A lição de Fátima
Natal, RN 30 de abr 2024

A lição de Fátima

30 de dezembro de 2022
4min
A lição de Fátima

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Os jornalistas mais experientes costumam dizer que a notícia, às vezes, está onde ninguém vê. Esta semana, por exemplo, a governadora Fátima Bezerra inaugurou o Hospital da Mulher, em Mossoró. A obra, pela importância e o impacto, deveria ter monopolizado todo o noticiário. Mas não são tempos normais, ainda que novos ares já circulem pelas frestas aqui e ali.

O que mais chamou a atenção na solenidade, no entanto, não foi a imponente estrutura de concreto que vai mudar para melhor a vida de milhares de mulheres daquela região, especialmente. Por incrível que pareça, neste caso, uma imagem congelada pelas lentes do fotógrafo Sandro Menezes foi mais emblemática que um serviço público entregue à população.

Na foto divulgada pela assessoria do Governo do Estado, Fátima aparece ao lado de auxiliares da gestão, políticos aliados e de dois personagens mossoronses conhecidos da política local: o prefeito Allyson Bezerra e a ex-governadora e ex-prefeita da cidade Rosalba Ciarlini.

Em qualquer democracia do mundo, onde as instituições realmente funcionam, aquela seria uma imagem banal de uma inauguração qualquer, ainda que importante pelo valor material e imaterial da obra concluída. Mas no Brasil, não. E no Rio Grande do Norte dos últimos quatro anos, menos ainda.

Quando o Congresso Nacional der posse ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva neste domingo (1º), o país encerra um dos capítulos mais imundos de sua jovem democracia. Em quatro anos, autoridades federais envergonharam o Estado, bajulando o chefe, rasgando o rito da institucionalidade e desrespeitando o cidadão.

Enquanto ocuparam seus respectivos cargos, os ex-ministros Fábio Faria e Rogério Marinho fingiram que Fátima não existia e ignoraram a principal autoridade do Executivo estadual em solenidades e inaugurações de obras ou programas financiados por verbas públicas federais. Nem é necessário dizer que, quando esteve em solo potiguar, o presidente fez o mesmo. Preconceito, misoginia.

Adversária política, Fátima foi transformada em inimiga pessoal. Além de não ter sido convidada para as agendas administrativas, a governadora ainda era ofendida de forma covarde e atacada sem que lhe dessem a oportunidade de defesa.

Para a solenidade de inauguração do hospital da Mulher, Fátima convidou dois adversários políticos. O atual prefeito, principal autoridade municipal constituída, e a ex-governadora do Estado, cuja gestão foi responsável pela elaboração do primeiro projeto da unidade.

E cá pra nós, Fátima não fez mais do que a obrigação dela. Essa é a diferença.

Eu era repórter de um jornal já extinto de Natal quando o aeroporto internacional de São Gonçalo do Amarante foi inaugurado, em 2014. Na solenidade, estavam lado a lado a presidenta da República Dilma Rousseff , a governadora da época Rosalba Ciarlini, os senadores José Agripino Maia e Garibaldi Alves Filho, além de parlamentares federais e estaduais, inclusive a deputada federal Fátima Bezerra.

Era um palanque recheado de adversários políticos. Legitimamente eleitos por uma parcela da população, mas representantes de todos.

A certa altura, quando Rosalba foi anunciada, uma vaia começou a tomar conta do local armado para o evento. Eu estava no espaço reservado à imprensa posicionado em frente à presidenta. Dilma franziu a testa, fechou a cara e falou algo com Fátima, posicionada atrás dela e visivelmente constrangida com o apupo do público. A deputada balançou a cabeça negativamente e, após Dilma reclamar ao microfone, as vaias viraram aplausos.

Porque é assim que funcionam em países democráticos.

E é assim que Fátima e Lula devem governar para refazer pontes, reatar laços e reconstruir o país.

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