Caso Gabriel: após 4 anos e 3 adiamentos, policiais vão à júri popular
Natal, RN 4 de jul 2024

Caso Gabriel: após 4 anos e 3 adiamentos, policiais vão à júri popular

2 de julho de 2024
7min
Caso Gabriel: após 4 anos e 3 adiamentos, policiais vão à júri popular
Familiares, amigos e movimentos sociais clamam por justiça | Foto: Jana Sá

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Um novo julgamento do caso Giovanne Gabriel de Souza Gomes iniciou na manhã desta terça-feira (2), na 1ª Vara Criminal de Parnamirim, reunindo familiares e amigos da vítima; dos quatro policiais acusados do crime e integrantes de movimentos sociais que clamam por justiça. A polícia fechou a rua e proibiu manifestações por determinação da direção do Foro da Comarca, mas apoiadores dos militares ainda estenderam uma faixa os chamando de “heróis”.

O deputado federal bolsonarista, Sargento Gonçalves (PL), esteve no fórum e se solidarizou com os réus.

O julgamento anterior deveria ter acontecido em 4 de junho, mas foi adiado porque um dos jurados sorteados para participar do processo se declarou amigo do réu. Por volta das 10h30 desta terça, foi montado o Conselho de Sentença, formado por duas mulheres e cinco homens.

Pouco antes da sessão começar, a mãe de Gabriel, Priscila Souza, falou sobre as “várias surpresas” de última hora. 

“Primeiro começaram um cadastramento para poder entrar. Depois tivemos a rua bloqueada para o pessoal não ficar. Um absurdo, uma vergonha”, criticou, antes de prosseguir:

“São quatro anos de luta, e a gente não pôde usar cartaz aqui na frente. Eu sou a vítima. Era para deixar eu fazer o que eu quisesse. Porque eu sou a prejudicada, eu sou a massacrada. É um absurdo o que estão fazendo comigo”, lamentou.

Ela se referia às restrições impostas em portaria emitida em conjunto pela 1ª Vara Criminal de Parnamirim e pela com a Direção do Foro da Comarca, para disciplinar o acesso e permanência do público e de profissionais da imprensa na sessão do júri. 

O documento proibiu a realização de manifestações individuais ou coletivas que possam de algum modo perturbar a tranquilidade dos trabalhos no interior e na frente do prédio do Fórum, devendo haver respeito aos limites definidos pelas barreiras físicas instaladas para garantir o respeito a esta determinação, sob pena de remoção dos desobedientes. 

Segundo a portaria conjunta, as determinações buscam garantir aos jurados proteção contra constrangimentos, perturbações e pressões que ponham em risco sua isenção para julgar de acordo com a consciência e os ditames da justiça.

“Para mim é um massacre”

Depois de quatro anos da morte do filho e de três adiamentos do julgamento, Priscila classificou a espera por justiça como um “massacre”.

“Eu estou nessa luta há quatro anos. Para mim é um massacre. Eu não vejo a hora que isso acabe. Não fui eu que descobri esses assassinos, não. Quem descobriu foi a Justiça”, afirmou.

“Se a Justiça investigou, se trouxe nomes, que responsabilize”, pediu.

Ao centro, Priscila Souza, mãe de Gabriel | Foto: Jana Sá

O advogado de acusação, Hélio Miguel, demonstrou confiança com as provas coletadas, que demonstrariam a responsabilidade de Paullinelle Sidney Campos Silva, Bertoni Vieira Alves, Valdemi Almeida de Andrade e Anderson Adjan Barbosa de Sousa, todos da PM, na morte de Gabriel.

“A Polícia Civil fez um trabalho técnico de reunir tanto provas testemunhais, mas especialmente a das estações de rádio base que fazem uma triangulação, estimam e indicam a presença dos policiais na hora em que Gabriel estava indo para a casa da sua namorada. Nós temos a intenção de apresentar essas provas e fazer esse convencimento aos jurados para que a gente consiga a condenação dos quatro policiais”, afirmou.

A promotora do Ministério Público, Fernanda Lacerda, explicou que os quatro militares estão sendo acusados de homicídio qualificado e também respondem a outro processo na seara da Justiça Militar, que ainda está em andamento, em fase de recurso.

“O Ministério Público entende que fez uma acusação responsável, com base num inquérito policial levado a efeito pela própria Delegacia Especializada de Homicídios. É um inquérito policial com bastante produção probatória e que é suficiente, sim, para a condenação.”

Também promotor do MPRN, Vinicius Lins explicou como funcionaria a sessão, começando com a instrução em plenário e seguido das testemunhas da acusação, da defesa, interrogatório dos réus e debates. 

“É difícil estimar o tempo de julgamento, porque vai depender da instrução em plenário, do que irá acontecer. Mas a gente prevê que teremos essa semana para trabalhar e mostrar aos jurados que os quatro réus estão implicados na morte de Gabriel”, comentou.

Relembre o caso

Na manhã do dia 5 de junho de 2020, Giovanne Gabriel havia saído de sua casa, no Guarapes, para visitar a namorada, que morava no Loteamento Cidade Campestre, em Parnamirim.

Ele tinha acabado de chegar ao local, mas como o relacionamento não era aprovado pelo pai da garota, Gabriel foi esconder a bicicleta numa área próxima à casa para evitar maiores problemas. 

Nessa mesma manhã, policiais foram acionados após o roubo de um carro em Parnamirim. O veículo pertencia à cunhada de Paullinelle Sidney Campos Silva, sargento da polícia militar que acionou outros três agentes: Bertoni Vieira Alves, Valdemi Almeida de Andrade e Anderson Adjan Barbosa de Souza, todos lotados no município de Goianinha, para buscas do veículo.

O grupo deslocou-se, inclusive, para uma área fora de sua guarnição à procura do veículo. O carro foi encontrado próximo ao local onde Gabriel tinha deixado a bicicleta e o rapaz acabou sendo confundido com o responsável pelo roubo do carro.

Durante as buscas, uma primeira equipe de policiais abordou Gabriel, que explicou que estava indo visitar a namorada. Os PMs checaram a veracidade da história e liberaram ele.

Porém, ao sair da área de mata onde estava, Gabriel foi novamente abordado, dessa vez, por outra equipe de policiais, avisados por moradores da região sobre “um jovem em atitude suspeita” no local.

Gabriel foi novamente abordado e chegou a avisar aos policiais que já tinha sido revistado por policiais de outra viatura. Mesmo assim, ele foi colocado dentro da mala do veículo. Essa foi a última vez que Gabriel foi visto com vida. 

De acordo com as investigações da Polícia Civil, o jovem foi executado a tiros pelos policiais, que deixaram o corpo dele em São José de Mipibu, distante 30 km de Natal e 20 km de Parnamirim, onde ficava a casa da namorada.  

O cadáver de Giovanne Gabriel só foi encontrado em 14 de junho, depois das buscas realizadas por amigos e familiares do jovem. Gabriel sonhava em ser professor de educação física e servir ao Exército.

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