Tibau: Estudantes participam da maior feira de ciências do mundo
Natal, RN 8 de mai 2024

Tibau: Estudantes participam da maior feira de ciências do mundo

12 de novembro de 2023
5min
Tibau: Estudantes participam da maior feira de ciências do mundo

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Por Carol Ribeiro

As jovens Alice e Mayara tinham 16 e 17 anos, respectivamente, quando perceberam que poderiam reutilizar resíduos naturais acumulados na praia de Tibau, cidade litorânea do Rio Grande do Norte de pouco mais de 4 mil habitantes, para reduzir índices de poluição nos oceanos. Elas só não imaginavam que um trabalho de feira de ciências da escola pública onde estudavam as daria possibilidade de participar da maior feira de ciências do mundo, nos Estados Unidos.

Alice Kerouly e Mayara Louise, estudantes da Escola Estadual Rui Barbosa, tiveram o trabalho "Sea Sponge" classificado para a Feira de Ciências do Semiárido Potiguar, que reúne os trabalhos científicos dos estudantes da educação básica do Rio Grande do Norte,realizados em 2022.

Premiadas em 2º lugar, elas obtiveram credenciais para participar da Mostratec, a maior mostra internacional de ciência e tecnologia da América Latina, no Rio Grande do Sul, em 2023. Com viagem custeada pela 12ª Diretoria Regional de Educação e Cultura do RN, do Governo do RN, lá as estudantes alcançaram mais uma vez a segunda colocação na categoria Ciências Ambientais, título que as credencia a participar da International Science Engineering Fair (ISEF), a maior feira internacional de ciências para estudantes da educação básica do mundo, em Los Angeles, nos Estados Unidos, em 2024. 

Sea Sponge

No trabalho, que só pelo título já se propõe internacional, as jovens identificam que qualquer tipo de derramamento de óleo nos oceanos é catastrófico. O Brasil produz 9 bilhões de litros de óleo por ano, sendo 1/3 para óleos comestíveis. Estima-se que pouco mais de 1% dessa produção é reciclada, resultando em cerca de 200 milhões de litros de óleo mensalmente descartados no meio ambiente.

Foto: Carol Ribeiro

Com um litro de óleo descartado de forma incorreta, há a contaminação de 25 mil litros de água em uma superfície de 100 m2. Em contato com a água do mar, o óleo forma uma película que impede a penetração dos raios solares e como consequência a morte dos peixes e algas.

Além disso, elas perceberam que o exoesqueleto, ou a casca do camarão, também é descartado de forma incorreta e gera um novo problema ambiental, já que é um material insolúvel e de difícil decomposição. No entanto, unido à fibra do coco, material de baixo valor agregado, biodegradável e abundante no litoral, poderia dar luz à solução de parte da poluição marítima.

Com a casca do camarão e a fibra do coco, as meninas criaram três espécies de "filtros" para a água do mar, uma rede, uma boia e uma peneira. A rede, protótipo que obteve maior índice de retenção da poluição, alcançou percentual de 98,2%. Os demais também foram satisfatórios, com 92% e 72,5%.

Rio Grande do Sul e Los Angeles

Os bons resultados chamaram a atenção dos professores que analisaram o trabalho no Rio Grande do Sul.

"O que mais chamou a atenção foi a observação do problema do cotidiano e da nossa realidade em Tibau. Nós procuramos um problema local", disse Mayara.

A professora orientadora do trabalho, Yandra Mota, vê não somente a preocupação ambiental, mas também social do trabalho, ao observar o prejuízo aos pescadores causados pelo derramamento de óleo, e pelo descarte incorreto dos resíduos naturais.

"Foram dias difíceis de feira, cansativos e com dificuldades, mas ao subir naquele palco, em meio a 785 projetos, de 15 países diferente, na maior feira de ciências da América Latina, recebendo a medalha de segundo lugar e a credencial para a maior feira de ciências do mundo, afirmo que o maior dos sentimentos foi a gratidão", descreveu Alice.

Dentre as dificuldades apontadas, a xenofobia foi, para as duas, a maior delas. “Falta de aceitação da nossa cultura nordestina, olhares e comentários", disse Alice.

O fato de serem duas mulheres num ambiente predominantemente masculino não as afetou. "Pouco a pouco estamos ocupando espaço. A ciência é uma área masculina, mas pouco a pouco estamos buscando ter nosso direito, estamos chegando no lugar que merecemos. Possível através de muito esforço. É um sonho realizado", pontuou Mayara.

Essa reportagem faz parte do projeto "Saiba Mais de perto", idealizado pela Agência SAIBA MAIS, e financiado com recursos do programa Acelerando Negócios Digitais, do ICFJ/Meta e apoio da Ajor".

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