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Por Eliane Macedo*
Eu morei em Natal por uns cinco anos no cantinho mais bucólico da cidade: a Vila de Ponta Negra. Nessa época, era o espaço encantador das rendeiras, dos pescadores, dos cajueiros fartos, da simplicidade, das ruas de areia, da jinga com tapioca, da tranquilidade das portas encostadas. A praia, era das barraquinhas, da Raimunda, do Toninho, da Natureza, do Baiano e outras igualmente descontraídas, todas com comidinha praieira simples e gostosa e a boa água de côco no cantinho do morro arejado e limpo.
Depois de 10 anos sem visitar Natal, voltei no feriadão de sete de setembro. Ao chegar na Vila de Ponta Negra, meu cantinho predileto, levei um susto, não só pela verticalização do bairro, mas pela degradação.
A brisa leve com cheiro de flor, manga e cajú que balançava as cortinas foi substituída pelo odor nauseabundo de excrementos humanos em quase todas as esquinas. As ruas tomadas pelo lixo: tufos de cabelo, cordas e tecidos puídos misturados a isopor, madeira, resto de tudo e qualquer coisa espalhados. A vergonha impregnada de nojo misturada a IMAGEM EMBLEMÁTICA da falta de ação governamental.
E aí o turista desce à praia e assiste rato correndo de onda e uma profusão de gente com medo sob guarda-sóis velhos rasgados no canto do morro, que exala a urina e cocô.
Ao longo da praia, caixotes horrendos de cimento e azulejos abrigam banheiros sujos, poluindo a paisagem, atrapalhando a vista da mais bela praia urbana de Natal.
Sinceramente... enquanto o mundo se volta para preservação ambiental, reciclagem, desenvolvimento sustentável, a cidade de Natal mostra o seu famigerado tecido social esgarçado pela insensibilidade e miséria humana aos seus visitantes, na cara dura, sem dó nem piedade.
Alguém sai de casa à procura de miséria e horror no seu momento de folga?
E na pracinha do Cruzeiro, Vila de Ponta Negra, lugar histórico e símbolo de resistência cultural da cidade, descendentes de gente da pesca, da renda e dos mestres da cultura popular encantam os nossos olhos com suas danças e cânticos tradicionais. Capoeira, lapinha, símbolos das tradições e da cultura popular proporcionam momentos lindos e alegres a quem assiste.
Todo esse contexto que nos leva a reflexão:
- Como pode essa gente oferecer tanta beleza e receber em troca, por parte da prefeitura, a falta de saneamento, de recolhimento de lixo, de iluminação e de limpeza? Que gestão pública é essa? Que gestão de turismo é essa?
Confesso que esses dias em que passei por Ponta Negra, essa riqueza ofertada pelo povo da cultura foi o que me salvou da profunda tristeza e revolta. De resto, muita pena dos moradores da Vila. Um lugar que poderia ter um turismo maravilhoso, alegre, mostrando arte e gerando renda, como se faz em Santa Teresa no Rio, Olinda ou San Telmo na Argentina, e não essa imagem deplorável, essa fotografia que a gente só quer esquecer.
TURISMO MISERIÔ PRÁ QUEM?
Veja as fotos e tire suas conclusões!
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* Eliane Macedo é jornalista de Recife

