Mulheres ocupam ruas do centro de Natal em marcha pelo 8 de Março
Natal, RN 14 de mai 2024

Mulheres ocupam ruas do centro de Natal em marcha pelo 8 de Março

8 de março de 2024
11min
Mulheres ocupam ruas do centro de Natal em marcha pelo 8 de Março
Mulheres ocupam ruas do centro de Natal no 8 de Março - momento da caminhada pela Rua Ulisses Caldas I Fotos: Mirella Lopes

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As ruas do centro de Natal receberam na tarde desta sexta, 8 de Março, centenas de mulheres que partiram da Avenida Rio Branco bradando pelo básico: respeito, igualdade salarial, acesso à saúde - o que inclui o direito ao aborto legal - educação, cultura, pelo fim da violência contra a mulher, das guerras e em solidariedade ao povo palestino.

“Nós mulheres estamos sempre à frente de todas as lutas... e isso é um peso enorme. O patriarcado nos coloca nessa posição, nunca fugimos da luta e não será agora que isso vai acontecer, ninguém solta a mão de ninguém, independente do mote, partido ou organização”, conta Tázia Maia, que integra o Sindicato dos Estadual dos Trabalhadores em Educação no Ensino Superior (Sintest/RN).

Tázia, à direita

Diferente de outras datas festivas, o 8 de Março não foi criado pelo comércio e mais do que homenagens, é uma data para lembrar da luta de mulheres que enfrentavam jornadas exaustivas nas fábricas durante o século XX, período da Revolução Industrial.

Assim como em Natal, manifestações são realizadas em todo o mundo para lembrar da luta das mulheres, em seus mais diversos contextos. Tázia, por exemplo, tem 65 anos e é servidora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Ela conta que casou cedo e só depois dos 50 anos, começou a se dedicar à luta política.

Casei muito nova, tive filho muito nova e já avó, com 50 anos, é que eu decidi entrar na luta, olhando pelo olhar da minha neta. As dificuldades da mulher são muitas, principalmente, das nossas companheiras negras e periféricas, que sofrem mais e vivem nesse submundo onde as políticas sociais não chegam. A gente quer muito mais, espera muito mais e luta por muito mais”, reforça Tázia.

Na manifestação em Natal, nós também encontramos Ellen, que tem 18 anos e um filho de 9 meses. Ela mora em uma ocupação do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB), não conseguiu terminar a 8ª série, mas já está com tudo certo para retomar os estudos.

Ellen, com o filho de 9 meses

Eu e meu esposo pagávamos R$ 400 de aluguel no Planalto, estava muito apertado pra gente. Descobrimos a Ocupação e fomos para lá. Planejo me formar e, se Deus quiser, ganhar minha casa”, conta Ellen Bernardo da Silva.

Depois de morar num barraco no Guarapes, Bruna também se uniu ao movimento de luta pela casa própria.

“Isso já faz 15 anos. É muito importante cada um deles porque a gente se ajuda, é como se fosse uma família”, revela Bruna Silva, que sempre trabalhou como autônoma e nunca teve a carteira assinada, ao lado da filha, uma das mais empolgadas na concentração da caminhada.

Bruna, ao lado da filha

Paramentada com roupa refletora, luvas e capacete, Débora participou da manifestação d hoje para lembrar, também, do direito dos ciclistas no trânsito. Ela usa a bicicleta como meio de transporte diário e pedala 17 quilômetros, de segunda a sexta, para sair de casa, em São Gonçalo do Amarante, e chegar ao trabalho, na Cidade Alta.

“Como na pandemia não podíamos fazer exercícios, comecei e pedalar e até hoje vou para todos os lugares, já fiz até 160 quilômetros em um dia. Natal tem um descaso total, falta mobilidade para os ciclistas, são poucos os locais com ciclovia onde podemos pedalar com segurança, inclusive na Ponte Velha, que é um dos lugares mais difíceis desde a reforma”, relata Débora dos Santos, secretária.

Débora dos Santos

Cada mulher lembrou de causas diferentes que são, também, questões coletivas, como a Ditadura Militar.

“Estou fazendo uma brigada de vendas do jornal Verdade, onde temos denunciado a organização fascista hoje no nosso país, que não deixou de acontecer mesmo depois de um governo progressista, ainda continua, não foi superado desde a Ditadura Militar e das várias ditaduras que temos passado. Os mortos e desaparecidos da ditadura, inclusive tenho familiares vítimas desse processo, que ainda não obtiveram justiça. É preciso punir os fascistas e torturados de hoje e de ontem... essa é uma luta muitas vezes esquecida e falar disso no 8 de Março, dia de lula das mulheres, é preciso porque foram as mães, companheiras de diversos militantes que tiveram que travar a luta para achar os corpos de seus maridos, filhos e colegas. O fascismo representa uma ameaça à vida das mulheres, seja em período de repressão ou no dia a dia”, avalia Ana Beatriz Sá, estudante.

Ana Beatriz Sá, com o jornal na mão

Também teve quem estivesse na marcha para agradecer e contribuir com a luta coletiva

Vim visitar um irmão aqui em Natal há 25 anos e voltei com a cara, coragem, dois filhos e um marido passando fome. Eu e meu marido trabalhávamos fazendo comida, em troco de comida, por isso sou tão grata a todos aqui pelo acolhimento, pelas oportunidades. Depois disso minha árvore genealógica mudou totalmente, meu filho foi morar em Portugal, minha filha casou com um nordestino e tenho duas netas potiguares, eu que mal tinha viajado agora conheço o mundo quase inteiro. Hoje temos um trabalho solidário maravilhoso, quero até mandar um beijo para minha comunidade em Ponta Negra, que se tornou minha família. Temos passado por dias difíceis, que possamos mais acolher do que julgar, entender que somos todos iguais e que Deus nos abençoe grandemente... que sejamos felizes todos os dias”, agradece Adriana Paschoalino.

Adriana Paschoalino

Bem humoradas, um grupo de pescadoras de Galinhos trouxe até a vara.

Somos pescadoras, mulheres das águas e hoje viemos para as ruas pescar nossos direitos. Sem a participação das mulheres o Brasil perde, e nós também”, brincou Rosângela Silva.

Pescadoras de Galinhos

Liberdade sem julgamento

O ato na capital potiguar contou com diversos movimentos sociais e categorias profissionais, como a das professoras.

São anos de luta por igualdade de direitos entre homens e mulheres, mas ainda temos uma sociedade machista, misógina e preconceituosa. Muitas pessoas, incrivelmente, pessoas ainda veem a mulher como objeto, como uma coisa que não tivesse capacidade de pensar e agir por si própria. Ainda há relacionamentos nos quais o homem acha que pode determinar o que a companheira deve ou não fazer, aonde pode ou não ir. Hoje é um dia para reafirmar essa luta de anos de muitas mulheres que, inclusive, deram a vida para que hoje nós pudéssemos fazer tantas coisas que não permitiam no passado. Esse é um dia para reafirmar nosso direito de sermos quem somos, sem ninguém para nos julgar ou desrespeitar”, concluiu Telma Farias, que é professora e incorpora essa lógica na vida profissional e profissional, em sala de aula.

A professora Telma Farias, na marca do 8 de Março

Aborto

Estamos na rua para garantir que as mulheres tenham autonomia sobre o próprio corpo, pelo direito de decidir pelo aborto legal e seguro no SUS. Estamos cansadas de servir de moeda de troca, de barganha na política brasileira, onde os primeiros direitos a serem retirados são sempre das mulheres. Hoje, três situações de aborto legal no Brasil estão ameaçadas, estamos aqui para garantir esse direito e avançar ainda mais”, declara a arquiteta Cláudia Gazola, se referindo às ameaças geradas pelo avanço da bancada conservadora no Congresso Nacional.

Cláudia Gazola, última à direita

Atualmente, há três tipos de abortos permitidos no Brasil: nos casos de risco de vida para a gestante, nos casos de gravidez por estupro e nos casos de fetos com anencefalia (sem cérebro). Esta semana, a França legalizou o aborto, mas no Brasil, a mulher pode ser condenada a uma pena de até três anos de prisão de realizar um aborto ilegal.

Mulheres trans

Mulher trans, Liz Marie cursa Comércio Exterior no Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN) e fez questão de participar da na manifestação com as amigas. A jovem, que é PcD (Pessoa com Deficiência) autista, criticou o elitismo do espaço acadêmico pouco acostumado à pluralidade dos corpos. Confira o comentário:

Essa reportagem faz parte do projeto “Ser Mana, Mulher", idealizado pela Agência SAIBA MAIS para produção de pautas dedicadas a temas que impactam diretamente a vida das mulheres, ao tempo que contamos as histórias de Mulheres.

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