Os diálogos também mostram que Aras procurou Dallagnol ainda durante o período eleitoral para articular encontros com pessoas que pudessem influenciar na decisão de Bolsonaro, se eleito, na designação do novo PGR.

Aras pede no dia 11 de outubro de 2018 – 4 dias após o primeiro turno das eleições presidenciais – que Dallagnol acione Moro.

“Fala com Moro sobre minha candidatura a PGR”, escreveu Vladimir Aras às 13h22 de 11 de outubro de 2018 – quatro dias após o primeiro turno da eleição presidencial. “Com bolsonaro eleito, vou me candidatar”, completou às 13h23.

Na sequência, às 14h20, Aras diz já ter falado com Moro sobre a candidatura.

“Ele já tem prestígio agora”, cita, antes de emendar que “ele vai ser ouvido pelo presidente na indicação”.

Dallagnol dá, então, aval de que tudo estaria encaminhado.

“Conseguimos articular sua indicação”, diz às 14h27. “Temos várias pessoas para chegar lá”.

No governo

As articulações continuaram após a eleição de Bolsonaro e com Moro alçado ao Ministério da Justiça. No dia 14 de abril, às 15h33, o procurador retoma a conversa com Aras.

“Peço reserva, mas Moro confirmou pra mim que Vc é o candidato que ele vai defender”.

Antes disso, no dia 19 de fevereiro, Aras pediu que Dallagnol o apresentasse a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).

“Vc poderia me apresentar a Barroso e Fachin?”, questionou. “Preciso de aliados no STF”.

Dallagnol aceita a missão. Edson Fachin é relator dos processos ligados à operação na Corte, enquanto Luís Roberto Barroso é tido como o principal defensor das investigações. Além dos dois, Deltan faria contato em abril com Luiz Fux, outro ministro alinhado com a Lava Jato.

O procurador da Lava Jato ainda enviou um texto elogioso a Aras para os ministros.

A mensagem defendia que Vladimir Aras “é um colega sério e ponderado, tem excelente capacidade de diálogo, é comprometido com o Estado de Direito e qualificado para o cargo” e ainda afirmava que, “se indicado, fará um grande trabalho na Procuradoria-Geral”.

O texto no entanto, segundo a reportagem, foi escrito pelo próprio Aras e apenas enviado pelos ministros por Dallagnol.

Os mais cotados

Augusto Aras: Tem perfil conservador na política, economia e costumes. É filho de Roque Aras, ex-presidente do MDB da Bahia. Enfrenta forte oposição de bolsonarisnas radicais, que o chamam de esquerdista.

Paulo Gonet: Tem perfil conservador nos costumes e diz não seguir nenhuma linha ideológica na política. Declarou ser contra o aborto, por exemplo.

Mario Bansaglia: Tem perfil conservador na política e é o primeiro colocado da lista tríplice eleita pelo ANPR (Associação Nacional dos Procuradores da República) em junho, com 478 votos

Raquel Dodge: É a atual procuradora-geral escolhida por Michel Temer, em 2017. Tem perfil conservador e foi a primeira mulher a assumir o cargo. Na época, ela foi a segunda colocada da lista tríplice

Bonifácio Andrada: Descendendo do “patriarca da Independência”, tem perfil conservador nos costumes e boas relações com políticos de direita e ministros do STF. Já foi sócio da Gilmar Mendes.

Antônio Carlos Simões Martins Soares: De perfil conservador, é carioca e tem posicionamento político alinhado ao bolsonarismo.

Luíza Frischeisen: Tem perfil conservador e defende a autonomia do Ministério Público. É entusiasta das forças tarefas. Ficou em segundo lugar na lista tríplice, com 423 votos.

Blal Dallou: Tem perfil conservador e também defende a autonomia do Ministério Público. Ficou em terceiro lugar na lista, com 422 votos.

*Com informações de Revista Fórum e Brasil de Fato

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