A carta de Antônio
Natal, RN 30 de abr 2024

A carta de Antônio

2 de novembro de 2019
A carta de Antônio

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Por Karina Moraes*

A hilaridade é a marca de Antônio, que vez ou outra nos apavora com a preocupação de fazermos um movimento em favor da saúde mental, constante e integrado com várias instituições de saúde. Ele, como ninguém, sabe todos os dramas que uma pessoa em sofrimento mental pode passar. Entre nós, há gente que pensa que doenças da mente são preguiça, exaustão, ilusão, imaginação ou hipérboles nas maiores instâncias. Mas Antônio, que superou a dor, tem conhecimento para saber que não: a alegria dele se esconde quando vê um caso de sofrimento ao seu lado.

E por causa disso há na Associação Plural muitos militantes que se calam quando a graça de Antônio não está presente. Pelas nossas conexões de afeto e cuidado, não é difícil identificar que isso é um sinal de alerta. Então, suas boas risadas e cantorias são sempre motivo para nos reconhecer como um grupo que caminha saudável.

Sendo um dos membros mais antigos e assíduos do coletivo, Antônio participa das reuniões semanais (atualmente no laboratório de Psicologia da UFRN), desde 2009. Mais ou menos um ano depois que a Associação Plural foi criada. Ele representa muitos usuários da saúde mental que conseguiram mais equilíbrio em tratamentos fora do ambiente de hospitais psiquiátricos.

Aliás, como todo participante e colaborador da “Plural” (nome dado a todos que se envolvem com o movimento da associação), Antônio é anti-manicomial e suas lutas, desde a militância dessa associação, têm transgredido o que a sociedade pensava para uma pessoa como ele, que um dia já esteve na angústia do adoecimento mental.

“Eu sinto muito amor pela Plural, mas não porque não estava bem. Eu tive a capacidade de amor por colega e coloco muito amor em tudo que está faltando”, escreve Antônio em sua poesia, sempre tentando levar afeto aos seu amigos.

Mas aí está. A questão toda vem da banalização e a estigmatização dos transtornos que impede, tantas vezes, muitos de enxergarem que há muita poesia e arte na "loucura". Além disso, a beleza do afeto e dos sentimentos, nesta sociedade com tecnologia que caminha para uma sociedade completamente “robótica”, quase se perde.

“Temos que falar de medicamentos controlados e discutir o uso da medicação”, questiona Antônio, o qual já passou por problemas de "super-medicação".

A maioria dos transtornos mentais pode ser tratada com um diagnóstico preciso, desde que em ambiente acolhedor e social, como busca a Plural. Já Antônio também sempre lembra que tem contado com o apoio da família para superar suas lutas em relação a doença. Na sua última carta escrita durante a reunião do grupo, Antônio escreveu suas percepções de vida ao lado de pessoas que o ajudar a viver melhor sua jacosidade.

Abaixo, a carta de Antônio aos amigos da plural, escrita do próprio punho em letras coloridas de caneta bic azul e vermelha:

- " Eu sinto muito amor pela Plural, mas não porque não estava bem, mas eu fui e capacidade de amor por colega, coloco por muito amor por tudo que está faltando. Eu muito grande desejo que eu tenho por você muito. Ela tem que falar sobre os medicamentos controlados por Carlos Feitosa, que estais como muito amigo de Recife e como amigo em Natal de medicina que fica com canta palavra.

Não fica com outro! Mãe que fala médico é outra coisa. Medica tambem eu. Coisa que sente ou grande final de mês ' outubro azul (?)'para que você! sempre sinta muito importante! Para você sentir o momento de muito amor que sempre está rolando. O amigo Mario Alberto!"

*Karina Moraes é jornalista e membro da Plural

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