As chuvas fortes em Natal e o caos na Zona Norte
Natal é uma cidade que definitivamente não aguenta chuva. Especialmente a Zona Norte, que sempre é negligenciada em diversas situações e agora não é diferente. Em 24h choveu mais de 240 milímetros na capital potiguar, número atípico para novembro, que de acordo com a secretária municipal de Planejamento (Sempla), Joanna Guerra, estava previsto chover 22 milímetros em todo o mês.
As precipitações atingiram toda cidade do Natal, entretanto, bairros, casas e estabelecimentos foram os principais impactados com os transtornos causados pelas chuvas. Houve alagamentos, crateras e pessoas que perderam tudo nos bairros de Potengi, Lagoa Azul, Igapó, Nossa Senhora da Apresentação, Pajuçara e Redinha.
A começar pela minha casa, que por volta das 22h da última segunda-feira (27) foi invadida por água que não tinha para onde escorrer. Além da minha família, moradores da Avenida Cidade Praia, no bairro Lagoa Azul, tiveram suas residências afetadas. Algumas chegaram a perder tudo que tinham, como aconteceu com Hedycarla Santos, que foi impactada pela segunda vez em dois anos. A situação ainda foi pior no Loteamento José Sarney, onde a lagoa de captação transbordou, como é costume acontecer, e inúmeras residências foram completamente alagadas.
Essas pessoas não perdem só a casa, os móveis e o sossego. Elas perdem a qualidade e dignidade de vida. Perdem o direito à moradia, casa, água, saúde, saneamento básico, lazer, transporte e alimentação.
Dougras Martins, humorista e digital influencer que criou a web serie “Depois te conto”, teve sua casa, no José Sarney, completamente alagada. Nas redes sociais, o jovem denuncia com humor a situação para mostrar sua indignação. O humorista está arrecadando doações para as famílias mais atingidas através de suas redes sociais, @dougrasmartins.
“É o meu jeito de demonstrar minha indignação com a situação. Tinha uma obra aqui no Sarney que era pra ter sido feita em 2008. Até hoje eu tenho trauma de dormir quando chove porque essa não é a primeira vez que isso acontece”, desabafou.
Outra lagoa de captação que transbordou foi a do Conjunto Santarém, perto da Pompéia e Potengi. Por causa disso, a água na Avenida Itapetinga chegou a subir mais de 2m de altura. Inúmeras famílias perderam tudo que tinham dentro de casa e ficaram ilhadas com água até o pescoço. Como aconteceu com a família de Daniel Silva, que teve a casa da avó e tia completamente inundada. “A água subiu tão alto que até o que estava trepado não adiantou”, disse.
Até o momento, 57 pessoas desabrigadas estão sendo acolhidas na Escola Estadual Adelino Dantas, no Potengi, incluindo adultos, idosos, adolescentes, crianças e animais. A Secretaria Municipal de Trabalho e Assistência Social (Semtas) providenciou a entrega de colchões, lençóis, kits de higiene e limpeza para todos. Além disso, a população e os funcionários da escola estão arrecadando doações e mantimentos destinados a essas famílias. A campanha pede doações de alimentos, roupas, produtos de higiene e outros itens essenciais que podem ser entregues na escola que fica na Rua Bragantina.
Outras lagoas de captação que transbordaram foram a do Pajuçara e Panatis, onde moradores perderam móveis, eletrodomésticos, documentos e tiveram partes das casas destruídas, como aconteceu com a casa que não aguentou a pressão da água e caiu na Rua Paraíso das Flores, no Pajuçara.
Mais crateras e alagamentos
A lista de bairros, conjuntos e regiões afetadas pelas fortes chuvas são extensas. Moradores da Redinha chegaram a publicar vídeos nas redes sociais usando redes de pescas para pegar peixes.
A água também inundou e deixou crateras enormes nos Conjuntos Jardim Progresso, Vale Dourado, Soledade II e Parque das Dunas. Além de trechos da Avenida João Medeiros Filho, a estrada da Redinha, e o bairro do Igapó, que registrou diversos pontos de enchentes, incluindo a Rua Nossa Senhora do Ó, onde a obra do local está parada há meses.
São inúmeras perdas irreparáveis que acontecem com frequência e que constantemente são negligenciadas pelo poder público. A começar pelas obras de drenagem e saneamento básico, que a princípio, poderiam suprir algumas necessidades e evitar tragédias como essa. Os moradores, lamentam, brincam, se solidarizam como podem, reconstroem e seguem resistindo a cada situação que enfrentam.
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Essa reportagem faz parte do projeto "Saiba Mais de perto", idealizado pela Agência SAIBA MAIS, e financiado com recursos do programa Acelerando Negócios Digitais, do ICFJ/Meta e apoio da Ajor.
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