Portalegre: Crianças quilombolas têm contato com ciência em pesquisa
“Nestas comunidades não tem escola e estas crianças não têm acesso a materiais didáticos pedagógicos que tragam a sua representatividade, uma vez que ocorre um apagamento da memória histórica de mulheres negras e homens negros na Ciência. Quantos cientistas negros e negras essas crianças encontram nos livros? Em oposição, surge a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira, apontando a questão étnico-racial como fundamental na educação básica. Como resolver esse impasse? Será́ que é possível, através da história da ciência, resgatar a importância dos cientistas negros e negras dentro do ensino de Ciências?”
Esse é o questionamento do professor Francisco Souto, do Departamento de Ciências Humanas, da Universidade Federal Rural do Semiárido (Ufersa), docente do Programa de Pós-Graduação em Cognição, Tecnologias e Instituições (PPGCTI), sobre as crianças quilombolas da cidade de Portalegre.
A questão o levou a elaborar o projeto “Divulgação científica no quilombo: crianças como indicadores da representatividade negra da ciência e dos cientistas”, que está entre os 12 contemplados da Universidade, na relação do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) no seu edital de apoio à pesquisa no Brasil.
Em um ano, o trabalho deverá desenvolver uma interação com as crianças das comunidades do Pêga e Arrojado, proporcionando um espaço para que elas se reconheçam em pesquisadores e pesquisadoras negras que tem contribuído de forma significativa para a produção do conhecimento científico no Brasil e no mundo.
“O Brasil enfrenta problemas significativos relacionados à valorização da intelectualidade negra. Acredito ser uma possibilidade de apresentar soluções para os desafios nacionais, de inclusão social e melhoria da qualidade de vida de uma população historicamente esquecida”, contextualiza.
A proposta será realizada de forma lúdica, através de desenhos, pinturas, contação de histórias, leituras de livros literários escritos por cientistas negros, com conteúdo que apresenta a importância da intelectualidade negra para o ensino de ciências, manipulando vidrarias e equipamentos adaptados para crianças em um laboratório simulado de ciências e através de apresentação de espetáculos teatrais e de danças africanas.
A pesquisa será executada por professores e estudantes da Licenciatura em Educação do Campo e do mestrado em Cognição Tecnologia e Instituições que compõe o Núcleo de Divulgação Científica Baobá, da UFERSA.
“O projeto terá oito etapas, sendo a primeira basilar para as demais, uma vez que, está irá identificar qual a percepção que as crianças com faixa etária entre 5 e 10 anos, tem dos cientistas e da ciência em seu imaginário”, explica o professor.
Para ser realizada, a pesquisa receberá um aporte de R$ 103.680,00 para o seu desenvolvimento. O edital do CNPq tem como objetivo apoiar projetos que contribuam para o desenvolvimento científico e tecnológico e de inovação em qualquer área do conhecimento.
Quilombos
Quilombolas são os descendentes e remanescentes de comunidades formadas por escravizados fugitivos, entre o século XVI e o ano de 1888, quando houve a abolição da escravatura, no Brasil. A palavra quilombo origina-se do termo kilombo, presente no idioma dos povos Bantu, originários de Angola, e significa local de pouso ou acampamento. Quilombola é a pessoa que habita o quilombo.
Atualmente, as comunidades quilombolas estão presentes em todo o território brasileiro, e nelas se encontra uma rica cultura, baseada na ancestralidade negra, indígena e branca. No entanto, os quilombolas sofrem com a dificuldade no acesso à saúde e à educação.
Em Portalegre, município de quase 8 mil habitantes, na região do Alto Oeste Potiguar, distante 372 quilômetros de Natal, é onde existe a maior concentração de comunidades tradicionais remanescentes de quilombos no Rio Grande do Norte, em relação à população, segundo o IBGE, com dados do Censo 2022. Dos 7601 habitantes da cidade, 1399 são quilombolas, representando 18,41% da população.
Lá, existem as comunidades dos sítios Pêga, Arrojado/Engenho Novo, Lajes e Sobrado.
No Estado, há 22.384 quilombolas espalhados por 53 cidades do Estado. 84% dessas pessoas vivem fora de territórios quilombolas oficialmente delimitados, e apenas 16% vivem em territórios delimitados.
Ainda segundo o Censo 2022, a cidade que tem o maior número de quilombolas é Ceará-Mirim, com 2.071, seguida de Macaíba, com 1459. Já as cidades de Bodó, Pureza e Georgino Avelino, registraram apenas uma pessoa quilombola.
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Essa reportagem faz parte do projeto "Saiba Mais de perto", idealizado pela Agência SAIBA MAIS, e financiado com recursos do programa Acelerando Negócios Digitais, do ICFJ/Meta e apoio da Ajor.
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