A solidão de Natália
Natal, RN 10 de mai 2024

A solidão de Natália

4 de dezembro de 2023
3min
A solidão de Natália

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A deputada Natália Bonavides nada de braçada na inércia dos demais postulantes à Prefeitura de Natal, que ainda se enredam nas razões e vontades dos respectivos padrinhos, indecisos entre lançar candidato próprio ou apoiar o de outrem. Disciplinada, ela faz o que precisa: manter aquecido o ambiente de pré-campanha que outros dois vértices do triângulo onde se joga, de fato, o jogo de 2024 – Carlos Eduardo Alves e Álvaro Dias – prefeririam manter frio, até que o cenário se aclarasse pela depuração da lista de pretendentes à direita.

Enquanto os dois consomem o tempo do consenso na cristalização de divergências, Bonavides reina praticamente sozinha como candidata posta e disposta a empreender campanha desde já. E a se posicionar como alternativa programática (e viável) ao continuísmo e ao saudosismo encarnados por qualquer candidato de Álvaro Dias e por Carlos Eduardo Alves, que só podem oferecer o que são: mais dos mesmos.

Até aqui, Natália é a única a assumir frontal e intencionalmente o polo de oposição ao prefeito e ao que ele encarna, como político e como gestor. Os demais consomem-se no fogo brando que Dias tenta manter à temperatura conveniente, sem revelar com que cartas vai ao jogo, enquanto busca musculatura eleitoral empenhando os cobres da Intendência na construção da imagem de grande obreiro.

Ao manter a fricção permanente com a gestão Dias e outros nomes do mesmo campo ideológico, Bonavides sabe que o atrito gera fatos políticos e engajamento com o seu nome. Ao delimitar o campo de jogo, delimita também sua pauta política e a agenda parlamentar, direcionando-as  cada vez mais a Natal. Nada de relevante feito ou dito por Dias fica sem um prego cego cravado por Bonavides.

Obras e manobras do alcaide, seus feitos e desfeitas, planos e enganos,  todos prestam-se a investidas retóricas ou práticas da parlamentar, que usa os temas até para flertar com a fauna bolsonarista em Natalópolis.

Foi assim no episódio da trincheira na Alexandrino/Hermes, fulminado pela reação articulada da classe média alta – empresários, alta burocracia estadual e federal – com domicílio, escritório e outros interesses no entorno do cruzamento. Bonavides deu voz institucional ao movimento e deve ter avançado alguns centímetros na simpatia dessa facção do jet empoderado. Sua coreografia diligente com os temas momentosos contrasta com o alheamento dos oponentes e, principalmente, com a estratégia geral dos outros dois vértices do triângulo.

Dias parece espojado sobre a autoconvicção quanto ao próprio poderio eleitoral: à hora que quiser, eu resolvo essa porra! Depois de exibir-se com o novo pupilo Rafael Motta em algumas agendas, voltou ao jogo duplo. Escondeu o novo pupilo e mudou de adereço tático, posicionando em primeiro plano a secretária do Planejamento, Joanna Guerra, que foi a cara e voz da prefeitura durante a crise das chuvas na semana passada. A indefinição não ajuda. O retardo demove intenções, retarda definições, encarece adesões.

Alves continua a ser ele mesmo. Sem meios, desejos ou habilidades de articulação, faz o que sabe melhor quando é ponteiro em pesquisas: joga parado, como centroavante à antiga, esperando que a bola alheia entre no seu raio curto de ação, para ele dignar-se a chutá-la.

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