O que os pré-candidatos a prefeito propõem para o Centro de Natal
Natal, RN 16 de mai 2024

O que os pré-candidatos a prefeito propõem para o Centro de Natal

25 de fevereiro de 2024
11min
O que os pré-candidatos a prefeito propõem para o Centro de Natal
Visão da Praça Padre João Maria, Cidade Alta I Foto: Mirella Lopes

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Se a boemia e a intelectualidade cultural natalenses resistem firmes às implacáveis marcas do tempo no local, o mesmo não pode vangloriar-se o comércio do Centro Histórico da capital. A área atravessa uma crise, que chega a ser cíclica, de esvaziamento de prédios e de fechamento definitivo de magazines, lojas e outros estabelecimentos comerciais.

Obra em trecho da Praça Padre João Maria, Cidade Alta I Foto: Mirella Lopes

Desde 2002, a cena vem se repetindo e com frequências maiores. Uma das primeiras a baixar as portas e fechar os cadeados de vez foi a filial da rede varejista de modas C&A. À reboque, outras lojas de grande porte seguiram a infeliz trajetória logo depois, para citar apenas as instaladas na principal via da localidade, a avenida Rio Branco. Uma unidade das lojas Marisa, duas das Lojas Americanas, outra da Magazine Luíza. Todas deixaram a Cidade Alta nas páginas do passado. Mais recentemente, no início do mês, foi a vez da sapataria Di Santinni enfrentar o mesmo destino das anteriores.

Alguns comerciantes tradicionais relutam em sair do lugar, mas uma parte dos proprietários de outros tantos pontos comerciais, menores e menos conhecidos, já desistiu do lugar. A comprovação vem das inúmeras portas empoeiradas, que persistem em não subir. Ficam cerradas em pleno horário comercial.

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Praça Padre João Maria, Cidade Alta I Foto: Mirella Lopes

Os motivos que podem explicar a fuga do consumidor e preferência por outras regiões comerciais são inúmeros, como vagas para estacionamento, acesso a transporte público e segurança. Nesse contexto, a AGÊNCIA SAIBA MAIS procurou os pré-candidatos e partidos, que já afirmaram ter intenções de lançar candidatura ou desejar concorrer às eleições à Prefeitura do Natal em 2024, para saber o que eles pensam e planejam para o Centro da capital potiguar, confira:

PROPOSTAS PARA O CENTRO

Joanna Guerra ao lado de Álvaro Dias I Imagem: reprodução

Joanna Guerra

A atual Secretária municipal de Planejamento é a pré-candidata do atual prefeito de Natal, Álvaro Dias (Republicanos). Procurada pela Agência Saiba Mais, sua assessoria de imprensa não atendeu nossas chamadas nem respondeu as mensagens.

Natália Bonavides (PT)

Imagem: reprodução

O abandono do centro da cidade é mais um capítulo do abandono do nosso patrimônio histórico e do comércio popular. Esse espaço teve um momento de crise aguda durante a pandemia, mas ela persiste pela escolha do poder público de lavar as mãos para a crise do comércio da cidade e do espaço do centro. É preciso que exista a decisão política de dar a devida importância aos bairros que compõem o centro da Cidade, como Cidade Alta e Alecrim, e tudo isso deve ser feito com a mais ampla participação da população de Natal. Até porque qualquer crise nesses setores, que é um dos aspectos da questão do centro de Natal, tem o potencial de reverberar sobre todas as áreas da cidade, considerando que o comércio e os serviços são os setores mais importantes para a economia natalense e representam a segunda posição no número de empregos. Por isso, é fundamental que uma prefeitura dedicada a resolver essa questão tenha as seguintes diretrizes: a) adotar políticas que potencializem as medidas adotadas pelo governo federal de garantia de emprego e renda das trabalhadoras e dos trabalhadores de Natal, para garantir capacidade de consumo;

b) colocar no centro das preocupações da gestão municipal a solução do problema de mobilidade da cidade;

c) criar políticas de convivência pela cidade;

d) aproveitar a vocação cultural e gastronômica do centro da cidade. Essas diretrizes se desdobram nas seguintes ações ou programas:

1) Reestruturar o sistema de transporte público da cidade, recriando linhas que foram extintas e, principalmente, regularizando o setor por meio da licitação que nunca foi feita;

2) Uso de instrumentos urbanísticos previstos no Estatuto da Cidade para reverter a situação de esvaziamento para estruturar os espaços e construir moradias populares para aproveitar o potencial dos bairros para a habitação popular;

3) Política de incentivo ao turismo histórico da cidade, criando, por exemplo, um programa de passeio pelo centro com guias locais;

4) Criar equipamentos culturais aos moldes  CEU de São Paulo, CUCA ou Dragão do mar, ambos de Fortaleza em vários bairros da cidade, inclusive no Centro;

5) Disponibilização de conexão de internet em alguns espaços públicos da cidade;

6) Promover uma política de iluminação de ruas e praças para além do período natalino;

7) Criação de um calendário semanal de feiras na cidade ao modelo de “Feiras hippies”, inclusive no centro;

8) Promoção e incentivo de festivais e eventos similares com certa periodicidade ao redor da cidade;

9) Criar ou estruturar praças para que elas se tornem um espaço de convivência das pessoas, com espaço para fornecimento de água potável, banheiros, etc.

O povo natalense tem a tradição de frequentar o centro, de consumir no centro, de festejar no centro, e isso foi se perdendo nos últimos anos em decorrência do descaso. Se houver de fato uma política pública que pense o Centro para o povo ocupar e socializar, nós iremos resolver esses problemas de abandono.

Paulinho Freire

Imagem: reprodução

O abandono que hoje testemunhamos na Cidade Alta não é um fenômeno aleatório, mas sim uma consequência direta do plano diretor anterior, que infelizmente contribuiu para a expulsão de cerca de 60 mil natalenses da nossa capital, conforme dados do IBGE. Durante meu mandato como parlamentar na Câmara Municipal, empenhei-me ativamente na promoção do desenvolvimento dessa região, especialmente por meio da articulação para um novo plano diretor para Natal.

Acredito firmemente que, se eleito prefeito, estarei em uma posição ainda mais forte para implementar políticas eficazes que tragam incentivos fiscais e adensem a região. Meu objetivo é fomentar o desenvolvimento natural pela ocupação de comerciantes e moradores, revitalizando a Cidade Alta e restaurando seu vigor e relevância para a vida da nossa cidade”.

Psol

O partido ainda não definiu a chapa que vai concorrer à Prefeitura do Natal, mas planeja começar as discussões a esse respeito a partir de março.

Parte [do abandono do Centro] tem a ver com o monopólio de galerias comerciais, como shoppings, que concentram tudo num só lugar. Isso acabou esvaziando os centros de diversas cidades. Outro problema é a especulação imobiliária, ou seja, os trabalhadores são cada vez mais empurrados para longe do centro e dos seus locais de trabalho, produzindo espaços com baixa densidade demográfica. E como parte dessa cadeia, cujo resultado é destruir geração de emprego e renda, a desigualdade social e a violência aumentam, como infelizmente vemos na Cidade Alta e na Ribeira. Uma das propostas para enfrentar esse problema, além das que citei, tem a ver com a construção de habitação popular nos grandes centros. Nesse momento, por exemplo, dezenas de famílias organizadas pelo MLB, na ocupação Emmanuel Bezerra, estão ocupando um terreno em Petrópolis sem função social há mais de 15 anos.

Nós defendemos que haja uma gestão integrada do patrimônio cultural como parte da requalificação do centro histórico. A Cidade Alta e a Ribeira constituem nossa memória social, integram nosso patrimônio cultural. Todo e qualquer projeto de requalificação precisa, portanto, ter isto em conta. E como não há previsão sem provisão, além da gestão integrada do patrimônio cultural, é preciso defender mais investimentos em infraestrutura, cultura, educação, fomento a economia solidária, como parte da requalificação do centro histórico. No final do ano passado, Álvaro Dias reduziu o orçamento da cultura de 1,5% para 1%. Já para as verbas de publicidade destinou 16 milhões de reais. Isso revela o completo abandono e descompromisso dessa gestão com o patrimônio cultural e com o centro histórico da nossa cidade. Ao falarmos de requalificação do centro histórico de Natal, precisamos enfrentar o problema da mobilidade urbana e do direito à cidade. Nós moramos numa cidade cuja passagem custa R$4,50 (mais um presente de Álvaro Dias, que sancionou o reajuste), que teve 18 linhas extintas desde a pandemia, que não há ônibus depois das 22h, aos finais de semana, além de milhares de outros problemas. Só é possível requalificar o centro havendo mobilidade urbana, garantido o direito das pessoas, de todas elas, terem acesso à cidade. Essas propostas delirantes produzidas por Inteligência Artificial de uma Ribeira com boutiques, bistrôs, restaurantes de alto padrão, aumentam ainda mais o fosso da desigualdade e a distância das pessoas dos seus direitos”.

Situação atual

Praça Padre João Maria, Cidade Alta I Foto: Mirella Lopes

Na tentativa de apresentar alguma resposta para a questão, a Prefeitura do Natal iniciou um projeto de requalificação da Rua João Pessoa com um trecho do calçadão coberto por caramanchões e exclusivo para pedestres. As obras, que se arrastam desde março de 2023 sem muitos avanços, tem se tornado uma dor de cabeça para os pequenos comerciantes da região.

O projeto também prevê a revitalização da Praça Padre João Maria, com a criação de um espaço lúdico de descanso e de brincadeira para crianças na região. A obra é monitorada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), que tem a prerrogativa de preservar bens tombados. No caso da Rua João Pessoa, a área tombada vai da Praça Padre João Maria até a antiga catedral, que fica ao lado.

Praça Padre João Maria, Cidade Alta I Foto: Mirella Lopes

Buscamos uma visão integrada e os prazos dependem da natureza do serviço. É um trabalho complexo, a STTU [Secretaria de Mobilidade Urbana] entrou com o projeto e a Semsur [Secretaria Municipal de Serviços Urbanos] com o pedido para embutir a fiação, mas os dois fazem parte do mesmo projeto, estão relacionados. Essa é uma área sensível, onde a cidade nasceu”, detalha José Clewton, Superintendente do Iphan no RN. Por enquanto, não há prazo para a conclusão do serviço.

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