Pesquisadora da UFRN assume coordenação no Ministério das Mulheres
Natal, RN 1 de mai 2024

Pesquisadora da UFRN assume coordenação no Ministério das Mulheres

19 de agosto de 2023
5min
Pesquisadora da UFRN assume coordenação no Ministério das Mulheres

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Pesquisadora do tempo e do trabalho doméstico não remunerado, Jordana Cristina de Jesus, professora adjunta do Departamento de Demografia e Ciências Atuariais (DDCA/UFRN) e docente permanente do Programa de Pós-Graduação em Demografia da UFRN (PPGDem), assumiu a Coordenação-geral de Políticas de Cuidados da Secretaria Nacional de Autonomia Econômica, unidade do Ministério das Mulheres.

Entre as atribuições da função no governo federal, está a elaboração da Política Nacional de Cuidados. O conceito de “cuidados” considera as atividades realizadas no dia a dia voltadas para o bem-estar das pessoas e inclui as tarefas cotidianas, como manutenção da limpeza, organização dos domicílios e o apoio a atividades diárias de pessoas com diferentes graus de autonomia ou dependência. A iniciativa busca dar atenção a um aspecto da vida que, muitas vezes, é invisibilizado, mas que é fundamental para o funcionamento da sociedade e das atividades econômicas.

Jordana Cristina descreve que está em um “lugar de consciência privilegiada sobre a sociedade, o sistema de educação e a desigualdade social”, principalmente por ter sido beneficiária de bolsas e programas sociais.

“A primeira bolsa de que dependi foi o Bolsa Escola, ainda na infância. A segunda, Bolsa Família, por mais alguns anos. Lembro-me como se fosse ontem a diferença que os R$45,00 reais dessa bolsa faziam na minha família. Depois, precisei também de uma bolsa para estudar Inglês, porque o nível da escola pública onde cursei o ensino fundamental não era suficiente. Na adolescência, precisei de mais uma bolsa, para fazer o ensino médio em uma escola particular de qualidade. Depois de aprovada na UFMG é que fui ter acesso às três bolsas que geralmente os professores doutores tiveram.”, relata em sua tese de doutorado.

Bacharel em Ciências Atuariais, mestre e doutora em Demografia, Jordana é professora adjunta da UFRN desde 2018, onde, também, atuou na vice-coordenação do curso de Ciências Atuariais. É membro do Grupo de Estudos em Economia da Família e do Gênero (GeFam) e coordenadora do Grupo de Trabalho População e Gênero, da Associação Brasileira de Estudos Populacionais (Abep), com atuação em diversas frentes de pesquisa.

A pesquisadora coordena, por exemplo, o projeto que visa analisar o cuidado de idosos no pós-pandemia. Vinculado ao Programa Inova, da Fiocruz, o estudo busca fomentar respostas de curto e médio prazo para o cuidado desse grupo no contexto pandêmico e pós-pandêmico, por meio de estratégias que combinam ações de pesquisa, de educação e de mobilização social, em três territórios situados em municípios das regiões Norte e Nordeste do país. Também, coordena a Rede de Pesquisa Observatório da Violência (OBVIO), ação que objetiva dar respostas e suprir várias lacunas no que concerne aos estudos sobre violência e criminalidade para o subsídio de políticas de desenvolvimento para a região.

Em pesquisa recente, Jordana Cristina de Jesus apresentou o contexto da chamada “geração sanduíche”, definida por adultos que precisam responder por demandas de seus filhos, mas também de seus pais, sendo, geralmente, mulheres entre 40 e 49 anos, em sua maioria, negras. Em entrevista ao podcast Ciência ao Pé do Ouvido, da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), ela explica que entre os motivos para este fenômeno está a escolha de ter filhos mais tarde, a longevidade e as famílias ficando cada vez menores, o que faz com que muitas pessoas sejam obrigadas a cuidar das duas gerações.

Na tese, de 2018, a pesquisadora criticava o modelo nacional de pesquisa sobre o tema: “Atualmente, 18 países da América Latina e do Caribe coletam dados de uso de tempo. O Brasil é o único país nesta lista que limita a coleta de dados a uma única informação: o número total de horas dedicadas por semana aos afazeres domésticos, disponível na PNAD [Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua] anual. A falta de detalhamento do questionário resulta na subnotificação do número de horas dedicadas ao cuidado de crianças. Além disso, impede-nos de desagregar o consumo de atividades domésticas em atividades gerais e de cuidados, afetando o cálculo das transferências de tempo.”

Dados recém-publicados pelo IBGE mostram que, em 2022, a população com 14 anos ou mais de idade dedicava, em média, 17 horas semanais aos afazeres domésticos e/ou cuidado de pessoas, sendo 21,3 horas semanais para as mulheres e 11,7 horas para os homens. O levantamento do tema Outras Formas de Trabalho, da PNAD Contínua 2022 analisou informações sobre cuidado de pessoas, afazeres domésticos, produção para o próprio consumo e trabalho voluntário.

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