Adoecimento psíquico e dependência química: coletânea de 200 poemas e prosas aborda as questões
Natal, RN 30 de abr 2024

Adoecimento psíquico e dependência química: coletânea de 200 poemas e prosas aborda as questões

9 de abril de 2023
7min
Adoecimento psíquico e dependência química: coletânea de 200 poemas e prosas aborda as questões

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Adoecimento psíquico e dependência química. As expressões, historicamente carregadas de pré-conceitos, ganham novas perspectivas e significados a partir de uma coletânea de 200 poemas e prosas. Trata-se da mais recente obra do poeta potiguar Thiago Medeiros: “No Pescoço do Infinito”, uma realização dos selos independentes Insurgências Poéticas & Giro e da editora Offset, e direção de arte de Rita Machado. O livro está em pré-venda pelo site do Insurgências Poéticas (www.insurgenciaspoeticas.com.br), até o dia 30 de abril de 2023.

Além de garantir o exemplar, o público fomenta a produção artística independente no Nordeste do país, se torna parceiro direto das ações da Clínica Maria Pureza Ferreira, estimulando o cuidado com a saúde mental desde a base, e faz com que exemplares da obra cheguem a bibliotecas de escolas estaduais da rede pública de ensino que atendam a educação de jovens e adultos”, explica Thiago Medeiros que este mês completa 34 anos de vida e 16 anos ininterruptos na arte.

Thiago tem uma trajetória consolidada no mundo literário, com outros quatro livros publicados, e esse novo trabalho reafirma seu talento e sua sensibilidade como poeta, aliando experiências individuais e coletivas, realizadas em uma unidade do CAPS (Centro de Atenção Psicossocial), na Cidade do Natal/RN.

Ele nasce da observação inquieta de um ariano atrelado à ciência. Clarice Lispector dizia que a palavra era o domínio dela sobre o mundo, no meu caso, é a minha maneira de lançar reflexões necessárias e urgentes”, afirma Thiago.

Thiago Medeiros nasceu no final dos anos 80, cresceu em uma periferia entre os bairros do Alecrim e Passo da Pátria. É fruto da educação pública de ensino, passando por ensino regular e turmas de EJA. É graduando do curso de ciências sociais na UFRN. Iniciou o seu trabalho com a arte através do projeto social Arte Ação, desenvolvido pela Casa da Ribeira, em 2007, na escola em que estudava à época, o Atheneu Norte-Riograndense. Participou de mais de 15 produções teatrais, dos principais festivais de arte e literatura do RN e da 29a Bienal de Arte de São Paulo, em 2011, junto com Henrique Fontes. Criou e mantém com outros artistas o Insurgências Poéticas (sarau, selo independente e coletivo artístico), desde 2016. No Pescoço do Infinito é o seu quinto livro.

Confira a entrevista de Thiago Medeiros à Agência Saiba Mais.

Saiba Mais - Depois de dois anos sem lançar uma obra inédita, qual o significado dessa obra?

Thiago Medeiros - Esses dois últimos anos foram desastrosos nos mundos (no macro e no individual) pandemia, luto, um desgoverno federal… Esses eventos marcaram a nossa geração, afetando diretamente a saúde mental de pelo menos 25% da população brasileira, segundo dados da OMS, e preocupando especialistas que sugerem estarmos vivendo uma segunda pandemia, a do adoecimento mental e químico. Em Natal, segundo a SMS (secretaria municipal de saúde), o atendimento a pessoas com transtornos mentais e comportamentais cresceu em 32%, desde 2018, nas unidades do CAPS (Centro de Atenção Psicossocial): “é como se três natalenses por hora procurassem atendimento em uma unidade ao longo do ano”.

No Pescoço do Infinito, meu novo trabalho com literatura, nasce neste contexto. A saúde mental sempre foi uma pauta ativa em minha trajetória enquanto indivíduo e artista. Há 9 anos faço sessões de terapia semanais e há 1 ano tenho acompanhamento psiquiátrico. O que me impressiona e motiva a colocar esses temas em debate, além de serem urgentes, conforme os dados apontados pela ciência, é o pré-conceito sobre o cuidado com a saúde mental e a romantização com o consumo de álcool que ainda, segundo a OMS, afeta 3% da população brasileira. Mais de 4 milhões de pessoas são alcoólatras.

A arte que venho produzindo em Natal, nestes últimos 16 anos, sempre esteve em consonância com os acontecimentos importantes de serem debatidos nos mundos (coletivo e individual).

A ciência e a arte me salvaram, no sentido de me impedirem de tirar a minha própria vida, por adoecimentos mentais não tratados com a seriedade que merecem.

A narrativa desse livro é pautada em referenciais individuais e coletivos, numa dramaturgia que desenha queda e reconstrução, nos quase 200 poemas inéditos, divididos nas 100 páginas que compõem a obra que foi construída entre os meses de novembro de 2022 e março de 2023.

Saiba Mais - Como se deu o encontro e pesquisa com o CAPS?

Thiago Medeiros - Parte do (pré) conceito da sociedade em buscar ajuda clínica é a questão financeira. Em 2022, fui investigar o que tinha disponível a mim, um não herdeiro, pertencente à classe trabalhadora formal ou informal desde os 11 anos de idade. Junto com uma amiga, buscamos atendimento em uma unidade do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), onde tivemos acolhida, encaminhamento e acompanhamento clínico.

Desde novembro de 2022, realizando experiências grupais propostas pela unidade, atrelada à linhas da antropologia, área da minha pesquisa acadêmica e que foram balizadoras para trazer esses temas, através dos poemas, prosas e quase contos que compõem a obra.

Ele nasce da observação inquieta de um ariano atrelado à ciência. Clarice Lispector dizia que a palavra era o domínio dela sobre o mundo, no meu caso, é a minha maneira de lançar reflexões necessárias e urgentes.

Saiba Mais - Como surgiram as parcerias com a Clínica Maria Pureza Ferreira e com Escolas Públicas que atendem a EJA (Educação de Jovens e Adultos)?

Thiago Medeiros - Ambas as vontades e parcerias nasceram do afeto.

Um amigo muito importante em minha jornada enquanto ser humano me contou que era sócio da clínica e que, entre os serviços ofertados à população do Vale do Açu, estava o atendimento clínico para crianças e adolescentes. Fiquei refletindo como ser parceiro e acredito que chegou a hora. Desde sempre cumpri mais que duas cargas horárias de trabalho para viver com a mínima dignidade, eu que sou uma família solo, sem dinheiro no banco, sem parentes importantes e vindo da periferia, frequentei algumas turmas da EJA até conseguir concluir o ensino médio e ser o primeiro de minha micro família a ocupar um espaço no ensino superior. Sei que essa é a realidade de muitas pessoas que tentam driblar as rotinas e ter a possibilidade de concluir as etapas do ensino formal e ter inserção ao mercado de trabalho, ou até mesmo, melhorar a autoestima. Faço questão de ir em cada escola entregar os livros, junto com minha amiga muito querida, poeta, professora e arteterapeuta, Michelle Ferret, conversar com essas turmas para que tenham acesso à uma obra contemporânea, produzida com competência e sensibilidade por uma pessoa humana que, assim como esse público, vem tentando driblar as dificuldades para conseguir sobreviver em sociedade com a mínima dignidade.

Produção independente e pré-venda

Thiago Medeiros - No Pescoço do Infinito é uma obra literária de poemas, prosas e quase contos, com direção de arte de Rita Machado (parceira de vida e arte do autor desde o início de sua trajetória), produzida de forma independente entre os selos editoriais Insurgências Poéticas e Giro Selo Artístico, juntamente com a editora Offset.

O livro está em pré-venda pelo site do Insurgências Poéticas, até o último dia de abril de 2023, além de garantir o exemplar, o público fomenta a produção artística independente no Nordeste do país, se torna parceiro direto das ações da Clínica Maria Pureza Ferreira, estimulando o cuidado com a saúde mental desde a base e faz com que exemplares da obra cheguem à bibliotecas de escolas estaduais da rede pública de ensino que atendam a educação de jovens e adultos.

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