Maior produtor de atum do RN não leva pescado à mesa areia-branquense
Natal, RN 8 de mai 2024

Maior produtor de atum do RN não leva pescado à mesa areia-branquense

21 de novembro de 2023
5min
Maior produtor de atum do RN não leva pescado à mesa areia-branquense
Foto: cedida

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No restaurante de Ranielle Lima, o cardápio tem, entre outros, camarão, yakisoba, salmão, picanha, porco, cordeiro, carne, risoto de frango, de carne de sol e de camarão. Tem ainda um outro item que ele fez questão de incluir, o atum.  Na terra do comedor de camarão, onde a produção do crustáceo é pioneira no Rio Grande do Norte, o atum tem sido destaque e movimentado a economia, o turismo, o lado social e cultural de uma população. Pelo menos no município litorâneo de Areia Branca, na região Oeste do Estado, a 282 quilômetros de Natal.

O potiguar areia-branquense tem encontrado na pesca do atum notoriedade, inclusive internacional. Tanto é que o município recebeu, em 2019, da Assembleia Legislativa do RN, o título de Capital Estadual do Atum.

O atum é a chave mestra da nossa cidade. Por que não pode vender um produto que você tem em abundância, que valoriza sua cidade? O atum gera emprego, gera renda, é um peixe maravilhoso para consumo”, resume o dono de restaurante.

O Brasil entrou para valer na pesca comercial do Atum há pouco mais de uma década e produz hoje, oficialmente, cerca de 50 mil toneladas que movimentam mais de US$ 270 milhões em exportações por ano. O Nordeste responde por 60% desta produção e o Rio Grande do Norte por 70% da produção da região e 85% das exportações nacionais.

Desta produção, 72% do atum produzido no RN vem de Areia Branca. Em 63 embarcações legalizadas, são pescadas em média 15 toneladas do peixe de carne vermelha. Destas, de três a quatro toneladas são exportadas para o Japão, Inglaterra e Estados Unidos.

A pesca do atum chegou à cidade de menos de 28 mil habitantes, há cerca de dez anos, não por acaso. Ali fica o ponto ideal de captura e distribuição no estado, segundo a prefeitura de Areia Branca, por razões que vão da cultura de pesca até a proximidade das áreas de cardumes. Para se ter ideia, um barco que sai de Areia Branca alcança esses locais com até 200 milhas de viagem, enquanto outros países viajam mais de 2.000 milhas.

Hoje, a atividade tem uma rede geradora de cerca quatro mil empregos direta e indiretamente. Só pescadores, são cerca de sete em cada uma das 63 embarcações. Segundo o diretor de pesca do município, Wilson Justiniano, a pesca do atum tem mudado a perspectiva de vida de muitos deles, que não possuíam antes ocupação ou meio de vida.

No entanto, toda essa relevância não reflete a cultura do areia-branquense na convivência com o produto na sua cozinha e no seu dia a dia. Ranielli explica que o turista é quem mais valoriza o peixe em seu restaurante, em detrimento da população local.

Por isso, poucos, ou quase nenhum, são os restaurantes que incluem o pescado no cardápio. Como o turismo na cidade é médio, não é ativo, às vezes Ranielli perde parte do peixe em estoque no seu negócio. Mesmo assim, ele insiste em manter diversos modos de preparo à disposição dos clientes.

“Você pode comer cru, no sushi, ou cozido, defumado. O segredo é o preparo, muita gente não sabe preparar e as pessoas dizem que não gostam, mas é uma cultura que precisa ser criada, porque o atum é um peixe valorizado em outros lugares, saboroso, com muita proteína”, defende.

Festival do atum

É justamente com a intenção de incorporar a cultura do consumo do atum também dentro de casa que o poder público municipal passou a tratar a pesca do atum como uma atividade estruturante do município e do estado.

Um dos incentivos é a realização do Festival do Atum de Areia Branca. O evento teve a quarta edição em 2023 e desafia restaurantes participantes a servir pratos e iguarias a base do atum num corredor gastronômico. Com degustação gratuita, praça de alimentação e programação cultural com artistas regionais e nacionais, o evento entra no calendário da cidade como um dos principais para o turismo e economia do estado.

Ranielle, conhecido no Festival pelo famoso atum defumado no fogo de chão, dá a dimensão do evento para ele e para a cadeia em torno do pescado: “O Festival do Atum abriu muitas portas para quem não conhece o atum de Areia Branca. Para servir meia tonelada de atum em três dias somente no meu estande, você pode ter a ideia de como é bom”.

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Essa reportagem faz parte do projeto "Saiba Mais de perto", idealizado pela Agência SAIBA MAIS, e financiado com recursos do programa Acelerando Negócios Digitais, do ICFJ/Meta e apoio da Ajor.

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