Brasil é o país dos Porsches e Mercedes assassinos e com vida própria
Natal, RN 9 de mai 2024

Brasil é o país dos Porsches e Mercedes assassinos e com vida própria

3 de abril de 2024
5min
Brasil é o país dos Porsches e Mercedes assassinos e com vida própria

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Nesta semana soubemos do trágico caso do motorista de aplicativo Ornaldo da Silva Viana, de 52 anos, que foi assassinado - o termo é esse - por Fernando Sastre de Andrade Filho, 24, que bateu seu seu Porsche a 130 km por hora no veículo de Ornaldo, que morreu a caminho do hospital, em São Paulo. Agravantes: Fernando não fez teste do bafômetro mesmo mostrando sinais de embriaguez e foi levado do local pela mãe com o pretexto de ir ao hospital fazer exames, o que não aconteceu. Dias depois ele se apresentou à polícia e foi liberado.

O que me fez lembrar do caso de anos atrás em João Pessoa, também, com um Porsche, dirigido pelo empresário Rodolpho Carlos Silva que passou por uma blitz da Lei Seca, por volta das 2h da manhã em João Pessoa, descumprindo a ordem de parada dada Detran-PB, e atropelou o agente Diogo Nascimento de Souza que morreu no hospital. Rodolpho fugiu, mas a placa do automóvel caiu no local e foi recolhida pela equipe. Ele teve prisão preventiva decretada quase que imediatamente, no entanto, menos de doze horas após a decisão, o desembargador Joás de Brito, futuro presidente do Tribunal de Justiça da Paraíba, mandou soltar o empresário, antes mesmo do mandado de prisão ser cumprido.

E não temos como esquecer ainda o caso Thor de Oliveira Batista, filho do empresário Eike Batista, que no volante de uma Mercedes-Benz SLR McLaren prata, atropelou e matou o ciclista Wanderson Pereira dos Santos, 30 anos, que cruzava a Rodovia Washington Luís, na altura de Xerém, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. Julgado, Thor Batista foi absolvido em 2015 pela 5ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro após ser condenado em primeira instância.

Três homicídios ao volante no qual os motoristas/criminosos não foram presos (apenas tiveram suas habilitações suspensas temporariamente). Se homicídio é crime no Brasil, parece que a lógica não se aplica ao trânsito. Quando o caso em questão envolve carros de luxo, claro, como Porsches e Mercedes, cujos preços variam entre 600 mil e um milhão de reais. Carros de luxo mais que ostentação e tecnologia são indicativos de riqueza. Muita riqueza. E não é de hoje que sabemos que ricos no Brasil não apenas se consideram uma casta superior, privilegiada, como assim são tratados não só pelo judiciário como pela polícia e pela imprensa.

Tanto é verdade que no primeiro caso aqui citado, a PM simplesmente liberou do local do acidente/crime, um cidadão que dirigia a 130km/hora em via urbana em possível estado alterado. Teria o mesmo comportamento se o motorista infrator estivesse em um Fiat Uno Mille ou um Celta?

E quanto à imprensa, outro horror foi ler nas manchetes coisas como "Porsche bate em carro e motorista de aplicativo morre". Foi assim também nos acidentes/assassinatos de Rodolpho e Thor. Nas manchetes, apenas as marcas dos carros, como se tivessem vontade própria. Cheguei a ler no Twitter comentário irônico de uma amiga de que para a imprensa brasileira, o Brasil é repleto de carros como Christine, o Plymouth Fury vermelho e branco de 1958, do filme "Christine, o Carro Assassino", de John Carpenter, filme estadunidense de 1983, baseado no romance de horror de Stephen King. No filme e no livro, o carro começa a ter uma personalidade ciumenta e possessiva em relação ao dono e começa a agir por conta própria. Que é como Folha, Estadão, Globo, UOL e Veja percebem carros de luxo no Brasil quando envolvidos em sinistro.

Nós, pobres mortais que pagamos por anos para ter carros de médio porte, sabemos bem que ao volante de um veículo há um motorista, responsável pela velocidade do carro e por seguir - ou não - as leis de trânsito. E que se esse motorista for preso em flagrante, indiciado, execrado pela mídia e julgado/condenado, vai depender de que tipo (e preço) de carro ele tem. No país onde carros de luxo têm vida própria e matam pessoas no trânsito para complicar (só um pouco) a vida de seus pobres donos, ter carros simples, básicos, é um indicativo de que você não tem tanto dinheiro, logo, é de uma casta inferior e responsável pelos seus atos e pelo que faz no seu veículo. Aqui embaixo as leis são diferentes, como cantava em "Zé Ninguém", a banda Biquini Cavadão.

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