O pior do governo é a oposição
Natal, RN 9 de mai 2024

O pior do governo é a oposição

27 de novembro de 2023
3min
O pior do governo é a oposição
O deputado estadual Coronel Azevedo (PL) é um dos representantes da oposição mais tosca do parlamento estadual no RN / Foto: Eduardo Maia / ALRN

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Se estamos mal de governo, como parecem sinalizar sucessivas pesquisas sobre a gestão do estado, estamos de mal a pior em matéria de oposição. A rejeição da alíquota modal de 20% do ICMS na Comissão de Fiscalização e Finanças revelou a indigência do discurso e o primarismo da práxis antipetista na Assembleia Legislativa. Sim, ali não há apenas oposição ao governo, como seria legítimo e desejável no Parlamento. Há como que uma perversão coletiva da vontade política de uns poucos, organizada como ódio a uma ideia ou a um conjunto delas, pela condensação malsã do bolsonarismo difuso em outras instâncias, e que aqui ganha clareza de voz e propósitos, com estridência poucas vezes vista no plenário e nos gabinetes da Casa.

Não se trata de fazer oposição a um governo e seu projeto de Rio Grande do Norte, mas a um partido. Trata-se de fomentar a ingovernabilidade, pela remoção de vantagens no atacado e a criação de embaraços no varejo. Pouco importa se o RN realmente tem direito à compensação, assim como os demais estados nordestinos, todos aquinhoados com alíquotas maiores.

Tampouco importa se a maioria das prefeituras apoia a majoração, que irrigará um pouco mais os cofres paroquiais esvaziados pela injustiça tributária. Em nome da vindita, sejamos perfeitamente bolsonaristas: mesquinhos, arrogantes, ambíguos: condenemos aqui o que defendemos ali. Plantemos dificuldades extras, que amanhã tem eleições municipais.

A oposição está reduzida à caricatura de si mesma. É um mero fumacê soprado por um Coronel Azevedo descortês e auto-deslumbrado, patinando na incontinência verbal e no revanchismo tosco que o leva a confundir seriedade com marra, luta política com birra pessoal e ênfase com grosseria. A obsessão por silenciar com insultos toscos a antagonista que tentava apresentar argumentos pró-ICMS ilumina o verdadeiro propósito da pantomima encenada na CFF.

Por alguns momentos, Azevedo e Isolda ofereceram ao distinto público o retrato do que pode o nosso Legislativo, imprensado entre o voluntarismo de tons populistas, que o leva a sobrepor-se ao Executivo na prestação de serviços, e a indigência intelectual da média parlamentar, que rebaixa liminarmente o debate político à categoria de vomitório ideológico e impede o pleno funcionamento como fórum político.

Se a autonomia orçamentária libertou o Legislativo do garrote financeiro do Executivo, não bastou para elevá-lo automaticamente a um padrão institucional que fizesse do embate situação x oposição um sinônimo de seriedade, responsabilidade, profundidade. Oposição inteligente e madura costuma desnudar o governo e forçá-lo a níveis mais altos. Até aqui, porém, o nivelamento dá-se por baixo, com mais picuinhas do que política de fato. O que é lamentável, porque, na aritmética primária da política, a oposição pode ser tão responsável quanto o governo pelo sucesso ou o fracasso de uma gestão.

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