Vic Kabulosa: voz e resistência preta e LGBT da Zona Norte 
Natal, RN 26 de abr 2024

Vic Kabulosa: voz e resistência preta e LGBT da Zona Norte 

30 de janeiro de 2024
9min
Vic Kabulosa: voz e resistência preta e LGBT da Zona Norte 
Moradora da Zona Norte, a artista bebeu de fontes da região e das noites no bairro Potengi. Foto: cedida

Ajude o Portal Saiba Mais a continuar produzindo jornalismo independente! Apoie com qualquer valor e faça parte dessa iniciativa.

Quero Apoiar

Vic Kabulosa é a voz de muitas meninas, corpos LGBTS e figuras impossíveis que foram ocultadas durante o tempo”. É assim que se define Vic Kabulosa, multiartista, cantora, estudante de música na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), além de ser professora de música e de expressão corporal e uma voz da resistência preta e LGBTQIAP+ da Zona Norte de Natal. A artista é considerada uma promessa do cenário artístico potiguar da Zona Norte. Mulher trans e preta, Vic ousa e desafia uma sociedade machista, racista e transfóbica. 

É uma junção de dores, é uma junção de alegria, é uma compilação de arte que me faz estar viva, podendo cantar e podendo usar todas as minhas dores como uma forma de resistir e de dizer: ‘Olha o canto do povo negro. Olha o canto do povo LGBT. Olha como tudo isso faz ser quem sou”, desabafa a multiartista. 

Vic Kabulosa surgiu na contramão do sistema sendo a voz da resistência, da ocupação e do incômodo. Vindo da periferia e das noites potiguares, a cantora bebeu de todas as referências que um artista potiguar pode ter.

Ela surge das noites da Redinha, das noites do Santarém, do Soledade e desse outro lado da ponte. Então, por isso o nome ‘Kabulosa’, né? ‘Kabulosa’ surge como um corpo que existe vivendo”, completa.

Foi justamente por vir dessa região, que resistência é a palavra que define a existência de Vic Kabulosa.

Eu acredito que ser um artista da Zona Norte é muito mais do que a única coisa que eu sei fazer. É a condição de viver que eu tenho. É uma questão de resistir. Porque tenho que resistir num lugar onde não se movimenta, não se fomenta cultura, ou num espaço onde a gente não consegue se enxergar enquanto artista da periferia”, comenta.

Não que não exista cultura na região, o problema é que a invisibilidade que a classe artística enfrenta, sendo apagada e esquecida do restante da cidade. 

Existe muita gente boa que é da Zona Norte e por aquela questão cultural que a gente tem, a gente acaba sendo inviabilizado por muitas questões, sabe? Tipo do cachê ser quase o valor de um uber, sabe? Das contratações, das informações, dos espaços ocupados sempre chegarem primeiro pra quem está do outro lado”, completa a artista se referindo às oportunidades dada aos artistas do outro lado da ponte. 

Produzir arte potiguar da Zona Norte de qualidade é uma questão de resistir. Khrystal é daqui, também tem a galera do rap e tal. Tem muita gente boa aqui. Então, acho que o problema não é sobre o cenário, e sim sobre a forma que como nos veem. A forma que nos potencializam e nos permitem também. Porque por falta de permissão, a gente acaba não tendo acesso a muitas coisas que quem está do outro lado da ponta acessa de uma forma mais fluida”, completa. 

Vic Kabulosa é cantora e professora de música e expressão corporal. Foto: cedida

A maior dificuldade de todas é estar e sobreviver num ambiente onde não existem políticas públicas voltadas para corpos como o meu”, desabafa Kabulosa.

 A arte é o que mantém Vic viva. É da arte que ela impulsiona suas vivências e suas realidades. A professora é sozinha, depende exclusivamente de si para se manter e ainda precisa administrar a carreira, estudar e lutar para se manter viva, assim como a maioria dos pobres, pretos e moradores da periferia do Brasil. Ela é enfática ao explicar como é preciso ‘hackear’ o sistema para conseguir ter acesso a oportunidades para se manter viva. 

Segundo relatório divulgado pela Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), o Brasil foi pelo 14º ano seguido o país que mais matou pessoas trans no mundo. Em 2022, foram 131 pessoas trans mortas no Brasil. É esse sistema feito para matar que Vic Kabulosa e inúmeros corpos trans precisam hackear todos os dias. 

Então, a minha maior dificuldade é me manter viva mesmo. Me manter viva, saudável e alimentada, tá ligado? Ainda é o básico. O que afeta na minha carreira é, tipo, todos esses problemas pessoais de me manter viva, basicamente, sabe? E eu lido com isso com a arte. Ela vem fazendo você estar viva. A arte vem me mantendo sobrevivente. A arte, ela vai me mantendo impulsionada”, finaliza.

______________________________________________________________________________

Essa reportagem faz parte do projeto "Saiba Mais de perto", idealizado pela Agência SAIBA MAIS, e financiado com recursos do programa Acelerando Negócios Digitais, do ICFJ/Meta e apoio da Ajor.

Leia também:

Projeto Saiba Mais de Perto combate "desertos de notícias" no RN

Tibau: Estudantes participam da maior feira de ciências do mundo

Aldeia Sesc Seridó reúne artistas de Caicó em Cortejo Cultural

Comerciante morre em acidente por buraco na Zona Norte de Natal

Coletivos independentes movimentam a sétima arte em Mossoró

Seridó: Aos 93 anos, Maria Albino faz doces para acolher pessoas

Depois te Conto: jovens da Zona Norte criam série independente de humor

Caatinga:  famílias vivem da natureza no Parque Nacional da Furna Feia

CMEI na Zona Norte realiza exposição inspirada em Ariell Guerra

Currais Novos: Congresso das Batalhas reuniu artistas de Hip Hop

Maior produtor de atum do RN não leva pescado à mesa areia-branquense

Caicoense transformou a dor do luto em homenagem para 40 mulheres

Como resiste o afroempreendedorismo do outro lado da ponte

Medalhista mundial de Taekwondo conheceu esporte em associação de Assu

“No Seridó a Reza é Forte” destaca indígenas e africanos no RN

Zona Norte: projeto da UFRN leva comunicação para escola pública

Em Ouro Branco, a preservação do patrimônio coloriu a cidade

Fábrica de polpa de frutas transforma vida de mulheres agricultoras

As chuvas fortes em Natal e o caos na Zona Norte

Com 74 anos, Manoelzinho produz telas em latonagem e fotocorrosão

Patu: Cineatro leva reflexão social a estudantes de escolas públicas

Redinha: trabalhadores seguem desamparados após 3 meses de protestos

Jornal impresso “Quinzenal” resiste há 19 anos em Caicó

MPRN terá ação do projeto Pai Legal na Zona Norte

Saudade estimula artista a eternizar história de Upanema em quadros

Advogada levou o sertão poético de Caicó para Paris

Serra do Mel: rádio comunitária leva o bem à Vila Amazonas

DER responsabiliza prefeitura por acúmulo de areia na João Medeiros

Jurema Coletivo de Dança traz dança contemporânea para Caicó

“Fugi da prisão”: superação torna Chico Filho imortal em Martins

Trancistas: a valorização da cultura afro-brasileira na Zona Norte

Em São José, um guardião da história criou o Museu da cidade

Disputa política e judicial causa insegurança em Porto do Mangue

Natal sem Natal: Zona Norte reivindica eventos e decoração natalina

População faz mobilização pela volta de Cherie para Caicó

Tradição em Caraúbas: banda de música prepara festejos a São Sebastião

Cmei da Zona Norte prepara Natal Solidário das crianças

Ipueirense visita sítios e faz arte em madeira morta

Portalegre: Crianças quilombolas têm contato com ciência em pesquisa

Auto de Natal: espetáculo envolveu mais de 200 atores na Zona Norte

Dedicados à tecnologia, estudantes do IFRN são aprovados no INTELI

Em Areia Branca, minicidade vai levar crianças a exercitar a cidadania

Arte-Educador da Zona Norte levou arte com mosaicos para ExpoFavela

Projeto Trapiá Semente cria grupos de teatro pelo Seridó

Apodi: 1º museu indígena do RN preserva memória dos Tapuia Paiacus

Zona Norte: reforma da Ponte do Igapó piora trânsito e incomoda região

Seridó é guardião do Doce Seco, uma sobremesa quase extinta

Costa Branca: fogos na virada do ano serão sem ruídos

Lei Paulo Gustavo fomenta criação de documentários sobre o Seridó

Zona Norte: pontes interditadas geram insegurança à virada do ano

Adolescente de São José do Seridó é destaque do Unicef Brasil

Casa paroquial guarda história de Lampião em Marcelino Vieira

A resistência dos pequenos artistas da Zona Norte

Geógrafo de São João do Sabugi cria cartilha sobre o bioma da Caatinga

Mangue é cenário para restaurante em Grossos

Redinha: prefeitura promete Mercado para março; trabalhadores duvidam

Caicó e Acari conquistaram quatro prêmios do Troféu Cultura 2023

Patu ganhará Via Sacra com 33 esculturas de concreto

Grupo Reviver realiza mamografias na Zona Norte

Em Jucurutu, Recanto da Tapera tem afeto e história no prato

Mossoró: estudante surda lança livro após ganhar prêmios de ciências

Skatistas da Zona Norte devem ganhar espaço próprio para atividade

Esmeraldina e Priscila Candice: a missão pelos animais em Caicó

São João do Sabugi realiza “Zé Pereira” há mais de 100 anos

Em Umarizal, famílias aguardam sinal para substituir parabólica

Há 20 anos, Lar da Dona Fátima acolhe animais na Zona Norte

Em prol da comunidade, Dona Maria acolhe ações sociais em Caicó

Promessa tornou areia-branquense 1ª mulher condutora do Samu no RN

Artistas de Graffiti levam resistência e cor para Zona Norte

Acari e Ipueira tiveram alunos do IFRN com 1000 na redação do Enem

Segundo maior cajueiro do mundo pode estar em Grossos

2ª edição da Virada Cultural da Zona Norte acontece neste sábado (27)

Cemitérios históricos de São Fernando: preservação e tradições

Tibau: amantes do vinil unem música e praia neste veraneio

Há 36 anos, Banda do Siri resiste e fortalece o carnaval da Redinha

Quilombolas de Ipanguaçu fortalecem raízes pela dança e o audiovisual

Apoiar Saiba Mais

Pra quem deseja ajudar a fortalecer o debate público

QR Code

Ajude-nos a continuar produzindo jornalismo independente! Apoie com qualquer valor e faça parte dessa iniciativa.

Quero Apoiar

Este site utiliza cookies e solicita seus dados pessoais para melhorar sua experiência de navegação.