Crítico da Folha é suspenso de festival por fala preconceituosa no RN
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Crítico da Folha é suspenso de festival por fala preconceituosa no RN

4 de dezembro de 2023
5min
Crítico da Folha é suspenso de festival por fala preconceituosa no RN
Foto: Alessandro Shinoda/ Folhapress

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“O MinC virou uma ONG, tudo muito burocratizado. E tenho a sensação de que só ganha dinheiro do Ministério da Cultura se for pra fazer produto audiovisual que necessariamente tenha que falar de gay, negro e índio”. A fala atribuída ao crítico de cinema do Jornal Folha de S. Paulo Inácio Araújo, durante a 10ª Mostra de Cinema de Gostoso (24-28 de novembro), no litoral do Rio Grande do Norte, desencadeou denúncias, novas falas preconceituosas, notas de repúdio e o cancelamento da participação do crítico em um festival.

A organização do 18° Fest Aruanda, de João Pessoa, emitiu uma nota, na quarta-feira (29), informando o cancelamento de homenagem ao senhor que é paulista, tem 75 anos, foi montador, roteirista e diretor de filmes:

"Considerando os últimos acontecimentos durante o Festival de São Miguel do Gostoso (RN), que envolveram o crítico de cinema Inácio Araújo, em que falas pronunciadas por ele foram classificadas (por pessoas presentes) como racistas e homofóbicas, a organização do Fest Aruanda – até pelo escasso tempo de apuração dos episódios registrados – decidiu pela suspensão da participação do jornalista que seria homenageado por sua carreira no exercício da crítica há mais de quatro décadas, além de participação em mesa-redonda e no lançamento de um livro. Deste modo, o Fest Aruanda mantém-se alinhado às pautas em defesa da diversidade, do respeito à dignidade humana e avesso, portanto, a todas as formas e manifestações de intolerância."

A Mostra de Gostoso, o governo do estado, por meio da Secretaria Extraordinária de Cultura e Fundação José Augusto, e coletivos audiovisuais participantes do evento também emitiram notas, mas sem mencionar o nome de Inácio.

As falas com teor racista e homofóbico teriam sido proferidas no final da tarde do terceiro dia da mostra, domingo (26/11), durante o “Seminário de Distribuição do Audiovisual Brasileiro: desafios e oportunidades do cinema nacional junto aos públicos e mercados”, com Daniel Queiroz (Embaúba Filmes), Tânia Pinta (Vitrine Filmes), e mediação da jornalista Simone Zuccolotto.

Inácio, convidado do evento, estava assistindo à atividade quando tomou a fala. Na segunda-feira (27), durante o debate sobre os filmes exibidos na noite anterior, uma pessoa denunciou publicamente a conduta preconceituosa do colunista da Folha. A atriz e administradora cultural curitibana Cássia Damasceno questionou naquele momento se os produtores da mostra permaneceriam em silêncio diante do crime cometido. Procurada pela Agência Saiba Mais, a atriz não quis se manifestar novamente sobre o assunto.

Naquela manhã, em resposta à exposição, Inácio Araújo tomou novamente o microfone e, segundo relatos de participantes, disse não ser racista. Usou como um dos argumentos o casamento do filho com uma mulher negra.

A Agência Saiba Mais também buscou o colunista, a Folha de S. Paulo e a produção da Mostra de Gostoso, por meio da assessoria de imprensa e do diretor Eugenio Puppo. Ninguém atendeu ao contato até a publicação desta matéria.  

Confira nota divulgada pelos organizadores do evento:

A Mostra de Cinema de Gostoso se posiciona irrestritamente contra toda e qualquer declaração de cunho racista, misógino, xenófobo, transfóbico ou afirmações cujo objetivo seja menosprezar qualquer grupo étnico, religioso e racial.

Lamentamos imensamente os acontecimentos que se desenrolaram nos espaços de debate promovidos pela Mostra entre ontem e hoje e nos solidarizamos com todos aqueles que foram violentados pelas ofensas ali proferidas.

Nota da Secretaria de Cultura do RN:

A Secretária Extraordinária de Cultura do Rio Grande do Norte e a direção da Fundação José Augusto vem por meio desta nota expressar seu posicionamento acerca do recente acontecimento na 10° Mostra de Cinema de Gostoso, sobre as falas de teor racista e lgbtqiafóbicas proferidas durante o Seminário de Distribuição do Audiovisual Brasileiro no domingo passado (26/11) por um dos presentes, o qual nos posicionamos veemente contra.

Ao retomarmos a missão institucional junto ao Ministério da Cultura (MinC) do Brasil, buscamos constantemente restabelecer anos de desmonte desse setor. Por isso, nossa maior missão hoje é garantir a toda população brasileira o direito de fazer cultura, de acessar bens e serviços culturais.

Diante disso, mais do que repudiar qualquer tipo de preconceito, discriminação, intolerância, entre outros, a Secretária e a direção da FJA estimulam, reafirmam e colocam a importância de cada vez mais serem produzidos filmes com temáticas negras, indígenas, ciganas, lgtqia+, como também no corpo de suas equipes haver essa pluralidade. Pois ao longo dos tempos essas realidades, dentre outras, foram silenciadas em nosso país. Dessa forma, é importante que elas recebam seu lugar de destaque. E o audiovisual é um caminho muito importante para que essas realidades sejam debatidas e divulgadas.

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